<< O Exorcista >>, há seis meses o livro mais vendido no Brasil, revelou um novo a fantástico romancista americano, transformando-se rapidamente no livro do ano. A glória, porém, não foi fácil para William Peter Blatty. Antes da consagração como autor do romance de terror mais comentado e discutido dos últimos tempos, ele assinou varions roteiros para comédias estreladas por Danny Kaye, Gregory Peck, Shirley MacLaine, Peter Sellers (quem se lembrou de observar seu nome como roteirista de << Um Tiro no Escuro >>, ao lado de Black Edwards) e teve um passado atribulado por misérias e aventuras. Chegando do Libano como imigrante, já com três filhos, os pais tiveram que aguardar ao largo do porto de Nova Iorque, em 1920 e poucos, o fim da quarentena imposta pelo departamento de saúde. Mas como ele mesmo diz logo nas primeiras linhas de << Direi que lembro de você >> (Editora Nova Fronteira, 74) seu livro de memórias, << esta obra não é triste, e um livro alegre >> e o que tem de tristezas << é falso >>. Na verdade trata-se de uma confissão de amor, de um documento cheio de admiração pela figura de Mrs. Blatty, a mulher que se viu abandonada em Manhattan com cinco filhos para sustentar e foi obrigada a recorrer aos expedientes mais estranhos para sobreviver à crise econômica da década de trinta. Tudo isso está contado com graça, muito senso de humor numa série de incidentes cada qual mais pitoresco, preparando o terreno para o emocionante clímax dos últimos capítulos, quando o leitor atento d`<< O Exorcista >> poderá então compreender as origens do remorso do padre Karras em relação a mãe morta, a explicação dos esforços para estabelecer contato com a vida de além-túmulo e as manisfestações sobrenaturais testemunhadas por alguém que luta para não sucumbir ao primeiro impulso de entusiasmo ante a descoberta >>.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Livro

Página: 1

Data: 21/03/1974