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Aramis

Gio, um concerto do melhor violão

Há exatamente um ano, Cupertino Amaral, 53 anos, uma das pessoas mais estimadas dos bons tempos de boêmia musical curitibana, procurou as entidades (ditas) culturais da cidade em busca de um auditório em que seu filho, Gio, pudesse fazer um recital de violão. Advogado com 30 anos de atuação na cidade, bem relacionado, ex-chefe de gabinete de Carlos Alberto Moro quando este ocupou a Secretaria da Educação e Cultura, Cupertino esperava encontrar boa vontade para o seu pedido. Afinal, seu filho, Gio (Luís Roberto Amaral, 26 anos) há muito é um violonista de talento reconhecido, já fez concertos no Uruguai e seu curriculum ocupa uma dezena de páginas de um bem montado portfolio. Triste engano! Cupertino ouviu desculpas ("as datas estão comprometidas"), alegações furadas e, cansado, tomou uma atitude prática: alugou o Teatro do SESI e ali, no dia 30 de novembro, promoveu o concerto do Gio. Pagou as despesas da sala, cuidou da promoção, contratou uma equipe de som e produziu até um minicassete, com 60 minutos de espetáculo, que teve a tiragem (500 cópias) esgotada em poucas semanas. O público que lotou o teatro vibrou e, no final, feito as contas, houve até lucro. Um evento cultural bancado corujamente pelo pai. Sem a menor ajuda de qualquer órgão da cidade que emprega mais de 500 pessoas entre secretarias, fundações e outros organismos que, oficialmente, tem a obrigação de promover os artistas da terra. xxx Este ano, por insistência de amigos, Cupertino resolveu produzir mais um concerto para seu filho. Só que desta não terá que pagar aluguel do teatro. Bastou consultar a Fundação Teatro Guaíra para conseguir uma data - dia 22, segunda-feira - para o concerto. No mais, o mesmo esquema do ano passado: a divulgação está sendo por sua conta e, novamente, o espetáculo deverá ser gravado para posterior edição em fita, com uma tiragem particular. Cupertino e sua esposa, dona Joenilda, tem razão de serem corujas: Luís Roberto, o Gio, é um violonista em escalada, que tem merecido elogios e admiração de gente como Sebastião Tapajós, que, em cada passagem por Curitiba, não deixa de procurá-lo. O filho mais velho, José Augusto, 27 anos, embora não tenha pretensões profissionais, herdou do pai uma habilidade rara: percussionista de caixa-de-fósforos. Quando a família toca unida - Gio no violão, Cupertino e Luís Augusto na caixinha-de-fósforos, pára gente para ouvi-los. xxx O concerto de Gio, na segunda-feira, incluirá peças de autores que ele admira - do paraguaio Agustin Barrio a Baden Powell, passando por clássicos como Villa-Lobos. Talvez até se disponha a mostrar alguma nova composição, há tempos que Gio vem desenvolvendo sua face de compositor, com algumas parcerias enriquecidas pela lírica do amigo Paulo Vitola, outro talento desta cidade que, preso a compromissos na publicidade e na assessoria da Secretaria da Comunicação, pouco tem circulado pela noite - mas que continua a fazer músicas belíssimas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/11/1987
Fiquei feliz de reler a matéria sobre mim. Aramis além de ser um grande jornalista foi um grande amigo. Saudades! Gio Amaral

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