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James Dean, um símbolo de uma geração, continua vivo

"Ah! É preciso viver depressa. A morte chega cedo". (James Byron Dean, 1954) Três décadas e meia depois da edição original, uma biografia de James Dean chega nas livrarias. De autoria do jornalista francês Yves Salgues, lançado originalmente em 1957 e no Brasil logo traduzido pela Vecchi, este volume da coleção "Biografias LP&M" não é o mais completo nem o melhor dos muitos livros dedicados a última grande lenda do cinema americano. É, entretanto, o primeiro livro produzido com uma profundidade maior do que a simples biografia, escrito em linguagem admirável e que, no impacto do mito Dean dois anos após a sua morte, e quando seus três filmes começavam a chegar ao Brasil, se tornou um clássico. Na verdade, um ator e colega do astro de "Juventude Transviada", James Bast, foi o primeiro a oferecer um livro-depoimento ("James Dean, a biography", New York, Balallatine Books, 1956), no Brasil publicado em modesta edição de bolso, com o substituto de "James Dean", A Angustia de Ser Jovem". Em 1959, em obra mais ampla, Raymond de Becker publicava "De Tom Mix à James Dean" (edição francesa da Livraria Arthéme Fayard, 1959); em 1966, na coleção Anthologie du Cinema, da editora Avant`Scene (*), sai o estudo de Marcel de Viers. Duas biografias mais amplas foram produzidas na primeira metade dos anos 70, passados já 15 anos da morte do ator: "The Mutant King" de David Dalton (Simon and Schuster, 355 páginas) e "James Dean" de John Howlett (Plexus Publishing Limited, 190 páginas). Citado em outros livros e ensaios, passam de 30 títulos a bibliografia que Dean, que ainda cresce. Há 10 anos, um álbum-de-arte, impresso em papel especial, produzido em gráficas de [Kong Kong], para a Pomegranate Artebooks, Inc., Corte Madera, [Califórnia], trouxe talvez a mais bela coleção de fotos-flagrantes de James Dean, feitas por um de seus maiores amigos, Sanford Roth (Nova York, 1906-Roma, 1962), dedicado a John Divers (1933-1983), "whose massive talents made this book possible" (**). No mesmo ano de 1983, em janeiro, estreava "Come Back to the 5 & Dime Jimmy Dean, Jimmy Dean (no Brasil, "James Dean, O Mito Sobrevive") realizado por Robert Altaman, 67 anos, que fez seu segundo longametragem (o primeiro foi "Os Delinquentes", 57), como um documentário sobre Dean ("The James Dean Story" também em 1957). De uma forma livre, tendo apenas Dean como um personagem que motiva o encontro de um grupo de mulheres (interpretadas por Sandy Dennis, Cher, Karen Black, Sudie Bond, Kathy Bates e Marta Heflin), no espaço de uma tipica lanchonete americana, "Com Back to the 5 & Dime Jimmy Dean, Jimmy Dean", nasceu como peça de teatro e, em produção de ZPeter Newman e Scott Bushnell, roteirizada pelo próprio autor do texto original Ed Graczy. Inédito no circuito comercial no Brasil, (mas disponível em vídeo, pela Alvorada) o filme só chegaria pela televisão há alguns anos, assim como outra obra inspirada no mito Dean: "9/30/55", data da morte do ídolo, sobre a noite que se segue a noticia da morte de James Dean, junto a [um] grupo de adolescentes numa pequena cidade americana - igualmente só exibido na televisão (***). Consequencia ou não destes revivals sobre Dean, algumas montagens tendo Dean como mito-tema aconteceram no Brasil e até em Londrina, o Grupo Delta de Shows, estreou na noite de 19 de outubro de 1983 na boate "Step By Step" o show "James Dean", dirigido por José Antonio Teodoro (já falecido, ainda jovem). Em entrevista à "Folha de Londrina", Teodoro explicava que "o show está calçado na figura de James Dean que marcou época cujo comportamento e maneira de vestir influenciam a juventude até hoje". A digressão acima, lembrando apenas alguns aspectos da permanencia do mito James Dean - como os de Rodolfo Valentino (1893-1960), Jean Harlow (1911-1937) para a década de 30, Marilyn Monroe (1926-1962) nos anos 60 e Elvis Presley (1935-1977) já no final dos anos 70, mostram [a] permanencia de um ídolo do cinema junto a geração que se sucederam. Curiosamente, para quem fez apenas três filmes - como ator principal - lançados praticamente postumamente a sua morte, Dean teria a imagem mais dramática, rebelde e identificada a geração do anos 50/60 (passando para as que se seguiram) do que outros rebeldes que o antecedem - Marlon Brando (hoje, gordo, afastado do cinema, aos 66 anos, completados em 3 de abril último) e Montgomery Cliff (1920-1966) - e ao qual se filiaram (mas sem o mesmo impacto) em seus [inícios] de carreira, Paul Newman (****) e Warren Beatty, hoje [a] circunspectos senhores de 67 e 54 anos respectivamente, ajustadissimos aos establishment, longe de qualquer imagem juvenil de rebels without a cause. Ruy Castro, um dos jornalistas que - a exemplo de Sérgio Augusto, melhor tem sabido interpretar a mitologia [artística] americana, há 9 anos ("Folha de São Paulo", 27/184), no artigo "Aqueles rebeldes de pipoca", anotava com lucidez: Notas (*) L`Avant Scene, editora francesa especializada na publicação de roteiros originais de cinema, peças de teatro e libretos de ópera e ballet. (**) Dean era avêsso a entrevistas e a papparazies ([fotógrafos] na busca de flagrantes, geralmente para revistas e jornais sensacionalistas). Stanford, bem como os seus colegas Roy Schatt, Dennis Stock, Phill Burchman e Paul Slade (correspondente da "Paris-Match" nos EUA nos anos 50) eram os únicos que tinham sua colaboração e simpatia. (***) Exibindo na televisão com o título de "O Espírito de James Dean", 1977, de James Bridges, foi interpretado por Richard Thomas, Susan Tyrrell e Thomas Hulce. (****) Newman em filmes "Marcado Pela Sargeta", "O Mercador de Almas", "Um de Nós Morrerá", "Paixões Desenfreadas" etc. fez personagens rebeldes e ambiciosos. Beatty, por Kazam em "Clamor de Sexo" (61), também teve personagens próximos em filmes como "Anjo Violento" (62) e "Mickey One"(65). LEGENDA FOTO - Um dos raros fotógrafos que privava da intimidade de James Dean, Sanford Roth (1906-1962) fez fotos únicas, originais e que permaneceram inéditas até 1983 - quando foi editado um luxuoso álbum-de-arte, com 167 imagens das mais belas, impresso em Kong Kong. (Fotos de Sanford Roth).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
28/06/1992

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