Login do usuário

Aramis

Glass inspira-se em Itaipu para compor sua nova ópera

O cineasta Alberto Graça, mineiro de Montes Claros, foi o primeiro a pensar numa superprodução ambientada em Itaipu, com seqüências espetaculares e uma trama movimentadíssima. Entretanto, o projeto foi arquivado - enquanto ele preferia trabalhar em filmes menos ambiciosos. Agora, entretanto, há um projeto mais viável - e já em andamento - que retoma Itaipu como tema: uma ópera sobre uma história de amor. Há alguns meses, quando percorria o Brasil, o compositor de vanguarda Philip Glass, 51 anos, esteve com seu amigo, o diretor teatral Gerald Thomas, em Foz do Iguaçu. Ao visitar Itaipu, ficou impressionado com a grandiosidade da maior hidrelétrica do mundo e que, em outubro de 1982, provocou o fim das Sete Quedas a 200 km da barragem, rio acima. Nasceu então a idéia de fazer uma ópera a respeito - conforme revelou o jornalista Vitor Palozzi, da "Folha de São Paulo", em matéria publicada na última segunda-feira, 29, na capa da Folha Ilustrada. Antes de ficar pronta como ópera - que terá texto e direção de cena de Gerald Thomas e possivelmente trechos cantados em tupi - "Itaipu"estreará em abril de 1989, como peça para orquestra e coro, com sua primeira audição em Atlanta, Estado da Geórgia, EUA, sob regência de Donald Russell Davies. xxx Compositor de obras vanguardistas, identificadas ao chamado minimalismo, e que só nesta década passou a ter suas obras divulgadas no Brasil (até agora, teve 5 álbuns aqui editados) mas que ficou conhecido especialmente pela magnífica trilha sonora que criou para o filme "Koyanisquaatsi", de Godfrey Raggio (editada pela CBS/Museu do Disco), Glass estreou recentemente três novas óperas: em maio, "The Fall of the House of Usher" (A queda da Casa dos Ushers), baseada em conto de Edgar Alan Poe (1809-1849); e em julho último, "The Making of the Representative for Planet 8", sobre a novela da escritora Doris Lessing e "1000 Airplanes on the Roof", uma ficcção científica criada junto com o escritor David Henry Hwang e o cenógrafo Jerome Sirlin. Entrevistado, por telefone, por Victor Palozzi, em sua casa, em Mabou Mines, no Canadá, Philip Glass explicou porque optou por Itaipu - e não pelas cataratas do Iguaçu - para compor uma obra grandiosa. - "Itaipu é uma coisa como inferno no paraíso e paraíso no inferno. A escala humana é desrespeitada apesar de ser construída por humanos. Como na caótica terminologia Koyanisquaatsi, o estado da natureza foi alterado para atingir o lucro humano num prazo curto. O que me interessa é a idéia de que projetos progressistas, às vezes até perigosos, podem ser circundados por poesia: Itaipu significa "a pedra cantante". Foz é naturalmente bela, dentro de um conceito de belo antigo estabelecido pelo homem. A sua espiritualidade é totalmente ligada a Deus. Eu prefiro me dedicar a coisas mais perigosas e construídas pelo homem". Philip Glass trabalha rápido e esta sua nova obra independe de qualquer patrocínio ou ligação com a Itaipu Binacional, muito pelo contrário. Não há previsão de sua edição, sequer em disco, no Brasil, e antes da ópera, haverá a música para orquestra e coro, que a Sinfônica de Atlanta estará apresentando dentro de apenas oito meses. Philip Glass também explicou à Folha Ilustrada, a razão da mesma ter o privilégio de fazer a estréia mundial da peça: - "A Sinfônica de Atlanta me encomendou uma coisa nova, escrita especialmente. Isso já havia ocorrido antes e eu não tive tempo. A orquestra ganhou uma reputação excelente e resolvi então aceitar o convite desta vez. A orquestra de Atlanta é ideal por ser muito boa e por não ter uma importância tal que lançasse exclusivamente o trabalho, impossibilitando a mim mesmo de mudá-la, mesmo como sinfonia ou para ópera". Compositor da maior versatilidade, sem se deixar amordaçar por rótulos, Philip Glass e seu ensemble, foi a grande inovação do III Free Jazz-1987, com aplaudidíssimas apresentações em São Paulo e Rio de Janeiro. Também a idéia de utilização do tupi na obra, não surpreende, pois embora diga adorar o som da língua portuguesa, Glass acha que a mesma não se adapta ao projeto. Está, portanto, pensando na utilização do tupi. Em "Satyagraha", outra de suas óperas, usou o escrito em sânscrito; "Ahnaten", em egípcio e "Eiseinstein on the Beach" conta com números nas letras - óperas sobre Gandhi, o faraó egípicio e o cientista. - "É importante para mim passar um som natural da coisa como ela existe, ao invés de didaticamente transformar este som em uma outra linguagem".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
02/09/1988

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br