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Joffily, poesia além do cinema

Após uma primeira semana de exibição nos Cines Lido II e nas sessões noturnas do Luz, "Urubus e Papagaios" emplaca uma segunda semana, agora só no Luz, em horários normais. Prejudicada pelo adiamento por duas semanas, este filme de estréia do cineasta José Joffily Filho, é uma irreverente visão dos costumes de uma pequena cidade, a imaginária Mimosa do Oeste, criada a partir de um texto do escritor gaúcho Josué Guimarães (1921-1986). Paraibano, filho de um dos mais admiráveis historiadores que conheço, de quem herdou não só o nome mas também a vocação literária, "Zezinho" é um homem de cinema que vem há tempos desenvolvendo trabalhos como diretor de fotografia, roteirista, realizador de curta-metragens, e agora, já preparando o seu segundo longa-metragem. Será um filme de orçamento de US$ 1 milhão sobre um fato verídico ocorrido em São Luiz, no Maranhão, e que foi tema de outro livro apaixonante de seu pai: "Morte na Ullen Company". A pré-produção vem sendo desenvolvida enquanto Zezinho cuida do lançamento de "Urubus e Papagaios", em várias capitais e, em parceria com Luís Fernando Veríssimo, trabalha no roteiro para uma nova comédia de Hugo Carvana - "A Cuca do Armandão". Carvana atualmente está filmando "Amor de Malandro", com Betty Faria, música de Chico Buarque, que já tem promessa de exibição no XVI Festival de Cinema de Gramado. "A Cuca do Armandão" - uma comédia irreverente, sobre um prefeito de uma pequena cidade de Interior que deseja resgatar o cérebro de uma personalidade nascida numa perdida comunidade, para conseguir, com isto, valorizá-la turisticamente - deverá ser rodada em 1988. xxx José Joffily Filho, não é só um excelente roteirista, como demonstrou em filmes como "Parahyba Mulher Macho", de Tizuka Yamazaki, "O Rei do Rio", de Fábio Cardoso, "Avaeté", de Zelito Viana, entre outros. Joffily Filho é também poeta sensível e arguto, que sabe trabalhar com as palavras. Em dois originais livros - "Palavras & Sedas" e "Fluência Muda", mostra o seu lado lírico. São livros originalíssimos. "Palavras & Sedas", em miniformato - 8 x 15 - foi impresso em papel de seda, numa esmerada produção gráfica. Já "Fluência Muda", em formato 16,5 x 18 (Edições das Palmeiras, programação gráfica de Jonas Federman), tem também um cuidado notável em termos de apresentação e a capa foi criada a partir de uma foto de Mariza Alvarez Lima. As poesias de Joffily Filho são compactas, cristalinas e filosóficas. Nunca passa de uma estrofe e chegam com uma grande força. Daquelas que fazem o leitor ler e refletir. Alguns exemplos: xxx Já na abertura de "Fluência Muda", uma poesia-frase que vale como filosofia de vida: "É sempre bom lembrar / que estou de pé / que tenho dois pés e que colocar / um na frente do outro / não quer dizer que vou a lugar algum." Como a nossa mestra Helena Kolody, a poesia de Joffily Filho também é feita da simplicidade do cotidiano. Como em "Alfaiate": "Na caixa de Catupiry / botão, linha e tesourinha que lugar mais esquisito / de botar sua costurinha". O importante em Joffily é a reflexão que propõe em suas palavras: "Toda escolha é assustadora quando nela se pensa todo caminho é fortuito quando não determinado". A própria simplicidade do poeta sem compromissos é colocada nas palavras de "Passageiro": "Queria fazer esse poema rápido, manêro poema de chêro como se fosse um dôce sem idade e sem nada de eternidade começa aqui acaba acolá espuma de neve ao deus dará". Em certos momentos, Joffily Filho atinge o máximo da síntese. Como em "Autofagia": "Sumi no breu da boca eu mesmo me engoli". A divagação da leitura de Kerouak em "On The Road": "Que felicidade poder dizer perdi se perdi, fui se fui não fiquei aqui". Em "Os is dos pingos", diz o poeta-cineasta: "É preciso andar mais devagar na teoria e mais rápido na prática. Já pensou na frustração que vem a seguir... Quando a lentidão da segunda não alcança a presteza da primeira. Ansiedade dá e mata. Imobiliza. O mais puro jiu-jitsu. Golpe infernal". O lirismo do circo está presente em poemas no qual Joffily Filho relembra o mágico mundo da lona. Em "Picadeiro", por exemplo: "Meu circo tem grito de artista tem sonho de equilibrista bailarina que não dança e a lona é de cetim tem mestre sem cerimônia meu circo todo é assim tem gosto de coisa passada erva daninha e danada tem tudo do bom e do ruim armei na beira da estrada o circo que nunca existiu basta olhar para o lado e quem vê foi sempre quem viu.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
13/08/1987
Onde conseguir um exemplar de Palavras e Sedas, de Jose Joffily Filho?

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