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Jofilly, os tempos do deputado nacionalista

Incansável escarafunchador da história oficial, buscando sempre o lado obscuro e desconhecido de fatos tidos como definitivos, José Jofilly, 75 anos - completados no último dia 25 de março, trabalha em novo livro: "A Proclamação da República - Cem Anos Depois". Assim como fez com a Revolução de 1930, que resultou em dois marcantes estudos - "Revolta e Revolução: Cinqüenta anos Depois" (1979) e "Anaide Beiriz: Paixão e Morte na Revolução de 1930" (1980), Jofilly busca o outro lado do movimento que instituiu o sistema republicano no Brasil. Embora ainda esteja em fase de trabalho - portanto preferindo não adiantar detalhes - Jofilly pretende mostrar a participação do povo no movimento - visto até hoje apenas como uma questão militar. Aliás, como historiador e ex-político, Jofilly preocupa-se com a pouca atenção que está se dando ao centenário desta efeméride - "menos comemorada do que a Revolução Francesa entre nós", como disse na semana passada, ao gravar um belo depoimento para o projeto Memória Histórica do Paraná. xxx Ao invés dos 120 minutos gravados pela equipe que participa do projeto coordenado pelo jornalista João de Deus Freitas Neto, para o Bamerindus, seriam necessários pelo menos mais seis horas, pois Jofilly é daquelas memórias privilegiadas, que não só pesquisa e registra os acontecimentos de nossa história como, por mais de 40 anos, participou da vida pública, com uma atuação destacada. Revolucionário já aos 16 anos, quando estudante secundário participou do assalto ao 22º Batalhão de Caçadores, em João Pessoa, preso em 1935 - acusado de comunista, advogado da turma de 1938, dois anos depois como promotor público, em Pernambuco, dirigia a Penitenciária Agrícola de Itamaracá e, em 1941/42, foi secretário da Agricultura, Viação e Obras Públicas da Paraíba, durante a interventoria de Rui Carneiro. Em dezembro de 1945 elegia-se deputado federal pelo Partido Social Democrático, exercendo consecutivamente quatro mandatos - durante os quais teve ação das mais importantes, prova disto está em suas várias menções nos estudos políticos que têm sido publicados nos últimos anos analisando os partidos políticos no período 1945/62, quando encerrou sua carreira. xxx De abril de 1956 até o final da legislatura, em Janeiro de 1959, foi líder e vice-líder da maioria e do PSD na Câmara dos Deputados - nascendo então uma grande amizade com o presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Foi um dos fundadores da Frente Parlamentar Nacionalista, lançada na Câmara através de um manifesto divulgado em 1956 e composta por deputados dos partidos Socialista Brasileiro, Trabalhista Brasileiro, União Democrática Nacional e do PSD, entre outros. Constituía um grupo de pressão, defensor de uma plataforma nacionalista, destacando-se ente suas reivindicações a regulamentação da remessa de lucros para o Exterior e o controle estatal sobre a exploração dos recursos naturais básicos. A ação independente e corajosa de Jofilly na Frente Parlamentar Nacionalista, seria uma das causas para, oito anos depois de sua criação, quando da Revolução de 1964, estar na lista dos 100 primeiros cassados pelo Ato Institucional nº 1 - embora, na época, já não exercesse mais cargo legislativo. Com sua coragem e determinação, entre 1957/59, juntamente com Gabriela Passos, Dagoberto Sales, João Seixas Dória, Aliomar Baleeiro e outros, Jofilly atuou na CPI para apurar as atividades políticas da Esso e da Shell no Brasil - e, em 58, participou também da CPI destinada a investigar as conseqüências da Instrução 113 da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), sobre a economia do país. Integrou ainda uma CPI sobre a crise no setor nacional de transporte aéreo e foi membro da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e, ainda em 1958, fez parte da delegação brasileira à XXIII Sessão da Assembléia Geral da ONU, em Nova Iorque. Em seu último mandato, como relator da Comissão Especial da Reforma Agrária na Câmara dos Deputados, propôs um substitutivo ao ante-projeto de Reforma Agrária, na tentativa de congregar as sugestões já apresentadas sobre a matéria e satisfazer as várias correntes partidárias atuantes no Legislativo. O clima fervia na questão agrária e em 1962, na Paraíba, as ligas camponesas, lideradas pelo deputado Francisco Julião, sofriam violências por parte das forças conservadoras. O general Arthur da Costa e Silva era o comandante da 7ª Região Militar (Recife). xxx Em 1964, quando teve seus direitos políticos cassados, era membro do Conselho Monetário Nacional. Foi preso e só graças ao voto do ministro Olímpio Mourão Filho obteve o habeas corpus. Após exercer atividades bancárias e na área dos seguros, viria para Londrina, onde com quatro jovens agrônomos fundou a Herbitécnica, hoje a maior empresa de defensivos agrícolas do Brasil, faturamento mensal de US$ 2 milhões, e que está construindo uma grande fábrica de defensivos. Ao lado de sua bem sucedida atividade empresarial, entretanto, ficou o trabalho de historiador, hoje com 12 livros publicados, todos tocando em temas polêmicos. Há três anos, discutiu os fatos econômicos que levaram os ingleses a colonizarem o Norte do Paraná ("Londres, Londrina"), numa obra que apesar de ter provocado críticas, até agora não foi respondida e contestada "em uma linha sequer, o que continuo esperando", diz Jofilly - que, como sempre faz em seus trabalhos, busca a mais completa documentação. Aos 75 anos, vigor de um homem de 30, incrível capacidade de trabalho, Jofilly tem pelo menos mais cinco temas para desenvolver em futuros livros, além de estar auxiliando seu sobrinho, o sociólogo César Benevides, num trabalho sobre o médico e deputado comunista Otávio da Silveira, um dos políticos de grande atuação no Paraná - e sobre o qual inexiste maior documentação. LEGENDA FOTO - José Jofilly: revisitando a história oficial.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
31/05/1989

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