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Aramis

Lima, bicho de Palmas, canta pelo mundo afora

A primeira impressão é de que se trata de um artista gaúcho, da região missioneira: lenço na cabeça, olhar bravio de um índio dos pampas. A imagem soma-se ao estilo das canções que falam dos grandes temas dos autores nativistas: a prenda que trocou o guapo amor iludida pelo conquistador da cidade, a paixão que permanece ("Passarela da Vida") ou a comunicabilidade irônica no estilo vanerão ("A Turma do Chera Chera"). Entretanto, estamos defronte a um legítimo "Bicho do Paraná", exatamente de Palmas - município que sempre sofreu grande influência gauchesca: Pedro Lima, 48 anos a serem completados no próximo dia 22 de fevereiro, tem feito suas andanças pelo mundo. Entre julho/agosto do ano passado, "apenas com meu violão e minhas canções", percorreu mais de dez cidades na Espanha, Portugal e Itália. - "Deu para fazer shows, faturar em dólares e abrir um espaço". Irmão de Eron Vianna, Pedro Lima sem deixar de interpretar as composições do mano, tem procurado um estilo mais sulino em suas músicas. Assim, enquanto Eron, radicado há 10 anos em Pernambuco, vem se integrando à música pernambucana, Pedro Lima dá um toque de vanerão em suas composições, mesmo quando a parceria é com Eron. "Flor de Vagabundo", por exemplo, é uma exaltação ao trabalho - tipo da mensagem que Lourival Fontes adoraria ouvir nos anos do Estado Novo, quando a exaltação da malandragem preocupava o DIP na ditadura Getúlio Vargas. Eclético, Pedro também vai para o samba - numa bela parceria com o carioca Sidney da Conceição ("Apenas Diferente"), no qual busca até o apoio de um afinado vocal na gravação que fez há dois anos, no seu último lp ("Cigano Moreno", Fermata). Em 20 anos de estrada foram oito discos - entre o primeiro, "Vou Sair para Paquerar", lançado em outubro de 1968, até o que fez em 1987 e que tem catituado nacionalmente. Como o irmão Eron morava no Recife, foi na extinta Mocambo que fez algumas gravações incluídas em elepês com diferentes intérpretes, mas emplacando também sucessos com uma homenagem que fez a Mãe Menininha de Gantois (1983). xxx A carreira musical foi impulsionada após Pedro Lima ter deixado sua vida de militar. Foi pára-quedista, serviu em vários estados, mas entre uma carreira na caserna, seguiu o exemplo de Martinho da Vila: preferiu a música. Não se arrepende. - "Há altos e baixos, tempos bons e ruins, mas dá para sobreviver". Pelo seu tipo físico característico já ganhou várias chances de atuar em várias telenovelas -"Uma Rosa com Amor" (1972), "O Semideus" (1973), "Fogo Sobre Terra" (1974), "O Bem Amado" (1973) e "O Astro" (1977). Apareceu também em dois filmes - uma produção inglesa rodada na Amazônia, nunca lançada no Brasil - "River for Lover" e na comédia "Como Evitar o Desquite". Residindo no Rio mas mantendo muitos vínculos com o Paraná - sua mãe, dona Inês, mora em Curitiba e um dos seus irmãos Nagib, é dono de uma oficina mecânica em União da Vitória (o outro, Elias, vive em Florianópolis), Pedro Lima sempre que pode vem rever amigos e fazer shows. Um de seus amigos, o jornalista Oriovaldo Madureira, também de Palmas, 48 anos, ex-editor da revista "Transporte", do Sindicato dos Transportadores de Cargas do Estado do Paraná, transformou-se numa espécie de empresário voluntário: busca sempre abrir novas portas para que Pedro Lima mostre suas músicas e pensa, inclusive, em montar um show com a participação dos dois irmãos - Eron Vianna e Pedro, que saindo de Palmas, procuram em suas músicas falar das coisas e emoções do Brasil. - "Uma briga difícil e que nem sempre é compreendida" - diz Pedro, solidário com as lutas do irmão Eron por um maior espaço do artista brasileiro nos meios de divulgação.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
28/01/1989

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