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Aramis

Geléia Geral

Entre lançamentos internacionais, com potencialidades comerciais das maiores, alguns álbuns saem vendendo milhares de cópias: a primeira edição de "Bring on the Night" com Sting praticamente se esgotou, Lionel Ritchie tem seu "Dancing on the Ceiling" entre os mais procurados da temporada e David Lee Roth ("Eat'em and Smile", WEA) volta num elepê no qual traz outros músicos-pop dos mais populares em suas faixas: o guitarrista Steve Vai, o baixista Billy Sheehan e o ultrabadalado baterista Greg Bissonnette. Como diz a própria campanha promocional montada pela WEA, este novo lp de Lee Roth "representa uma jornada emocionante, intensa, indo desde os desertos do pop puro e high-tech até os primórdios do rock n' roll e tudo o mais que estiver entre estes extremos". Os concertos de Roth são uma mistura de estranhos rituais tribais, que nos evocam um passado primitivo, com um jogo de hockey. Sua visão do mundo é, ao mesmo tempo, desesperada e esperançosa. Equilibrado entre os abismos do estrelato pop, Roth passeia entre os limites da moda, na procura de novas opções e encarando de frente catástrofes iminentes - clima que procura mostrar nas músicas deste elepê - que, traz como estranho "brinde", algumas penas coloridas - tal como as que o próprio Lee Roth usa na maquiagem preparada para a capa. xxx Para aprontar a primeira tiragem (440 mil exemplares) do álbum duplo "Bring on the Night", as prensas da Polygram tiveram que ser reservadas especialmente para este novo disco de Sting, ex-Police, hoje - a exemplo de David Bowie, dividindo-se entre sua carreira de cantor-compositor e ator dos mais requisitados. Por economia e problemas com as gráficas, o disco sai no Brasil em montagem simples - ou seja, capa comum, com os dois elepês em seu interior. Do som deste álbum gravado ao vivo, durante apreentações feitas por Sting e sua banda há quase dois anos, já houve registros exaustivos. O que ninguém se lembrou de destacar foram os belíssimos desenhos criados por Donna Muir e Su Huntley, que dão um encanto muito especial, no aspecto gráfico, a este best-seller da faixa jovem que está em primeiro lugar de vendas neste mês. xxx Disparado também em vendas, Lionel Ritchie repete com seu novo álbum ("Dancing on the Ceiling", RCA), o êxito que o tornou um dos bilionários da música americana. Só dois de seus álbuns solos já venderam 20 milhões de cópias - que geraram oito compactos Top 10 e ganharam três Grammy. "Can't Slow Down" o colocou como o artista-solo mais vendido de 1984. Indicado 21 vezes para o Grammy, há 8 anos no primeiro lugar das paradas e citado pelo Gallup como o artista mais popular da música em 1985. Tem mais: ganhou o "People's Choice Awards" pela melhor canção ao longo de 5 anos seguidos e já ganhou também cinco "America Music Awards" diferentes. Faltava ainda o Oscar. Faltava. Este ano, com "Say you, say me" - canção-tema de "O Sol da Meia-Noite" (mas que só se ouve no finalzinho do filme) também incorporou o troféu em sua galeria de prêmios. Frente a tanto sucesso, é preciso gastar espaço para falar de seu novo lp: Acho que não, pois o seu público é entusiasta e a campanha promocional para o lançamento do disco incluiu até um vídeo-clip dirigido por Stanley Donen, o admirável diretor de tantos musicais inesquecíveis ("Um Dia em Nova Iorque", "7 Noivas para 7 Irmãos", etc.). xxx O registro cairia melhor na semana passada, devido ao Dia da Criança, mas vai aqui mesmo. Na diversificada linha de lançamentos que adotou - que vai desde o prometido lp com a Sinfônica de Campinas até o mais apelativo brega urbano - a 3M, nova etiqueta no mercado (associada à RCA), também quer beliscar o marketing infantil. Para tanto está lançando "Som & Fantasia", com o palhaço Fofão, - criação do ator-escultor Orival Pessini. Experiente profissional na área da diversão infantil, com popularidade ampliada em programas de maior audiência, Orival Pessini - o Fofão - é também compositor, esperto letrista e um decodificador do infinitamente criativo mundo da criança. Assim, já fez dois elepês em outras etiquetas e agora está no elenco da 3M, com um disco, em que traz surpresas e muita dinâmica musical, misturando desde o samba-enredo ao frevo rasgado, passando por calypso, jazz, rock-pauleira etc. - numa linguagem destinada às crianças. xxx Pelo visto a 3M quer se tornar, em pouco tempo, numa marca popular junto ao público que consome a produção brega. Para tanto, em seu primeiro suplemento está promovendo o retorno musical do irrascível, violento e agressivo Agnaldo Timóteo, deputado federal, ex-PDT, e candidato do PDS ao governo do Rio de janeiro. Aos 50 anos, 21 de vida artística, este mineiro de Caratinga, ex-motorista de Ângela Maria, é o exemplo do artista que, em sua violência identifica-se com imensas faixas da população - pois, ao mesmo tempo que é agressivo, mal-educado e boçal, também tem a imagem do romântico-machão. Depois de anos na Odeon, estreando na 3M, Timóteo retorna à mescla de versões - caso de "Hino ao Amor", "Suave é a Noite", "Pelo Nosso Amor", "Bonequinha Linda" (Te Quiero Dijiste), com algumas músicas inéditas - como sua parceria com Nelson Ned ("Fique um Pouco Mais"), músicas de Martinha/César Augusto ("Presente de Deus") ou Moacir Franco ("Bota Fogo") - além de até um mergulho no universo de Roberto Carlos, com a regravação de "Emoções". xxx Num dos raros ensaios sobre a linguagem da música urbana já publicados no Brasil ("Acorde na Madrugada"), o professor Waldenyr Caldas destacou o fato de que, nos anos 70, a dupla Léo Canhoto e Robertinho modificou o conceito da música rural ao introduzir a guitarra elétrica - além de, no visual, procurarem copiar o estilo de cowboys spaghetti, estilo Django e outros heróis que, na época, a mais comercial produção italiana exportava para o mundo. A dupla se desfez e Léo Canhoto, que ao lado de Robertinho fez 16 LPs e teve quase 200 músicas suas gravadas por outras duplas (só "O Milagre do Ladrão", sucesso com a dupla Zilo e Zalo, foi regravada 15 vezes), faz agora sua estréia em disco solo (etiqueta Terra Nova, da 3M/RCA), onde assina, em parceria com Sebastião Vitor, dez das 12 músicas. Oportunista nos temas, Léo Canhoto vai desde o apocalipse nuclear (Última Explosão) até "Garimpeiro do Amor", feita após algumas apresentações nas regiões dos garimpos, como Serra Pelada, Babaçu do Mamão e Arenápolis. Buscando popularidade junto ao povão Canhoto também apela para o erotismo, como em "Tanguinha Vermelha", história de um marido que liga pra a mulher e pede que ela o espere de roupa transparente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
19/10/1986

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