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Fullgraf refaz as rotas de Martius e Spix, ecologistas do século XIX

Durante quase três semanas, a partir de 7 de dezembro de 1991, o cineasta Frederico Fullgraf percorreu 1.500 km, refazendo a primeira parte do roteiro que, há 175 anos foi percorrido pelos alemães Carl Friedrich Philip von Martius e Johann Baptist von Spix, realizando levantamentos da fauna e da flora nas regiões Sudeste, Central, Nordeste e ainda navegando pelo Rio Amazonas. Documentarista e ecologista, atual presidente da Fundação Terra do Rio de Janeiro, Fullgraf - realizador dos filmes "Kuarup, Adeus 7 Quedas" - premiado no Festival de Cracóvia, Polônia, 1984; "Expropriado" e "DDD Dose Diária Aceitável", vem desenvolvendo há cinco anos num grande projeto, em colaboração com a WDR - Rede Nacional de Rádio e Televisão da Alemanha, para documentar, em uma série destinada ao cinema e a TV, aquilo que chama "Brasil: Uma Fantasia Alemã". Através de uma trilogia em que abordará, biograficamente - mas com algumas liberdades criativas - a presença e, especialmente a colaboração que cientistas e estudiosos alemães prestaram ao Brasil, o cineasta - que passou sua infância e juventude em Curitiba - quer refazer a saga de Von Martius e também mostrar a presença de alemães na história de Joinville e do Rio Grande do Sul. Por diversas vezes, já registramos, em nossas colunas, a evolução deste grande projeto - que tem levado Frederico constantemente a viajar a Colônia, sede da TV-WDR, para a qual, aliás, já tem feito várias produções, a última delas foi o making off sobre a telenovela no Brasil, "Não Vale Tudo", que exibida em 4 de novembro último antecedeu o lançamento da telenovela "Vale Tudo", adquirida pela rede alemã dentro de um pacote de programação negociado com a Rede Globo. xxx Com vários projetos desenvolvidos simultaneamente - "A Bomba Pacífica", em que aprofundará suas pesquisas sobre o acordo nuclear Brasil-Alemanha (a respeito do qual já publicou um livro pela Editora Brasiliense) e "Alemão Batata" (título de trabalho), sobre a presença de uma alemã na fundação de Joinville - Frederico decidiu, de comum acordo com seus co-produtores, priorizar o projeto voltado sobre Von Martius, "considerando o seu enfoque ecológico e a atualidade que pode ter, inclusive para lançamento na próxima Eco-92, no Rio de Janeiro", explica. Uma profunda pesquisa de toda a obra de Von Martius - e de outros viajantes europeus que estiveram no Brasil a partir do século XVI embasou um pormenorizado roteiro que tem impressionado não só os executivos da WDR mas também sensibilizado os descendentes do naturalista alemão. Uma prova disto é a carta que recebeu do advogado Alexander Von Martius, tetra-neto de Karl Friedrich Philipp von Martius, que residindo em Munique, lhe deu a mais completa autorização para desenvolver o tema, "porque pessoalmente acho seu projeto impressionante, bem pensado e articulado, e, de tal forma fiel a verdade histórica e humana, que eu e minha família estamos muito esperançosos, de que este projeto possa ser concretizado". Impressionado com "a sua pesquisa das fontes históricas e bibliográficas e seu esforço daí resultante, em transmitir, aos espectadores, ao mundo dos dias de hoje, as circunstâncias e efetivamente particulares em que se encontravam os dois naturalistas e seus acompanhantes", Alexander Von Martius e familiares colocaram, à disposição o arquivo e acervo deixado pelo naturalista que teve uma das maiores contribuições do estudo do Brasil há dois séculos (ver texto nesta mesma página). O projeto de Fullgraf, "Expedição Von Martius: A Flora Brasiliense 170 anos depois na trilha do Botânico" refará historicamente a presença de Martius e Spix no Brasil, além do artista plástico Thomas Ender - que documentou em aquarelas o roteiro. Em pré-produção, Frederico e o cinegrafista Marcondes Barbosa documentaram em dezembro a região do Vale do Paraíba, primeira etapa percorrida pelos alemães. Assim, já foram documentadas - para detalhamento do roteiro - imagens de Santa Cruz (RJ), Itaguaí, Rio Claro, São João Marcos, Getulândia e Pouso Seco, focalizando especialmente fazendas por onde Martius, Spix e Ender passaram, confirmando dados históricos. Passaram ainda por São Caçapava e Aparecida. Nesta primeira etapa, Frederico já encontrou total apoio da Fundação Nacional do Tropeirismo, Museu Frei Galvão de Guaratinguetá, Fundação José Luiz Pasin e do Museu do Ciclo Econômico do Vale do paraíba. Em março, a documentação continuará pelo trecho que vai de Sorocaba até Diamantina e no segundo semestre o projeto será encerrado no Rio Amazonas, última etapa da pesquisa de Martius e Spix. Com este riquíssimo material filmado, dentro de alguns meses já será possível realizar um documentário para a WDR e que poderá ter uma pré-estréia na conferência mundial de meio ambiente Eco-92. O projeto prevê também um seriado, já com atores, para posterior lançamento na Europa e Brasil, além do material colhido resultar em vídeos para estimular o turismo regional. Enfim, um projeto amplo, sério, capaz de justificar que a WDR, uma das mais poderosas estações de televisão da Europa, se dispusesse a financiar um projeto no valor de milhares de dólares - "embora num orçamento economicamente controlado, pois o dinheiro está curto em todo mundo", como diz Frederico. LEGENDA FOTO 1 - Numa co-produção com a Alemanha, o cineasta Frederico Fullgraf inicia um grande projeto para mostrar a presença e importância que os cientistas europeus tiveram no Brasil para a identificação de nossa flora e fauna (ilustração de Thomas Ender). LEGENDA FOTO 2 - O Brasil maravilhoso, intocado, que Spix e Martius percorreram há 172 anos, numa ilustração de Thomas Ender - que acompanhou uma parte da viagem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
12/01/1992

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