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Aramis

Gibi é coisa séria

Durante quase meio século, elas foram perseguidas e exacradas por pais e educadores - acusada de prejudicar a formação e o ensino das crianças. Há 34 anos, um americano fanático fez um libelo a respeito - "The Seduction of the Innocents", de Frederic Whertan (Rinehart House, New York, 1954), no qual coloca os heróis dos quadrinhos como terríveis vilões. Hoje, constituem matéria de teses universitárias, com uma bibliografia que passa dos 300 títulos e estudiosos que há muito deixaram as verdes paragens da infância. Um exemplo bem curitibano: o professor Kamil Gemael, da Universidade Federal do Paraná, nome maior da astrofísica, é dono de uma coleção de revistas de quadrinhos que faz páreo com a de Key Imaguire Jr., também mestre de nossa septuagenária universidade. Há 23 anos, quando Sérgio Augusto iniciava uma pioneira coluna especializada sobre quadrinhos no "Jornal do Brasil", "O Estado do Paraná", em suas edições dominicais, abria toda uma página para que pesquisadores locais - como Denisar Zanello Miranda (já falecido), Célio Guimarães e mesmo Francisco Camargo (hoje secretário de redação do "Correio de Notícias"), mostrassem em despretensiosos textos o lado mais sério dos quadrinhos. Em 1972, uma publicação da Fundação Cultural de Curitiba ("Gibi é Coisa Séria") reunia vários artigos e era lançado quando uma grande mostra de quadrinhos movimentava o então recém inaugurado Centro de Criatividade no Parque São Lourenço. xxx Do alemão William Rubschel (1832-1908), precursor dos quadrinhos com a terrível dupla "Max un Moritz" (1865) e do norte-americano Richard Outcault (1863-1928) que com "Yellow Kid" (1895) é reconhecido como o pioneiro dos quadrinhos nos EUA (no ano seguinte, o New York Journal já editava uma seleção completa de "comics", incluindo "Tatzenjammer Kids", de Dirks, entre outros), os quadrinhos demorariam ainda quase 40 anos para chegar ao Brasil - em que pese um certo pioneirismo nas páginas de revistas não especializadas como "O Tico Tico" (a partir de 1905). Seria Adolfo Aizen, hoje com 84 anos, presidente da Editora Brasil América (que chegou a ser a maior editora de quadrinhos da América do Sul), quem realmente estruturou editorialmente os quadrinhos no Brasil, através das páginas de seu "Suplemento Juvenil", inicialmente como encarte de "A Nação" (depois "A Noite"), que ganhou autonomia e foi a base de sua editora, fundada em 1945 - e que até hoje edita "Tarzan", uma das publicações de maior circulação. Uma cronologia das HQs - como a que o especialista Álvaro Moya organizou em 1970 ("Shazam", 341 páginas, editora Perspectiva) traz revelações interessantíssimas sobre a evolução dos quadrinhos - e os espaços que passaram a ocupar especialmente a partir dos anos 30. Dez anos antes do raivoso ataque de Wertham ("Seduction of the Innocents"), outro americano, Martin Sheridan já fazia uma apologia do gênero em seu igualmente clássico "Comics and Their Criators" (Hyperion Press, 301 páginas). Hoje, como Will Eisner - criador do "Spirit" (que está agora sendo lançado no Brasil) disse a Key Imaguire, no Canadá, os quadrinhos deixaram de ser encarados como "coisa para crianças". Ao contrário, através dos chamados quadrinhos para adultos, o erotismo criou novas dimensões nas aventuras de "Valentina" do italiano Guido Crepax - uma das séries que a editora gaúcha L&PM vem lançando com sucesso, ao lado de outros álbuns cult, como os de Hugo Pratt ("Corto Maltese"), e aventuras clássicas de Nick Homes (Alex Raymond) e Dick Tracy (Chester Gould). A EBAL, com o maior acervo dos quadrinhos, reeditou em álbuns as melhores histórias de Tarzan (vários desenhistas, inclusive o mestre Brunne Hoggarth), Flash Gordon (Ryamond) e Príncipe Valente (Hal Foster).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
12/10/1988

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