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Aramis

Geléia Geral - Um pouco de leitura para a nossa música

A pesquisadora Irati Mattos, autora de uma premiada monografia sobre o violonista Garoto (Aníbal Augusto Sardinha, 1915 - 1955) trabalha atualmente em uma nova bibliografia da MPB, que deverá ampliar o excelente trabalho do professor Alceu Schwaab, que, por sua vez, teve uma primeira proposta a respeito do levantamento de tudo que já se publicou a nossa música popular inspirado inicialmente num ensaio do grande Lúcio Rangel, editada depois com um opúsculo pela Livraria São José. Com pretensões de inventariar também ensaios e artigos sobre figuras e coisas da MPB, o trabalho da jovem Irati, será, sem dúvida uma boa contribuição para quem se interessa pelo nosso cancioneiro - em seus diferentes aspectos. E se até 10 anos passados, a bibliografia sobre MPB era mínima, hoje a mesma já está robusta - pois ao lado da mão firme que o sempre admirável Hermínio Bello de Carvalho deu ao setor editorial, através da Divisão de Música Popular/INM/Funarte - especialmente com o Projeto Lúcio Rangel de Monografias, outros pesquisadores interessaram-se pelo tema, resultando assim ensaios, biografias, interpretações etc. que estão merecendo acolhida das editoras. Eis alguns exemplos recentes. xxx João Batista Vargas organizou para a coleção Debates Culturais, da Vozes, um ótimo volume de ensaios: "Notas Musicais Cariocas". Em 156 páginas, estão textos de Marília Barboza Silva falando sobre o Choro; "O Malandro do Samba (De Sinhô e Bezerra da Silva)", de Cláudia Neiva de Mattos; o próprio João Baptista explicando a importância da Quilombo em sua proposta de retornar às raízes do Samba; o ensaio do compositor e pesquisador Nei Lopes sobre "Pagode, o Samba Guerrilheiro do Rio"; Lilian Newlands falando sobre a velha guarda da Portela; Valeria Fernandes relembrando "O Jongo no Rio de Ontem e de Hoje" e Hiram Araújo rememorando "A Saga dos Sambas de Enredo". Um livro indispensável. xxx Incansável pesquisador da música e dança no Rio Grande do Sul, o grande - em obra e também fisicamente - João Carlos D'Ávila Paixão Cortes, 59 anos, é um dos mais respeitados estudiosos da cultura popular do Rio Grande do Sul. Ao lado de Barbosa Lessa fundou em 1947 o C.T.G. Júlio de Castilhos - pioneiro do movimento de revalorização nativista e nunca parou de trabalhar na área: gravou discos, formou grupos de canto e dança que já foram várias vezes ao Exterior (ainda há pouco retornando de Londres), dirigiu o Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore e sempre publicou livros e ensaios importantes. Descobriu, por exemplo, o pioneirismo gaúcho na produção fonográfica - comprovando fartamente suas pesquisas, com filmes em super 8, slides e livros. Agora, após seu "Danças e Andanças da Tradição gaúcha", em parceria com seu fiel amigo Barbosa Lessa (Editora Garatuja, 222 páginas), lança mais dois trabalhos: "Novas Danças do Rio Grande Antigo" (64 páginas) e "Festas Juninas e dos Santos Padroeiros" (14 páginas). Produtor de dois dos programas de maior audiência na Rádio Guaíba, Paixão já tem outros estudos prontos para publicação: "Fandgucios e Cantigas Gauchescas", "Festejos do Ciclo de São João na Tradição Gaúcha" e "Folclore Gaúcho - Festas, Bailes, Música e Religiosidade Rural". Em todos seus livros, Paixão vai a fundo trazendo informações das mais preciosas - e fazendo com que cresça cada vez mais admiração pelo seu trabalho. xxx Pena que Fernando Lobo, 71 anos, jornalista, compositor, homem de tantas estórias na MPB, não se anime a escrever suas memórias. Em compensação, ele tem feito estórias infantis e desde "O Menino e o Trem" (que também transformou num belo elepê pela Philips, há quase 20 anos) escreveu várias estórias para as crianças. A última delas é "A Ilha Feliz", que com