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Frederico na Alemanha prepara documentário sobre nossa bomba

O cineasta Frederico Fullgraf, 40 anos, está na República Federal da Alemanha desde o início da semana. Hamburgo, mais especificamente, ponto inicial de um roteiro europeu que o levará a Áustria e Suíça, retornando via Nova Iorque. Na sua mala executiva, Frederico, curitibano afetivamente (nasceu na Alemanha mas residiu muitos anos em Curitiba, onde vivem sua mãe e irmã), levou o roteiro final de "Átomos para a Paz", novo título de um projeto antigo, inicialmente "A Bomba da Paz", que já resultou num livro (Brasiliense, 1988, primeira edição praticamente esgotada), e que de um documentário média-metragem cresceu para um longa. Dentro da miserabilidade do cinema brasileiro, Frederico procurou agilizar seus contatos no Exterior como forma de colocar em imagens o projeto que há anos o fascina. Para tanto, encontrou possibilidades de receber ao menos 50% do orçamento por parte do Hamburger Filmbuero, instituição mantida pela cidade de Hamburgo, criada há 8 anos por iniciativa de cineastas e produtores e que dispõe de um orçamento de US$ 10 milhões. Ou seja, para deixar com água na boca os mendicantes cineastas brasileiros. Para que o Filmbuero se associe em qualquer projeto, há necessidade de o filme ter alguma relação com a cidade de Hamburgo. E como diz Frederico, "meu filme tem se sobra". Por exemplo, a viagem do lendário Almirante Álvaro Alberto a Hamburgo, em 1952, contratando cientistas nucleares para a construção de máquinas para o enriquecimento de urânio. Este episódio - que revelou em seu livro, fruto de anos de pesquisas - "teve todos os ingredientes de um filme de espionagem, policial, porque as máquinas foram apreendidas pelos aliados pouco antes de seu embarque para o Brasil". Esta será a primeira seqüência do filme: imagens de arquivo, ficção e documentação entremeados, construindo uma narrativa cujo personagem principal é uma figura fictícia. Explica o cineasta: - "Nem poderia ser diferente: trata-se da alma penada do coronel Maximo Rondonio, morto num teste nuclear clandestino no Brasil, no início dos anos 80 e que movido por sentimentos de vingança contra seus ex-superiores resolve contar toda a história da bomba atômica brasileira. Claro que ele não é um personagem linear, sem contradições. Como em vida costumava freqüentar terreiros de umbanda, paira sobre sua alma a ameaça de ficar eternamente "penada", se ele não contar a estória. xxx Jornalista que por quase duas décadas atuou no rádio e televisão alemã - para a qual continua, aliás, a fazer trabalhos especiais - Frederico interessou-se pela questão nuclear há alguns anos, pesquisando em arquivos na Alemanha e Estados Unidos. Como resultado, reuniu material para um livro com aspectos inéditos do acordo nuclear, base do roteiro que agora vai transformar num filme, em co-produção internacional. Um produtor alemão, Thomas Mitschlich, já se interessou pelo projeto que, naturalmente, terá pelo menos 40% das seqüências rodadas em Hamburgo, uma das exigências da instituição germânica em troca de seu financiamento. Antes, porém, de mergulhar nesta produção, fará um "making off" encomendado pela televisão estatal WDR sobre os bastidores da telenovela brasileira. Como a WDR adquiriu um compacto de "Vale Tudo", para apresentar na Alemanha, foi convidado a rodar um documentário de 30 minutos, mostrando o fenômeno das telenovelas. De Hamburgo, Fullgraf viaja a Áustria e Suíça, mantendo ainda contatos nova-iorquinos no retorno. Já então com vistas a outro projeto: a trilogia "Brasil, uma Fantasia Alemã", ex-"Alemão Batata", que merecerá notícia a parte nesta mesma página. LEGENDA FOTO - Frederico Fullgraf: em Hamburgo, na pré-produção de "Átomos para a Paz", agora um longa-metragem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
19/05/1990

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