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Aramis

Ivan - Cara nova, um pouco de rock e muito otimismo

A proposta tinha que ser, realmente, audaciosa. Aos 40 anos, uma reformulação que foi da vida pessoal (uma nova esposa, Valéria) até a música (a participação no Rock In Rio, janeiro/85, com sucesso), Ivan Lins pretendeu modificar seus rumos musicais - sem desperdiçar uma platéia tradicional e que desde os anos 60, dos tempos do MAU e dos Festivais Internacionais da Canção ("O Amor é Meu País", 1970) lhe tem sido relativamente fiel. Assim, após um caprichado álbum ("Juntos", 1984, Polygram), no qual somou duetos e parcerias ilustres - Nana Caymmi, Elba Ramalho, Beth Carvalho, Erasmo Carlos e até a novata Verônica Sabino - Ivan mudou de gravadora (Sigla) e, assumidamente, admitiu uma linha roqueira - mas sem cair no vulgar, no consumismo fácil. O resultado é, no mínimo, positivo. Ivan é um excelente compositor, seguro em suas harmonias e que desde 1974, quando trocou o pastoso Ronaldo Monteiro, por um letrista ágil e criativo como o paulista Vitor Martins, passou a reciclar-se em termos de sucesso e ou comunicação. A longa entrevista que acompanha o exemplar promocional do lp de Ivan Lins - lançado em fevereiro último - traduz um pouco suas indagações e, sobretudo, mostra um artista em compasso de otimismo: mais de 40 músicas gravadas no Exterior, preparando-se para um lp nos Estados Unidos, em inglês e, principalmente, a certeza de que tal como a música que vem puxando este lp, catipultuada ao ser incluída na trilha de "Rock Roque Santeiro" ("Vitoriosa") a sua carreira está idem. Uma idéia original: "Galeria I" e "Galeria II", que abre e fecha o LP - que poderia ser uma só, mas ficaria com uma letra quilométrica. Composição de 1982, é muito mais a cara de Vitor Martins, recordando a galeria Metrópole, em São Paulo, que, nos anos 60, era um reduto de artistas e intelectuais - e onde muita coisa aconteceu. Depois da "Bandeira do Divino", de quase 10 anos passados, Vitor e Ivan, saudavelmente, se voltam, mais uma vez, a um lado de influências rurais: "Atrás poeira". Uma letra excelente, de belíssimas imagens - com um toque de universalidade em sua construção incrivelmente verde-amarela (e curiosamente, diz Ivan, a mesma nasceu em julho/agosto do ano passado, quando se encontrava em Los Angeles). O amplo espaço que o retorno fonográfico de Ivan Lins obteve - inclusive pelo seu novo visual (sem barba, aparência rejuvenescida, alto astral) o levou a explicar, demoradamente, cada uma das músicas incluídas no lp. Assim, "Humana", diz, foi dedicada à nova mulher, Valéria (a primeira, Lucinha Lins, é hoje uma estrela em ascendência, tanto como cantora, como atriz). Para Rita Lee, que esteve também numa fase difícil nos últimos anos, Ivan dedicou "A Tal", definindo-a como "Sempre provocante/ Quente, picante-tem sal/ Sempre fulminante/ Decididamente mortal/ Sempre irreverente, sim/ Descaradamente sensual/ Sempre insinuante/ Sempre aliciante-fatal..." O disco tem também o romantismo de "Luas de Pequim" ("Eu vejo luas sobre a relva e o capim/ Vejo sim, muitas sim, nos jardins/ Luas de Alecrim, luas de jasmim"), enquanto "Beijo Infinito" tem um terceiro parceiro, o guitarrista Heitor T.P. "Sede de Marujos" ganhou de Vitor Martins uma letra densa de imagens ("Se amavam/ Com sede de marujos/ Lavando os olhos sujos/ De mar e de embarcações"). Com um novo grupo instrumental - (após a colaboração habitual de Gilson Peranzetta por quase uma década) - "A Famiglia", o Ivan Lins-86 é um artista seguro, íntegro em sua obra, sensível e romântico. Mas, não se pode negar, extremamente atilado com a necessidade de manter um up to date também às exigências do mercado e de um público que se renova a cada trimestre.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
5
06/04/1986

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