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Aramis

Frankenstein ganhou por unanimidade nos curtas

Houve unanimidade. Tanto o júri de curta-metragem não teve maiores discussões como o júri de imprensa, e o apoio entusiástico do Público: "Frankenstein Punk" foi o melhor curta-metragem exibido no FestRio-86. Um filme de animação, com bonecos, recriando com imaginação e muito humor um dos personagens mais populares da literatura horror, "Frankenstein Punk", realização de Eliana Fonseca e Cao Hamburger, foi o favorito desde sua primeira projeção. É bem verdade que os demais concorrentes - tanto nacionais como estrangeiros - foram fracos, motivo aliás de preocupação do júri, que, em documento encaminhado à direção do FestRio, fez sugestões em relação à importância de que nas próximas edições do Festival exista um esforço para que o nível de competição nesta metragem seja mais elevado. Frankenstein musical - dando uma conotação musical ao personagem criado por Mary Shelley, que desde os anos 30, quando Boris Karloff o interpretou pela primeira vez no cinema, vem motivando tantas versões - foi feliz a idéia de Eliane Fonseca, 25 anos, paulista, formada em cinema pela Escola de Comunicação e Arte do Teatro na Escola de Arte Dramática da USP. Em colaboração com Cao Hamburger, 24 anos, também paulista, diretor e animador - que há três anos já havia obtido premiação em Gramado ("Bustop"), São Paulo ("A Velhinha"), Caxambu e Bahia ("Bammuersach", 1984/85), Eliane desenvolveu um curta-metragem de animação em que a criatura criada pelo Dr. Frankenstein acaba se libertando ao ouvir o "Singing in the Rain" e passa a pronunciar apenas uma frase: "I'm Happy Again". A sátira inclui também uma bem acabada homenagem a "Paris, Texas", com referência à música de Ry Cooper - intercalada ao "Strangers in the Night" que outro Frank - o Sinatra - imortalizou. Assim, as imagens dos bonecos de animação ganham muito em relação ao uso destes três temas musicais, especialmente a referência ao clássico musical "Cantando na Chuva" (1953, de Stanley Donen), citado com a famosa seqüência de Gene Kelly, que encerra o curta. Premiado no FestRio - e com uma possível carreira em outros festivais onde tem condições de repetir o sucesso -, "Frankenstein Punk" é o exemplo do curta-metragem que reconcilia o público com este gênero de cinema, que, infelizmente, pelo hermetismo de tantas realizações nacionais, caiu num círculo vicioso: os cinemas não os exibem porque o público os rejeita e eles permanecem inéditos, aliás. Os dois outros curtas que também concorreram pelo Brasil caem nesta linha de dificuldade de comunicação: "O Carrasco da Floresta", de Victor Lustosa, sobre a destruição das matas da Amazônia - e o vanguardista e difícil "Poema: cidade", que Tatá Amaral e Francisco Cesar Filho realizaram como um enquadramento na obras de Augusto de Campos. Falam os realizadores Eliana Fonseca, que há 5 anos faz montagens, já teve uma obra anterior - "With a Lot of Kiss" - produzida pela Unesco e Eurovisão, escolhida para representar a América Latina, com mais seis produções de outros continentes num longa-metragem sobre o Ano Internacional da Juventude. Também atriz (já fez dois longas), Eliane fala sobre este seu filme de animação. "Frankenstein Punk" nasceu de uma grande paixão por filmes de terror e por musicais, especialmente, "Singing in the Rain". Sou totalmente fascinada por cinema, pela grandiosidade da tela que torna grandiosas as emoções. Vibro com efeitos especiais e com essa mistura de vida e magia que só o cinema proporciona." Já Cao Hamburger - vindo do cinema em super-8 e que foi um dos realizadores de "O Planeta Terra", curta-metragem produzido pela ONU no Ano Internacional da Paz e que teve seu lançamento mundial no encerramento do FestRio-85 (infelizmente, ainda inédito em Curitiba), explica seu trabalho no cinema de animação: "Procuro, em meus filmes, transmitir emoções ao público. Acho que este deveria ser o primeiro objetivo de todos os realizadores de cinema. Por isso procuro alcançar a melhor maneira cinematográfica de contar a história. "Frankenstein Punk" foi um prato cheio para esse "exercício" e um mergulho nas possibilidades técnicas e de linguagem do cinema." A floresta e a cidade No início, pode parecer até um filme bem intencionado e corajoso: um alerta contra a destruição da floresta amazônica. Mas, infelizmente, Victor Lustosa, ex-assistente de Tizuca Yamazaki em "Parahiba Mulher Macho" e diretor de "Atrapalhando a Suate" com Os Trapalhões (sem Renato Aragão), não conseguiu dar um desenvolvimento coerente ao seu filme, que abre com uma afirmação de um dos responsáveis pela destruição de milhões de árvores em vários Estados, Rainor Grecco, 60 anos, descendente de italianos, considerado o maior madeireiro do País: "Já matei 30 milhões de árvores e como general do exército da devastação, marcharei sobre o deserto amazônico dentro de quarenta anos". Estabelecendo relações entre a destruição das árvores com o genocídio contra os judeus, o curta-metragem de Lustosa se confunde ideologicamente e desperdiça um excelente tema.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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02/12/1986

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