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Aramis

A Guitarra de Pass e o sax de Coleman

VIRTUOSO/JOE PASS (PABLO)/ PHONOGRAM, 2310708/junho/75) - Em termos de guitarra no jazz, dois nomes são sempre lembrados com máximo respeito e admiração: Django Reinhardt (Jean Baptiste Reinhardt, Bélgica, 1910 - França 1953) e West Montgomery (John Leslie Montgomery - 1925-1968). Não vamos repetir o chavão de que Joe Pass veio ocupar "o trono vazio". Mas podemos afirmar que ele é hoje um dos mais importantes guitarristas - não apenas em termos de jazz, mas de música contemporânea. Uma prova é este extraordinário "Virtuoso", uma das mais recentes produções de Norman Granz, editado no Brasil poucos meses após ser lançado nos Estados Unidos. Joseph Anthony Passalaqua, seu nome verdadeiro, filho de italianos, nascido em New Jersey, a 13 de janeiro de 1929, estudou com Nick Gemus em Johnstown, Pensilvânia, entre 1939/40. Nesta época integrou a Tony Pastor Orchestra e logo depois saia a tocar com vários grupos, país afora, até entrar na Marinha. Hospitalizado, voltaria após a convalescença a trabalhar em Las Vegas, atuando nos hotéis e cassinos da Capital do Jogo. Depois passaria três anos no U.S. Public Health Texas, retornando depois a Las Vegas. Mas nesta época já estava viciado em narcóticos e praticamente passou alguns anos afastado totalmente do mundo musical, internado no Synanoon Foudation, em Santa Mônica, Califórnia, o mais conhecido hospital de recuperação de toxicômanos dos Estados Unidos. Só depois de 1961, Joe Pass voltaria a trabalhar e, totalmente recuperado, começou a procurar a ajudar outros músicos com problemas idênticos ao seu. E desde 1962 - quando fez o seu primeiro lp ("Soundas of Synanon", Pacific Records), passou a trabalhar com diferentes conjuntos de chamada "West Coast" (Bud Shank, Gerald Wilson, Bobby Troup, Julie London, Clare Fischer, Bill Perkins, Les McCann, Groovie Holmes, Carmel Jones e Page Cavanaugh). Embora como solista, seus discos somente tenha aparecido nos últimos anos, em 1955/56 fez históricos registros, com o grupo de George Shearing. Escrevendo sobre a seleção escolhida por Joe Pass para este "Virtuoso", Norman Granz lembrou que ele incluiu dois itens mais ricos o repertório. "Do mais rico de todos os talentos harmônicos da Broadway", Jerome Kern (1855-1945): "All The Things Your Are" e "The Song Is You", ambas em parceria com Oscar Hammerstein II (1895-1960). Algumas das outras canções neste álbum merecem um tratado só para elas, especialmente "The Man I Love", de George Gershwin (1898-1937); certamente também "Have You Met Miss Jones" de Richard Rodgersa (1912), além de "Night And Day" (o mais conhecido tema de Cole Porter, 1892-1964), "Stella By Starlight", de Victor Young (1900-1956), "Here's That Rainy Heussen), "My Old Flame" (Arthur Johnson-Sam Coslow), "How Hight The Moon" (Nancy Hamilton Morgan Lewis), "Cherokee" (Ray Noble), "Sweet Lorraine" (Clift Burwell-Mitchel Parish), e ""Round Midngiht" (Hanighen-Williams-Thelonious Monk). Um repertório comercial? Jamais. Um repertório conhecido. De momentos perfeitos da música americana, aos quais Pass acrescentou uma própria composição ("Blues For Alican", faixa 5/B). E nas 12 faixas, uma interpretação personalíssima, oferecendo um documento importante da guitarra dentro do jazz. COLEMAN HAWKINS/SIRIUS (Phonogram?pablo, 2310707, julho/75) - Muito já se escreveu sobre Coleman Hawkins (1904-1970), considerado por Leonard Feather como o primeiro sax-tenor proeminente do jazz. Sua importância é enorme e sua obra até hoje permanece praticamente inédita no Brasil, onde poucos de seus (muitos) elepês foram editados. Por isso, o fato de seu amigo Norman Granz ter produzido no segundo suplemento de sua nova etiqueta, a Pablo, um disco com muito amor ("Siríus") e que foi escolhido nos EUA como um dos melhores álbuns do ano passado, não surpreende. Na pessoal nota de contracapa, Granz