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Aramis

Guaíra: Cz$ 6 mil em caixa e Cz$ 4 milhões em dívidas

O susto não poderia ter sido maior. Sábado, às 9 horas, reunidos na sala da superintendência da Fundação Teatro Guaíra, os novos diretores tomaram contato com os primeiros dados de uma grave situação: a situação desesperadora, em termos financeiros, em que se encontra a principal unidade executiva da política cultural do Estado. Quando o superintendente Constantino Viaro perguntou ao contador-chefe, Tadeu Júnior, a disponibilidade em caixa, a informação foi de espanto: Cz$ 6 mil depositados no Banco do Estado do Paraná. Mesmo considerando que a greve dos bancários impediu que fossem depositados os 10% referentes às duas apresentações de "Gal Costa In Concert", aos quais acrescenta-se o percentual de bilheteria de "O Mendigo E O Poeta", show de Gilberto Gil/Jorge Mautner, no último fim de semana - a situação continua precaríssima: o Guaíra está praticamente quebrado em termos de recursos. O orçamento elaborado para 1987 foi feito com excesso de otimismo, confiando-se nos resultados ainda do Plano Cruzado I e assim sua dotação oficial - pouco mais de Cz$ 30 milhões - é inferior a de 1986. Só para pagar a sua folha de pessoal - mais de 400 pessoas - será necessário, a curto prazo, uma suplementação de Cz$ 17 milhões. xxx Apesar de ser uma fundação - e portanto em condições de buscar recursos externos - o Guaíra sempre dependeu basicamente do governo. Já houveram muitas fases de vacas magras mas a situação a que se chegou agora é das mais sérias. Como o Estado também está em vermelho, dificilmente haverá suplementação para outros recursos que não o pessoal, o que significa que os novos diretores, assumindo com entusiasmo e muitas idéias, estarão de mãos atadas para desenvolverem qualquer projeto artístico. Mas a situação tem outras agravantes. Como a Fundação há muitos anos foi multada pelo INPS, a dívida subiu e, feito acordo de parcelamento - com pagamentos mensais ao redor de Cz$ 130 mil - estes deixaram de ser pagos nos últimos meses. Assim, há novas multas, juros e uma dívida legal que oscila ao redor de Cz$ 4 milhões. Sem qualquer possibilidade de renegociação. Ou seja, se o Guaíra não pagar, a Previdência Social pode executá-la a curtíssimo prazo. A antiga diretoria praticamente bloqueou as informações reais, de forma que só no sábado, pela manhã, numa primeira reunião com a contabilidade, os diretores Constantino Viaro, Lúcia Camargo e Joel de Oliveira tomaram contato com a situação dramática da Fundação. Há problemas em diversos setores, inclusive de pessoal, com desequilíbrios entre pagamentos a funcionárias (uma secretária tem um salário de Cz$ 18 mil em contraposição a média de Cz$ 3.500,00 pagas às outras) e, como sempre acontece em mudança de administração, denúncias afloram. Inexiste, de parte da nova diretoria, a intenção de demitir qualquer funcionário, apenas a de ajustar as funções, salários, e fazer com que o corpo funcional atue uniformemente. xxx Na própria Secretaria da Cultura, a situação financeira não é das melhores - como aliás em todo o governo, já que apesar da campanha publicitária em que o ex-governador João Elísio, estourou bilhões de cruzados para autoelogiar-se, o Paraná está com seu caixa a zero. A falta de recursos não desanima ao secretário René Dotti, mas agora, mais do que nunca, só com a decisiva participação do empresariado paranaense, utilizando os recursos da Lei Sarney (que permite ainda o abatimento do Imposto de Renda para o ano fiscal de 1986, nas declarações a serem entregues até o dia 16), é que se tornará possível desenvolver alguns projetos a curto e médio prazos. Por exemplo, com a Fundação Teatro Guaíra sem recursos para qualquer produção própria, ficam imobilizadas desde a montagem de novos bailados - como "O Romance Das Quatro Luas", de Chico Buarque/Edu Lobo/Ferreira Gullar (que já foi pago - Cz$ 600 mil - aos autores) até ajuda a iniciativas externas, como a "Feira de Teatro", que a respeitada atriz Madeleine Nichols quer realizar no Parque São Lourenço. O projeto de Madeleine - que está em Curitiba há quatro meses, ensaiando várias peças simultaneamente - exigirá recursos de mais de Cz$ 1.500.000,00 e, até agora, foram obtidos pouco mais de Cz$ 50 mil. xxx Estes são apenas os primeiros números de uma realidade necessária de ser divulgada. Como diz o superintendente Constantino Viaro, com sua experiência de organizado dirigente cultural, "as surpresas parecem que são grandes e há que se ter facas afiadas para descascar estes abacaxis... ou melhor, bombas de efeito retardado".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
31/03/1987

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