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Aramis

Jazz com mestres: Ellington, Dizzy, Curtis e até Dorsey

Enfrentando mil e uma dificuldades, exemplo de self-made man, Jonas Silva é um dos mais admiráveis produtores fonográficos. Mesmo com a crise do vinil e da cartolina, que faz com que as pequenas etiquetas estejam com dificuldades de prensarem seus produtos, Jonas, um pernambucano que há quase 40 anos se preocupa em divulgar o que há de melhor no jazz e no clássico, faz suas edições pela Imagem. Ainda agora, ao mesmo tempo que lança dois importantes discos de jazz, inéditos, reedita dois outros soberbos lançamentos que há tempos já fazem parte de seu pequeno mas selecionado catálogo. Assim, como Dizzy Gillespie - cuja temporada recente no Brasil motivou a procura de seus discos - temos uma gravação feita nos anos 50, quando o grande pistonista trabalhava com nada menos que quatro monstros do bebop: Charlie Parkes, Miles Davis, John Lewis e Max Roach. Gravação histórica em todos os sentidos, este "The King of Bop" traz um repertório fundamental e se constitui, sem favor, num dos melhores lançamentos do ano. Dizzy Gillespie, com sua voz pastosa mas marcante, está nos vocais de "Oo Bop Sh-Bam" (junto com Gil Fuller) e no clássico "Salt Peanuts" de Parker. Alice Roberts pode ser ouvida em "He Beeped When He Should Have Boopped" e "Good Dues Blues". Três outros clássicos ganham aqui também uma leitura eterna, no pródigo dos instrumentistas que as gravaram: "Perdido", "Stormy Weather" e "Cocktails For Two". Pouco conhecido no Brasil, Curtis (Dubois) Fuller (Detroit, Michigan), 52 anos - a serem completados no dia 15 de dezembro, é um dos bons trombonistas da fase romântica. Na estrada há 37 anos - desde quando começou a tocar na banda escolar, Curtis formou, entre 1953-55, uma banda da Marinha, na qual estavam músicos como Cannonball Adderley (1928-1975) e Junior Mance. Nestes últimos 30 anos, Curtis passou por diferentes formações - incluindo os grupos Miles Davis (56), Lester Young, Kenny Burrell, Yusef Lateef, Gil Evans e vários outros nomes dos mais respeitáveis. Uma gravação relativamente recente de Curtis Fuller, feita em Nova Iorque, em 18 de setembro de 1978, é agora editada no Brasil pela Imagem. Acompanhado por quatro músicos competentes - embora igualmente pouco conhecidos entre nós - o sax-barítono Pepper Adams, o pianista James Williams, o baixista Dennis Irwin e o baterista John Yarling - Curtis desenvolve seis temas: "For on the outside" (que dá nome ao disco, ("Suite-Kathy"), "Hello Young Lovers", "Little Dreams", "Ballad for Gabe-Wells" e "Corrida del Toro". BIG BANDS - Se Dizzy Gillespie e Curtis Fuller chegam em discos inéditos no Brasil, a Imagem reedita também dois excelentes álbuns com a música das big bands. O primeiro é parte do histórico concerto que Duke Ellington e orquestra fizeram no Carnegie Hall, em 11 de dezembro de 1943 - produzido originalmente pela Everest Records e que já teve, anteriormente, pelo menos dois lançamentos no Brasil. Edward Kennedy Ellington (1899-1974), possivelmente o maior nome do jazz americano, criador de melodias inesquecíveis, foi o segundo jazzman a se apresentar no famoso Carnegie Hall (o primeiro havia sido Benny Goodman, em 1938). A sua orquestra, na época, reunia os trumpetistas como Wallace Jones, Ray Nance (também violinista e cantor), o pistonista Rex Stewart, os históricos trombonistas Juan Tizol e Lawrence Brown, o saxofonistas Johnny Hodges e Fred Guy na guitarra. Naquela época, devido à II Guerra Mundial, todos os espetáculos eram precedidos pela execução do hino nacional americano "The Star Spangled Banner", que abre a gravação - seguido do prefixo musical da orquestra, "Take the 'A' Train", de Billy Strayhorn (1916-1967), com dois segmentos do trumpete de Ray Nance (1913-1916-1976). Nance, também no violino, é a figura central de "Moon Mist", peça de rara sensibilidade de Mercer Ellington, filho do maestro - expondo o tema e separando os solos de Hodges (1906-1970) e Lawrence Brown. Reunindo nada menos que 14 outros temas, esta preciosa gravação traz momentos inesquecíveis, como "Emancipation Celebration", que apresenta Rex Stewart (1907-1967) no pistão empregando efeitos de execução e Tricky Sam (1904-1946), uma das vozes mais originais da história do jazz e dum mestre da Surdina "Plunger", com a qual extraía sons incríveis. Junior Realing (1917-1965) solo integrado ao arranjo. Não faltam também standards do repertório de Ellington, como "Mood Indigo", "Caravan" e "Sophisticated Lady" - fazendo deste um dos mais belos discos de jazz da época de ouro das big bands. Sem o mesmo nível instrumental - mas valorizado pelo repertório excelente "I´m Getting Sentimental Over You" (Crown Records/ Imagem), com a participação de "members of the Tommy Dorsey Orchestra", resgata alguns dos temas que o grande trombonista Tommy Dorsey falecido há 30 anos (exatamente no dia 26 de nobembro de 1956), aos 51 anos, deixou eternizados. Infelizmente, nesta gravação não há identificação de quais os "membros da orquestra de Dorsey" que participaram, mas o repertório, abrindo com seu prefixo ("I´m Getting Sentimental Over You"), desfila clássicos dos anos 40, com "Every Time I Feel the Spirit", "Deep River", "On the Sunny Side of the Street", e os outros temas envolventes e inesquecíveis.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
26/10/1986

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