fala de que sua admiração por Hawkins começou em 1935, quando ouviu sua gravação de Stardust". - "Por toda minha vida, desde então, Hawkins tem sido uma espécie de estrela guia musical, como deve ter sido para milhares de outros músicos, uma fonte infalível de sabedoria melódica e harmônica, da qual brotavam, vez por outra, as afirmações definitivas do jazz de cada época. Em 1939, Hawkins fêz a sua gravação mais famosa, "Body and Soul". Granz raciocina, também, que "nos últimos 20 anos de sua vida. Hawk era incensado onde quer que fosse, mas mesmo assim, sempre suspeitei de que apesar dos abraços, as recepções principescas, as badaladas de superlativos, Hawk permaneceu sendo um músico subestimado e não inteiramente entendido. Não que algum de nós tenha sido tardio em reconhecer o seu gênio. Mas a grande extensão de sua obra permaneceu negligenciada porque nunca houve bastante tempo para digeri-la. O que Hwak podia tocar em cinco minutos, pode tomar à mente contempladora cinco anos para penetrar suas profundezas". Realmente, o feeling, a extensão de casa solo ou cada arranjo de Hwkins, faz com que se absorva cada faixa deixada por Coleman Hawkins como uma lição maior de um músico iluminado - em seu instrumento comparável a gênios como Louis Armstrong (1900-1971), Charlie Parker (1920-1955) ou Duke Ellington (1899-1974). Neste "Sirius", com temas conhecidos ou outros menos populares, Hawkins oferece uma rara síntese do que de mais expressivo já se pode ouvir no jazz instrumental, em solos de sax: "The Man I Love" (George & Ira Gershwin), "Don't Blame Me" (D.Fields/J. McHugh), "Just a Gigolo" (I. Caeser/ J. Brammer/ L. Casucci), "The One I Love" (Belongs To Somebody Else (Isham Jones/ Gus Kahn), "Time On My Hands" (Haroldo Adamson/Mack Gordon), "Sweet and Lovely" (Gus Arnheim-Harry Tobias-Jules Lemare), "Exactly Like You" (D. Fields-J.McHugh), "Street of Dreams" (Sam M. Lewis - Victor Young) e "Sugar" (Pinkhard - Mitchell). MAHAVISHNNU ORCHESTRA - Dentro da música americana nos últimos oito anos, uma das presenças mais vigorosas tem sido a do guitarrista John McLaughlin. Terrivelmente criativo e original. McLaughlin com sua Mahavishmmu Orchestra, tem sido um dos poucos instrumentistas capazes de fundir, com segurança, o que existe de melhor na música pop com o que há de mais seguro no jazz, sem desprezar outras influências (música incidental, orientalismo, presente em sua própria religiosidade e no nome do grupo). Dois lançamentos relativamente recentes, permitem conhecer dois trabalhos instrumentistas. Em "Visions of the Ermerald Beyond" (CBS 137878), gravado entre 16 a 24 de dezembro de 1974, McLaughlin, executa guitarra de 6 e 12 cordas, o francês Jean Luc Ponty, violino elétrico; Michael Walden, bateria, percussão, vocal, clarineta; Ralph Armstrong, guitarra, baixo e vocal; Gayle Moran, teclados e vocal; afora a participação de um trio de cordas, mais o trupetista e flautista Bob Knapp e o sax alto Russel Tubbs. Toda esta equipe, desenvolve 11 temas de Mahavishnnu John McLaughlin, e apenas um de outro autor: "Cosmic Strut" (M. Walden), "Jezabel Om Collection" (Phillips/MC-002, junho/75), já mostra outra formação: Badal Roy, Dave Herbman, o paranaense Airton Moreira, Charlie Haden, Billy Cobhan e Jerry Goodman, em diferentes instrumentos, garantindo a McLaughlin desenvolver no lado um, uma longa peça, quase sinfônica, enquanto no lado dois, há um middley de 8 temas, incluindo temas que vão de Charles Mingus ("Goodb e Pork-Pie Hat") a Chick Corea ("Waltz for Bil Evans), afora um encerramento magnífico com "Blue in Green" de Miles Davis. Mahavishnu / John McLaughlin é, como o brasileiro Caetano Velloso, um músico/compositor inquieto/inquietante, sempre em busca de novos caminhos. E que tem que ser ouvi/visto com muita (sempre) atenção.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
27
17/08/1985

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