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Aramis

A geléia geral com Kid e as Coconuts

Em São Paulo e Rio de Janeiro, as apresentaçõs de Airto Moreira e Al Di Miola acontecerão uma semana antes da temporada de Kid Creole & The Coconuts. Em Curitiba, por uma estranha questão de datas livres e aproveitamento da excursão dos dois artistas, estarão ocorrendo em dias seguidos, para prejuízo do público, que dificilmente terá condições de pagar os ingressos para assistir os dois espetáculos. Diferentes entre si, mas ambos de categoria internacional e que não custarão menos do que Cr$ 100 mil a entrada. xxx Airto Moreira não precisa de apresentações. Em 11 anos, por 10 vezes liderou o Jazz Poll da "Down Beat" como melhor percussionista. Consagrado nos Estados Unidos, fazendo excursões pela Europa e Oriente, tem um público seguro, participação em mais de 300 lps e 15 álbuns-solos, o último dos quais, "Humble People", dividido com sua esposa, Flora Purim, saiu há poucos meses. Também Al Di Miola, 39 anos, guitarrista, é dos mais conhecidos. Fez parte do grupo "Return To Forever" (onde também atuavam Airto e Flora), participou de inúmeros LPs de jazz e, como solista, tem oito álbuns, além de ter desenvolvido com dois outros virtuoses da guitarra - o inglês John McLaughlin e o espanhol Paco de Lucia - um extraordinário trabalho de trio acústico, perpetuado em dois históricos lps ("Friday Night In San Francisco" e "Passion, Grace & Fire"), editados no Brasil pela Polygram. xxx Em compensação, até agora poucos conhecem Kid Creole and the Coconuts. Nos últimos dias de dezembro, devido à apresentação que este grupo fez no Carnegie Hall, em Nova Iorque, saíram algumas matérias na imprensa nacional - falando deste grupo que há três anos não se exibia nos Estados Unidos. Na Europa, entretanto, platéias de até 75 mil pessoas lotaram estádios no verão de 1985 para conhecer o show de Kid Creole And The Coconuts, que mistura rock and roll, reggae, salsa, black music etc. numa geléia geral que é o próprio reflexo da música de consumo que nasce em Nova Iorque. O grupo é formado por 13 músicos, liderado por Kid Creole - na verdade August Darnell, novaiorquino do Bronx, trinta e poucos anos. O grupo já fez cinco LPs - dos quais apenas dois editados no Brasil: "Off the Coast of Me", "Fresh Fruit in Foreign Places", "Tropical Gangsters", "Doppel-Ganger" e, por último, "In Praisex of Older Women and Other Crimes". Para o público masculino a atração maior são as três Coconuts - belas e loiras vocalistas (uma norte-americana, uma sueca e outra suíça) e o destaque é o eclético Coati Mundi (Andy Hernandez), múltiplo instrumentista e showman. O grupo tem saxofonistas, baixistas e percussionistas, quase todos trabalhando juntos há três anos. xxx Pepe Escobar, o vanguardista repórter da "Folha de São Paulo", agora em Londres mas que em dezembro assistiu a apresentação de Kid Creole and The Coconuts, no Carnegie Hall, escreveu a respeito: "Com sua elegância cool anos 50, seu séquito de personagens calientes e suas histórias de amores transatlânticos, Kid compõe uma das mais divertidas mitologias do universo pop. Kid é um garoto do Bronx que cresceu vidrado em fantasias de Hollywood e big bands. Ninguém diria. Ou quase. Parece um cafetão porto-riquenho. De bigodinho, com uma ginga de corpo terrífica e rotinas de dança de tirar a respiração. O conjunto de performances é um dos mais profissionais da indústria. Mas Kid não é o chamado "sucesso de público" internacional que deveria. Não toca muito no rádio. Não passa na MTV. Não vende muitos discos. Mas é uma das bandas favoritas de qualquer pessoa elegante. Claro, sua ironia e senso de espetáculo são formidáveis. Nos seus 5 LPs e, especialmente ao vivo, Kid e entourage atacam uma mirabolante mixagem de rock, salsa, big band sound, calipso, reggae, funk, rap e balada. É de enlouquecer, porque são dez show em um só".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
27/02/1986

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