Login do usuário

Aramis

Lápis, agora a saudade

No entardecer do sábado, ainda com o Sol brilhando, o sepultamento do compositor e violonista Palmilor Rodrigues Ferreira (1943-1978) - o bom Lápis, no Cemitério Água Verde, foi como ele havia pedido a Aninha, sua última companheira: ao invés de choro e de vela, como no samba de Noel Rosa (1910-1937), ele queria que tocassem suas músicas. E seu último pedido foi atendido: vozes embargadas de emoção, os amigos que o acompanharam em sua última morada, cantaram suas músicas - ao som de dois plangentes violões e três instrumentos de ritmo. Companheiros da noite - Celso Pirata, João Gilberto Tatara, Natinho, Susto, Paulo Chaves, entre outros - entoavam as belas músicas de Lápis, que falam de amor e tristeza, sorrisos e lágrimas. xxx Foram sobretudo os amigos sinceros de Lápis, talvez o mais representativo compositor da noite curitibana, que o acompanharam seu sepultamento. Entre eles o deputado Éneas Faria, que entendendo que mais do que as palavras, é necessário ação prática para auxiliar sua família, comprometeu-se a apresentar, ainda nesta semana, um projeto de lei que autorize o governo a conceder uma pensão à sua viúva e filhos menores. Lápis morreu pobre e ficaram dívidas de sue tratamento médico - bastante oneroso. Seus amigos, músicos e compositores, vão promover um espetáculo com fins beneficientes, mas mesmo que a bilheteria seja alta é insuficiente para cobrir a conta do hospital. Razão mais do que suficiente para justificar que a Fundação Cultural de Curitiba mostre alguma ação prática e auxilie a família do artista neste momento difícil. Afinal, Lápis era um compositor caracteristicamente de Curitiba, cidade que sempre cantou em suas músicas e merece toda atenção dos poderes oficiais. O ex-prefeito Jaime Lerner sempre foi um dos grandes fãs de Lápis e espera-se que a diretoria da Fundação Cultural de Curitiba - mostre agora que entidade também auxilia aos artistas da terra. Uma sólida contribuição à família Ferreira justifica-se muito mais do que despesas com supérfluas promoções - muitas beneficiando exclusivamente gente de outras paragens. xxx Na noite de sábado, nos ambientes que Lápis sempre freqüentou - "Si Bemol", "Carreteiro", "Bebedouro", etc. - suas músicas foram lembradas, mais uma vez, com emoção. Falou-se muito do bom artistas - que dois dias antes de morrer, havia composto uma valsa, dedicada à companheira Aninha e ao qual entitulou "Pra Você, um dia antes". Uma amiga - e parceira - de Lápis, Tania Maria Alves Pinheiro, poeta sensível, emocionada e chorando, escreveu uma bela crônica-poesia, que inicia dizendo: "Boa noite preto bonito! Como bom boêmio, Você se foi no romper da madrugada. É, Lápis, faz tão pouco tempo e nós da noite já estamos morrendo de saudade. Onde ela mora, amigo? Será que vou encontrá-la no seu vestido branco, milhado de pranto, bordado de flor. E o teu Paraná que guardará sobre a terra roxa, um corpo negro, cheio de amor".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
4
14/02/1978

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br