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Aramis

Joyce e Silva, os intérpretes certos

Ao idealizar um show em homenagem a Wilson Batista - cuja estréia acontece em Curitiba, neste fim-de-semana e que será levado posteriormente a São Paulo, Rio e Brasília - o diretor Túlio Feliciano não poderia ter sido mais feliz na escolha dos intérpretes Joyce e Roberto Silva. Além de representar o encontro de duas gerações, a presença de Joyce, 32 anos e Roberto Silva, 65 anos, mostra o traço de união de quem realmente se identifica com o que de melhor existe em nossa MPB. Joyce, cantora que surgiu no final dos anos 60, em festivais, fez uma carreira estável, segura e que longe da busca fácil de êxitos do momento, se firma em álbuns marcantes - o penúltimo dos quais foi pela Pointer, no ano passado (infelizmente sem distribuição devido ao fechamento da gravadora). Com longas temporadas na Itália e Nova Iorque, parceira inclusive de Gerry Mulligan (num amoroso tema em homenagem a Antônio Carlos Jobim), Joyce tem uma obra musical das mais substanciosas. Sozinha ou em parcerias diversas, suas canções falam da mulher, do amor, da natureza e, sem favor, estão entre as melhores produzidas no Brasil nesta última década. Já Roberto (Napoleão) Silva, carioca, quase 50 anos de carreira - desde sua estréia no programa "Canta Moça" (Rádio Guanabara), pertence à geração dos sambistas da época do Café Nice - cujo cenário é transposto neste show em homenagem a Wilson Batista, de quem foi amigo e lançador de várias composições. Roberto Silva foi, ao lado de Ciro Monteiro (1913-1973) o grande sucessor do estilo de cantar sincopado com rica divisão rítmica, lançado por Luís Barbosa (1910-1930) e Vassourinha (Mário Ramos, 1923-1942). Apesar de uma marcante discografia, com dezenas de êxitos (como "Maria Teresa", "Juraci Me Mandou", "O Baile começa às nove"), somente em 1958 gravou seu primeiro LP, "Descendo o Morro", mas ali iniciando uma série de discos que, em grande parte, até hoje permanece em catálogo. Cantor de um estilo especial, com divisão rítmica do qual é, hoje, talvez o último intérprete, Roberto Silva, como tantos outros grandes valores tem estado afastado dos palcos e televisão há anos. Conserva-se, entretanto, em plena forma e a idéia de reunindo-o a Joyce, trazê-lo num espetáculo em homenagem a Wilson Batista não poderia ser mais oportuna. Afinal, contemporâneo e amigo do autor de "Pedreiro Waldemar", Roberto Silva o lembra "pela sua forte personalidade, ele se vestiu bem e tinha certeza que sua música ia ser sucesso". Joyce, intérprete emocionante, também assimilou o espírito dos sambas de Batista, e tanto no disco (com capa de Nássara), como no show, no Paiol, interpreta clássicos como "Mãe Solteira", "Mundo de Zinco", "Louco" (Ela é seu mundo) e, em duo com Roberto Silva, "E o juiz apitou", "Samba rubro-negro" e outros clássicos de uma época feliz e marcante de nossa MPB. Vamos ver se o público curitibano - tão mal informado em termos de prestigiamento ao que de melhor acontece em nossos espaços culturais - saberá aplaudir, como merece, esta estréia nacional que graças exclusivamente à Funarte acontece no Paiol.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
01/05/1986

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