ilustrações de Nelson Macedo saiu há pouco pela José Olímpio. Por outro lado, compositores também estão se voltando à literatura infantil: além de João Bosco e Rita Lee também Moraes Moreira decidiu fazer um obra para as crianças: "Instrumentos de Deus - Um Livro que Toca", com ilustrações de Romero Cavalcanti, editado pela José Olímpio. xxx Luiz Gonzaga, 76 anos a serem completados no próximo dia 13, pernambucano de Exu, é, ao lado de Dorival Caymmi, 72 anos e do carioca João de Barro (as vésperas de completar os 80 anos no próximo 29 de março, motivo para uma série de comemorações, a começar pela edição de um disco e livro, produzidos por Jairo Severiano), um dos três grandes da MPB. São mais de 50 anos em que o velho "Lua" vem participando da MPB e tantas estórias já foram reunidas por seu amigo Sinval Sá em "O Sanfoneiro do Riacho da Brígida", que já passou das seis edições. Só que é difícil encontrar este livro, lançado por uma editora de Brasília (Tesaurus). Agora, pela Ática, temos outra biografia: "Luiz Gonzaga, o Rei do Baião - Sua Vida, Seus Amigos, Suas Canções", de José de Jesus Ferreira (143 páginas, capa de Ary Normanha). Com a inclusão de uma completa discografia de Gonzaga trata-se de um livro referencial básico. Anteriormente, a mesma Ática já havia editado outro importante livro biográfico de figuras populares da MPB: "Da Beira da Tuia ao Teatro Municipal", da dupla Tonico e Tinoco. xxx Mesmo sem ser um compositor popular, nordestino e boa cepa, é daquelas riquíssimas personalidades. Assim, o livro que os irmãos Amorim Filho e Expedito Duarte, publicaram sobre "Seu Zé da Paraíba" (Ahimsa, 155 páginas), se inclui entre as obras que não podem faltar aos que se interessam em conhecer as coisas de um Brasil de Raízes. Amorim e Expedito são responsáveis pelo programa "Nas Quebradas do Sertão" (Rádio Bandeirantes de São Paulo), na qual lutam pela divulgação da música brasileira, especialmente a nordestina. E como este "Seu Zé da Paraíba", oferecem um perfil de um exemplo de talento autóctone, sincero e que tantas vezes se perdem sem uma documentação. xxx O editor Jorge Zahar está mostrando grande sensibilidade para a área da cultura musical. Enquanto a tradicional editora Zahar, tem um catálogo internacional com os chamados "Clássicos da BBC" e, no ano passado, publicou o dicionário de música, do crítico Luís Paulo Horta, Jorge Zahar encomendou ao jornalista e pesquisador de jazz Luiz Orlando Carneiro, há anos na direção da sucursal do "Jornal do Brasil", em Brasília, um livro para quem se deseja iniciar no jazz. O resultado é "Óbras-Primas do Jazz" (177 páginas, Cz$ 80,00) com apresentação de José Domingos Raffaelli, crítico de jazz do JB e, sem favor, um dos maiores conhecedores desta música não só entre nós mas entre os estudiosos de todo o mundo. Luiz Orlando, que além de jornalista, é também artista plástico, também conhece jazz como poucos e, num livro ao estilo do mestre Leonard Fearher, neste "Obras-Primas do Jazz", faz um paciente e corajoso trabalho de apresentação ao leigo das mais importantes gravações da história do Gênero. Como bem lembrou José Nêumane Pinto, "trata-se de um trabalho original, porque se situa entre o enciclopédico e o introdutório, o crítico e o meramente impressionista, pois é claro que as preferências pessoais do autor interferem muito na seleção daquilo que é apresentado ao leitor como "antológico". Trata-se, de qualquer forma, de obra indispensável. Só traz uma frustração aos noviços do jazz: onde encontrar os discos incluídos por LOC como as obras-primas do Jazz. O que prova de que apesar de muitos elepês de jazz terem sido lançados no Brasil nos últimos anos, ainda continuamos engatinhando no gênero...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
30/11/1986

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