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Aramis

A hora e a vez das crianças (I)

Em 1983, um ano que continuou crítico para a indústria fonográfica, os homens de marketing das gravadoras(re) descobriram o óbvio: as crianças, influem muito nas compras de discos. Afinal, para alegrar os filhos pequenos, o pai e a mãe são capazes de sacrificar a compra do disco de "sua preferência e adquirir mais um elepe da Turma do Balão Mágico ou "Casa dos Brinquedos". Com isto, aquele gênero que o sempre admirável João de Barro, o Braguinha, idealizou há quase 40 anos, quando dirigia a Continental - a série "Disquinho", com estórias infantis - cresceu e multiplicou-se, com variantes internacionais. O pacote de produtos destinados ao público infantil só tem crescido desde realizações esmeraldas, bem acabadas, dignas de figurar entre as melhores do ano - até as mais grosseiras imitações de fórmulas que deram certo. Embora não estejamos na semana da criança, mas considerando as férias escolares, vamos registrar aqui um pouco do que existe nas lojas destinados ao público infantil. OS PRODUTOS CLASSE A - Há 12 anos, numa das primeiras vezes que Vinícius e Toquinho se apresentaram em Roma, desenvolveram um disco de canções infantis. Passaram-se quase 10 anos para que a inesquecível dupla pudesse realizar no Brasil um disco semelhante. O sucesso de "A Arca de Noé", com músicas de Vinícius e Toquinho, em interpretações de diferentes interpretes, foi tamanho que após a morte do poeta (em 8 de julho de 1980), Toquinho produziu - com material ainda inédito - um segundo volume, de sucesso igual ao primeiro. Toquinho não pretendia mais retomar a esta faixa, mas a inspiração de novas canções destinadas ao público infantil, e a facilidade em desenvolver as composições - uma em parceria com seu irmão, João Carlos ("O Robô"), nove com seu fiel amigo Mutinho (Lupicismo Rodrigues Sobrinho) - "A Bicicleta", "A Bailarina", "O Trenzinho", "Os Super Heróis", "O Caderno", "O Macaquinho de Pilha", "A Espinguarda de Rolha", "O Ursinho de Pelúcia", resultaram num material que não poderia deixar de se transformar em disco, especial de televisão e uma peça de teatro (com a participação do grande Elifas Andreato). Resultado: lançado paralelamente a "Aquarela" (um explendido lp de Toquinho, como cantor e violonista em algumas faixas), "Casa de Brinquedos" é um produto classe ª A participação de interpretes como Baby Consuelo, Moraes Moreira, Simone, Lucinha Lins, Cláudio Nuci, MPB-4. Tom Zé, Carlinhos Vergueiro, Paulinho Boca de Cantor, MPB-4, Roupa Nova e, especialmente Chico Buarque (em "O Caderno", a melhor faixa) - mais a introdução de Dionisio Azevedo, fazem deste uma das melhores produções destinados a infância. Há alguns anos, Sergio Ricardo, um dos maiores amigos de Ziraldo, musicou os temas de "Flics" para uma adaptação teatral. Gravado em disco, na Polygram, pelo MPB-4 e Quarteto em Cy, o disco - apesar de sua qualidade, não alcançou o sucesso merecido. O êxito que obteve com várias produções musicais destinadas ao público infantil fez com que a Sigla/Som Livre, se voltasse ao universo mágico de Ziraldo e de uma de suas melhores criações - a revista "Saci Perere" - montasse um excelente produção: "A Turma do Pererê". A exemplo do que foi feito anos atrás na criação da trilha de "O Sítio do Pica-Pau Amarelo", cada personagem foi entregue a diferentes compositores e intérpretes, resultando assim um trabalho criativo, que se pode parecer desigual, não sofre o mal do uniformismo cansativo. O próprio Ziraldo, naturalmente, é letrista de vários temas - em parcerias com Renato Texeira ("Canção dos Caçadores", interpretação de Sergio Reis e Orquestra de Violeiros de Garulhos); ("Estrela", interpretação de Ricardo Graça Mello); Guilherme Arantes ("Acorda Saci", com Wanderleía); Marlui Miranda ("Não se Vá, Tininim, Não se Vá"). Daltonny Nóbrega, um dos grandes talentos da MPB, que fez um dos melhores elepes de 1982 na RCA (injustamente ignorado pela crítica e que teve pouquíssima vendagem) é autor e interprete de duas das melhores faixas: "Mata do Fundão" e "Turma do Pererê; Zezé Motta interpreta "Tininim" (Ivan Lins/ Victor Martins); Luiz Melodia é interprete (e co-autor, com Ricardo Augusto) de "Agulha no Palheiro"); Raul e Kika Seixas são os autores de "Canção do Vento", interpretado pelo Céu da Boca e Marinella Graça Mello interpreta a "Canção de Tuiuú" (Sueli Costa/ Abel Silva). Se, como dissemos linhas acima, há quase 10 anos, quando a Globo iniciou a série "Sítio do Pica-Pau Amarelo", João Araújo/ Guto Graça Mello, da Sigla, entregaram a produção dos temas musicais a diferentes autores, resultando dois excelentes elepes (e temas até hoje em evidência), agora Ricardo Vilas (ex-Momentoquatro; ex-parceiro de Teca Boas, Silvan Paezzo, Monica Ribeiro e Jorge Ferreira, criou 12 temas inspirados nos imortais personagens de Monteiro Lobato levados a televisão e produziu "Faz de Conta/ Ricardo Vilas vai ao Sítio "EMI-Odeon). O próprio Ricardo interpreta cinco faixas: "Cuca Biruta", "O Burro Falante", "Gato, Gato" (dividido com Rita Vilas, sua filha), "Crusoé" e Faz de Conta". Para as demais faixas, convocou gente competente: Beto Guedes ("Mãe Natureza"), Dalto ("Furiosa"), Joyve e Nana Caymmi ("As Sobrinhas"), Gonzaguinha ("Voa Foguete"), Roberto Ribeiro "Canção do Marinheiro), lançando ainda Gabriela Ferreira como cantora ("O Grão Vizir") e chamando sua antiga companheira de exílio parisiense (onde residiram por quase 10 anos). Teca Calazans, em "Meu Califa". "Casa de Brinquedos", "Turma do Perer^" e "Faz de Conta" são três excelentes produções destinadas e não apenas ao público infantil, mas a todos que tem sensibilidade para, tal como numa máquina de tempo, voltarem ao lindo país no qual nós vivemos um dia: a infância.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
15/01/1984

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