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Ibope muda pesquisa e as rádios suas programações

A decisão da Rádio Independência em suspender dois programas em sua programação diária - "A Baiuca do Xiló", de Paulo Cesar (Etevaldo Cunha Santiago) e "Zé do Pito (Antonio Feorenzano) - foi apenas um dos reflexos do último boletim do Ibope. Ao modificar os critérios de auferição de audiência das emissoras, o Instituto Brasileiro de Opinião Pública vai ter resultados bastantes diversos em suas tabulações semanais e mensais - o que se refletirá na classificação das rádios - AMs e FMs - que disputam audiência - fator preponderante para conseguirem melhores programações publicitárias por parte dos anunciantes. Ao invés de fazer pesquisas com a pergunta "que rádio você está ouvindo agora/" geralmente concentrada nas primeiras horas da manha, o Ibope passou a espalhar suas equipes ao longo de todos os horários, para formular o que chama de "índice retroativo". Ou seja, se até agora uma emissora como a Independência consegue manter-se em primeiro lugar, por ter (com contratos milionários) os dois comunicadores de maior popularidade da cidade - Algaci Túlio e Luís Carlos Martins - na parte da manhã, nos outros horários os resultados poderão serem negativos - e a soma poderá fazer a emissora mudar de posição. Por está razão, seus diretores - Aldo Schlopt, Gilberto Fontoura e Euclídes Cardoso, profissionais de maior visão, sentiram a necessidade de substituir os programas com menos ponto, o que provocou a suspensão das audições "Baiuca do Xiló" e "Zé do Pito", que buscavam as faixas mais humildes. Para conquistar melhor audiência nos horários em que aparecem enfraquecida, a Independência contratou um jovem radialista, Uilliam (com "U" mesmo) Barbosa, que iniciou um programa de apelo comunitário: "Bairros da minha cidade". xxx A ditadura do Ibope, como é chamado o boletim mensal que orienta as agências a programarem ou não as rádios, tem sido tema dos mais polêmicos. Acusações ao órgão pesquisador, revolta de propietários de emissoras que tem mínimos pontos nos boletins - principalmente quando começam a perder posições - e até insinuações de desonestidade na produção das pesquisas, faz com que o Ibope tenha se tornado uma sigla assustadora e acusada de ser a responsável pelo baixo nível artístico de 98% das programações de rádio - veículo que por sua portabilidade, rapidez e econômica (inclusive nas tabelas publicitárias) deveria ter um tratamento mais respeitoso. As verbas para as emissoras são mínimas e se concentram nas que conseguem os três primeiros lugares de audiência. No caso das AMs a programação popular "povão", com programações sertaneja e rurbanas, especialmente no alvorecer, da resultados estimulantes. Em São Paulo, a Jovem Pam AM, chega a cobrar Cr$ 250 mil por um spot de 30 segundos - enquanto a Jovem Pam FM fica na faixa dos Cr$ 60 mil. Em Curitiba, os preços variam muito, justamente pela guerra de foice que é a sobrevivência de quase de duas dezenas de rádio no mercado publicitariamente pobre. xxx Com a chegada das FMs, na última década, houve uma preocupação generalizada na conquista do público jovem. Além de uma programação musical constituída em 90% na base de rock (o que estimulou inclusive, o surgimento de interpretes e grupos brasileiros, tipo Ritchie, Blindagem, Magazine, etc.), passou a existir uma uniformidade no linguajar aparentemente jovem - repleto de gírias. O absurdo chega ao ponto de certos disk-jóqueis e locutores copiarem até o sotaque carioca, com expressões que não tem nada em comum com o nosso povo. Assim com a era do vídeo-tape na televisão prejudicou as manifestações folclóricas, linguajar regional e a produção local, com a formação das Network Tupiniquins, também as FMs modificaram o comportamento das rádios. Desapareceram os programas produzidos, as músicas sem selecionadas, com a maioria das emissoras buscando um mesmo público alvo, na faixa dos 13/27 anos, por acreditar que este representa maior consumidor de produtos como jeans, motocicletas, refrigerantes, cigarros, etc. Resultado: as FMs, tecnicamente desenvolvidas para apresentarem excelente qualidade sonora, ficam insistindo nas mesmas músicas do "listão" de sucessos (preparados em critérios muitos discutíveis) e não se houvem os grandes talentos da MPB, a música orquestrada, suave - sem falar em jazz e clássicos, genêros malditos nas programações - mesmo em caso de emissoras culturais, sem fins lucrativos, como a Estadual do Paraná e a Clube FM (que recebem Cr$ 2 milhões mensalmente da Prefeitura), e que, sem preocupações com o Ibope, poderiam oferecer programas de maior gabarito cultural. Entretanto em nome da "popularização" - assuntos dos mais discutíveis em termos artistícos - estas duas rádios caíram na mesma programação das outras. Enio Malheiros, secretário da imprensa - com maiores poderes que terá a partir da criação da Secretaria da Comunicação (a qual estará intgrada a Estadual), pretendem reformular a programação desta emissora, inclusive, ele próprio produzindo maldição de jazz, gênero do qual é expert. A continuidade da Clube FM como canal subvencionado pela Fundação Cultural deverá ser decidido nos próximos dias, mas da forma que a mesma vem operando, sem nenhum retorno cultural e pessimamente sintonizado na frota de transporte coletivo (que deveria constituir sua audiência cativa) é desaconselhável sua manutenção com recursos oficiais. Aliás, em dezenas de ônibus, os motoristas sintonizam outras emissoras comerciais, ao invés de manter o dial do prefixo da Clube FM. xxx No final da semana, um dos mais experiente homens do rádio no Paraná, João Lydio Seiller Bettega, propietário da Ouro Verde e FM Caiobá, formalizou legalmente a integração da CWD - FM, adquirida do grupo Perdigão, de Santa Catarina, em sua rede. Com sua experiência e bom gosto, Didier faz há 20 anos da Ouro Verde uma emissora que atinge um público selecionado. Na área das FMs, a única que tem uma programação nesta linha é a Apolo (ex Universo), pertencente ao senhor Najib Chede. Uma programação "herdada" de outro veterano competente profissional, Azor Silva, que deixou a organização após mais de 20 anos de trabalho. Além do mais, tendo apenas uma locutora com limitações profissionais, e inexistindo programas montados, e textos trabalhados - a faixa que a FM Apolo atinge, poderá ser, a curto prazo, conquistada pela FM Ouro Verde, cuja nova programação deve entrar no ar dentro de algumas semanas. xxx Agora é aguardar se os novos critérios do Ibope farão que os radiodifusores acordem para a realidade de que nada adianta reclamar da falta de faturamento, se eles próprios não se preocupam em oferecer qualidade em suas emissoras - e ficam na filosofia de "quanto pior, melhor, pois o povão não quer qualidade". Um raciocínio que poderá levar a falência muitas emissoras.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
08/01/1984

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