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Aramis

Liqüidificador afro-sonorizado na Bahia

Se as marchinhas e sambas criados para o Carnaval - e que refletiam sociologicamente os fatos, homens e acontecimentos políticos, sociais e comportamentais de cada ano - desapareceram e os sambas-de-enredo se constituem hoje na grande força musical do Carnaval carioca, a Bahia soube, astutamente, internacionalizar seus ritmos afro-brasileiros e produzir uma música que mesmo tendo no Carnaval a maior motivação, se mantém por todo o ano. Enquanto o frevo, que comporta tanta literatura (como o incansável Leonardo Dantas Silva vem fazendo há anos) apesar de seu ritmo e comunicação, ficou restrito a Pernambuco e estados vizinhos, os baianos, com sua geléia geral de influências afro-caribenhas-jamaicanas, tem hoje um mercado imenso. A cada ano são dezenas de grupos e intérpretes que aparecem com força, desde os nomes mais populares destes últimos anos - Luís Caldas, Gerônimo, a banda Olodum - até artistas que ainda estão em âmbito estadual. Assim, enquanto a Continental - que tem sabido explorar os ritmos baianos - lançou em janeiro o quarto elepê do Olodum em Salvador ("Da Atlântida a Bahia... O Mar é o Caminho"), a Polygram tem como um de seus pontos de venda neste início de ano o novo elepê de Luís Caldas ("Nós"), que com seu "Fricote" se tornou um superstar dos ritmos da Boa Terra na década de 80. Explorando maliciosamente as potencialidades das letras de seu parceiro Ubirajara Carvalho ("O que essa Nêga Quer?"), buscando versões de regtimes como "Three Little Birds" ("Tenho o Ouro") de Bob Marley ou "Year of the Cat" (traduzido para "É o que a Gente Quer") de Al Stewart, Caldas é ágil e esperto em seu repertório. As suas composições - seja as que faz sozinho ("Tudo em seu Sorriso É como um Aviso para Mim", "Minha Presença", "Não Dá") ou com parceiros - transmitem uma sensualidade e ritmo dançante e assimilável por aquelas milhares de pessoas que obedecem a receita do velho Caetano: samba, suor e cerveja. Por isto, Caldas não tem com o que se preocupar: com "Nós", mais uma vez emplaca boas vendas e vê suas músicas bem divulgadas nas emissoras de rádio e televisão da Bahia - que por um inteligente marketing interno, prestigiam 80% dos artistas da terra - mesmo daqueles que, esteticamente, poderiam merecer restrições. Enquanto o Olodum em 11 anos de existência se firmou como o grupo baiano de influência reggae mais vigoroso - merecendo inclusive promoção internacional (Paul Simon, em seu recente elepê "The Rhythms os the Saints", WEA, o chamou para a faixa "The Obvious Child"), outros conjuntos também estão se exibindo no mercado musical baiano. É o caso do Cheiro do Amor, que numa produção de Myrton Bahia e Paulo Demétio, da Polygram, chegam ao seu quarto elepê: "Suingue". O repertório é repleto de ritmos dançantes e ecléticos, na fusão de lambada, fricote, deboche, chote, frevo, forró, com a latinidade da salsa, merengue e, naturalmente, muito reggae. Uma liquidação sonora que agrada especialmente no eletrificado Carnaval de Salvador. O grupo Cheiro de Amor mantém sua formação original: Zé Henrique (teclados), Marinho (baixo), Vicente Santana (guitarra), Lalo (bateria) e Zuca (percussão). Anteriormente o grupo - criado em 1987 - chamava-se "Pimenta do Cheiro", título de seu elepê de estréia (1988). Os maiores sucessos da banda foram "Jeito de Corpo", "Auê" e "Festa Cigana". Agora, neste "Suingue", o Cheiro de Amor ataca com petardos que vão desde o "Carnavalito" e "Vendaval" até o curioso "Cheiro de Amor no Ar", passando por "Espelho Meu", "Rock Axé", "Mole Mole" e "Rebole e Bole" - cujos títulos já definem a filosofia: um som para os pés, não para a cabeça.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
10/02/1991

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