A letra de Hermínio para o choro que Jacob deixou
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de abril de 1980
Hermínio Bello de Carvalho, consultor de projetos especiais da Funarte, chega amanhã a Curitiba, convidado pelo prefeito Jaime Lerner para a inauguração da Praça Jacob do Bandolim, no Jardim Schaeffer. Nascido de uma sugestão desta coluna, há quase um ano, quando houve a estréia nacional do recital "Tributo a Jacob do Bandolim", a 11 de agosto de 1979, no Guaíra, em homenagem ao 10º ano da morte do instrumentista, a presença de Hermínio neste evento é das mais justas. Poeta, produtor dos melhores discos de MPB e diretor de "shows", Hermínio foi um dos mais íntimos amigos de Jacob Pick Bittencourt (Rio de Janeiro, 14-2-1918/13-8-1969), que deixou não só uma obra musical maravilhosa, mas também um dos mais completos arquivos sobre nossa música popular, que após muita indecisão, acabou sendo incorporado ao Museu da Imagem e do Som - RJ, onde já existe o arquivo de Almirante (Henrique Foréis Domingues, 72 anos completados dia 19 de fevereiro último).
No ano passado, Hermínio colocou letras em dois dos mais belos choros de Jacob: "Noites Cariocas" - lançado por Gal Costa, em seu show-lp, "Gal Tropical", e agora também gravado no LP de estréia do conjunto Metalúrgica Dragão de Ipanema, sob regência do maestro e tecladista Edson Frederico, e criado por Nelson Motta para atração de sua boate "Noites Cariocas", na Urca. Com o subtítulo de "Minhas Noites Sem Sono", no Lp "Música Pra-Pular Brasileira", com a Metalúrgica Dragão de Ipanema, tem vocal de Sandra Pera. Ainda no ano passado, Hermínio fez outra belíssima letra para uma outra obra-prima de Jacob: "Doce de Coco". Apresentada até agora, em público, uma única vez - no recital que Elizeth Cardoso fez no final de 79, com a Camerata Carioca, aqui publicamos, em primeira mão - e numa homenagem a Hermínio e Jacó, esta letra-poesia, que deverá merecer gravação de Elizeth. Aliás, no próximo sábado, 19, Hermínio volta a Curitiba, desta vez como diretor de "Nana Dori e Danilo Caymmi em Concerto", no grande auditório do Guaíra, em estréia nacional, com ingressos a preços populares: de Cr$44 150,00 a Cr$ 50,00. Em junho, outra estréia nacional - "Vivaldi & Pixinguinha", com Radamés Gnatalli e Camerata Carioca e, depois, teremos o recital de Elizeth Cardoso, que há cinco anos não se apresenta em teatro aqui em Curitiba. Entremeando estes três espetáculos da melhor MPB, teremos "A Noite do Meu Bem", que Ligia Ferreira dirigiu em outubro do ano passado, comemorando os 20 anos da morte de Dolores Duran (Adiléia Silva da Rocha, 7/6/1930-20/10/1959), com Marisa Gata Mansa e Didi Milfon (intérprete-revelação da Feira Pixinguinha, realizada em maio/79, em Brasília).
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Eis aqui a letra de "Doce de Coco", que, infelizmente, não foi ainda gravada. Mas pela poesia já merece ser conhecida.
"Venho implorar
pra você repensar em nós dois
não demolir
o que ainda restou pra depois
Sabes que a língua do povo
é contumaz traiçoeira
quer incendiar, desordeira
atiçar fogo ao fogo...
Tu sabes bem
quantas portas tem meu coração
e os punhais cravados pela ingratidão
Sabes também quanto é passageira essa desavença
Não destruas o amor!
Se o problema é pedir, implorar
vem aqui, pra aqui
pisa aqui neste meu coração
que é só teu, todinho teu
e o escorraça e faz dele de gato e sapato
e o inferniza, o ameaça
pisando, ofendendo, desconsiderando
e o descomposturando com todo o vigor
Mas se tal não bastar
o remédio é tocar
esse barco do jeito que está
sem duas vezes se cogitar ...
Doce de coco, meu bom bocado
meu mau pedaço
de fato és o esparadrapo
que não desgrudou de mim".
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