A gincana dos 10 mil
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de maio de 1980
Pelo menos durante 60 horas neste último fim de semana mais de 10 mil pessoas estiveram, direta ou indiretamente, ligadas à gincana promovida pelo Clube Curitibano, que contando com a participação de 13 equipes, movimentou os mais diversos recursos para solucionar os inúmeros itens das 32 provas nos 20 roteiros distribuídos a partir do meio-dia de sexta-feira. Das questões mais difíceis ou curiosas até uma verdadeira movimentação cênica - a chegada de Dom Pedro II e sua comitiva a Curitiba, apresentada na noite de domingo, no Largo da Ordem, fizeram com que, este ano, a promoção que o Curitibano Jr. vem realizando há quase 20 anos, tenha tido uma repercussão muito maior.
A uma hora da madrugada já de segunda-feira, alguns dos dirigentes da equipe Pool - a vencedora da gincana, chegava no pizzaria Baviera, para , enfrentando alguns quilos de massa, recuperar as energias dispendidas para chegar ao bom resultado obtido. Independente do recurso que a equipe classificada em terceiro lugar - a << Excede >> - impetrou e que a comissão organizadora da promoção julgou na tarde de ontem, os quase 500 integrantes da Pool, comemoravam já o bicampeonato, sucedendo assim os << Les Paxás >>, que durante muito tempo venceram as gincanas que tradicionalmente são realizadas durante o << Festival de Maio >>.
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A relação do prêmio oferecido - Cr$ 130 mil - aos gastos que cada equipe teve, é impressionante: a gasolina nos centenas de veículos utilizados, telefonemas interestadual e internacional, despesas extras, fez com que cada equipe tivesse que formar um fundo, fosse através de patrocínio de firmas ou mecenas familiares, ou pela cobrança de uma taxa de até Cr$ 500,00, de cada participação. Das 13 equipes inscritas, apenas uma desistiu logo nas primeiras provas - a << Castel Franco >>, enquanto as demais - numa média de 300 a 400 integrantes cada - somaram um mínimo de 5 mil pessoas, incluindo familiares e amigos que se dispuseram a colaborar na solução das mais diferentes provas. Somando-se ao número de pessoas contatadas em busca de possíveis soluções, o fato é que a gincana transcendeu a área puramente social, para movimentar toda a cidade. Rubens Marchand, 52 anos, diretor social do Curitibano, ex-diretor do Departamento de Educação Física e Desportos da SEC e hoje diretor administrativo da Clinihauer, passou praticamente em tempo integral, dedicando-se à organização da gincana, por mais de um mês. Junto com apenas quatro outros diretores do Clube - Alberto Carazzai, Cláudio Kirila, Raul Maria Sobrinho e Júlio Cesar Macedo, e dois consultores que organizaram a bateria das provas culturais (um deles o ex-presidente do Curitibano, Mbá de Ferrante, há 24 anos diretor do Arquivo Público do Estado), Marchand era o único que sabia a solução das provas - ou tinha o seu conhecimento prévio. Houve preocupações em alternar as questões culturais - desde perguntas simples como quem foi Jane Seymour (uma das 6 esposas de Henrique VIII) até centenas de questões relacionadas a Camões e Dom Pedro II - com perguntas esportivas (por exemplo, qual o nome verdadeiro de << Sugar >> Ray Robinson, pugilista americano nascido em 1922), e a parte social. Uma das tarefas ontem, foi de cada equipe levassem alimentos, roupas etc. a entidade filantrópicas, paralelamente a coleta de donativos que formaram uma verdadeira montanha de doações, que nesta semana, a diretoria do CC encaminhará às mais necessitadas. Para outra das provas de domingo - a formação de um grupo musical, com profissionais associados do Curitibano - houve até quem levasse um piano, já que o item dizia que os músicos deveriam << levar os seus instrumentos >>.
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Mas foram algumas questões culturais que mais quebraram a cabeça das equipes. Por exemplo a definição exata do que é o Kremlim, levou a coordenação da equipe Pool, instalado na mansão de Vera miralha, no Jardim Los Angeles, a tentar até ligações com Moscou. Como o DDI não permitiu o contato devido ao fuso horário, após delicadas (e demoradas) conversações com diplomatas da Embaixada da URSS, em Brasília, conseguiram os dados necessários. Outra prova que levou a telefonemas internacionais, foi para localizar os nomes dos artistas de quatro palamas de mãos na galeria existente na, frente do Chinese Theatre, em Hollywood, Los Angeles.
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Para o grande encerramento - a encenação da chegada de Dom Pedro II a Curitiba, por coincidência a primeira prova dada na sexta-feira ao meio, as equipes mobilizaram figurinistas, cenógrafos e até atores e atrizes. O médico Nelson Gorschen, 30 anos, carioca, há 2 meses em Curitiba - e que se integrou na << Pool >> , devido à sua noiva, filha do engenheiro Maurício Schulmann, ser uma de suas dirigentes, passou várias horas ao telefone, falando com D. Pedro Orleans e Bragança, em Petrópolis, RJ, obtendo informações que contaram muitos pontos. A encenação da chegada de Dom Pedro II a Curitiba, pela << Pool >> - que também tinha entre seus integrantes, a filha do ex-ministro Karlos Rischbieter, Mônica, 19 anos - se constitui num espetáculo a parte, com Ricardo Almeida (filho do empreiteiro Cecílio Rego Almeida) como Dom Pedro II e a bela Maria Teresa Pietro nos trajes da imperatriz Tereza Cristina. Lamentavelmente, a encenação final, que foi um espetáculo cênico ao ar livre, não foi documentada em filmes ou fatos embora a Casa Romário Martins, tivesse se envolvido diretamente na sua promoção.
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