A fonte filantrópica secou com a inflação
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de janeiro de 1986
Como bom filho de italianos, o comerciante Viviane Valente, dono do restaurante San Remo, em Santa Felicidade, decidiu reverenciar um dos pontos turísticos de Roma e criou um arremedo de "Fontana de Trevi" no acesso a um dos salões inferiores de sua casa. Embora falte a fonte d'água propriamente dita, tem procurado estimular uma hoje cara tradição: fazer com que os fregueses joguem moedas no pequeno lago artificial, fazendo três desejos.
Para não parecer que deseja ter mais lucro extra do recolhimento das moedas, Viviane encaminha os valores para instituições filantrópicas, conforme prova através de recibos emoldurados numa parede lateral.
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A leitura destes recibos mostra como a inflação corroeu a disposição filantrópica do comerciante. Por exemplo em 8 de junho de 1982, a sua ajuda ao Pequeno Cotolengo do Paraná foi de Cr$ 5.000,00. Para a Sociedade Socorro aos Necessitados, em 4 de maio de 1983, couberam Cr$ 25.000 das moedas depositadas na fonte. Para a Associação do Menino Deus foi dado Cr$ 2.000.
Nos últimos três anos, entretanto, pelo visto não houve sequer doações - já que não há novos recibos à vista. E na própria fonte são poucas as moedas jogadas.
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A propósito das doações: chega a ser ridícula a atitude de certos empresários e políticos em relação à Sociedade Socorro aos Necessitados, instituição que presta um trabalho admirável na comunidade. Em dezembro, o general Djalma Cravo, provedor da SSN, ficou chocado ao receber uma doação de conhecido político e empresário: um cheque no valor de Cr$ 100.000, acompanhado de uma carta pedindo recibo "para poder descontar a contribuição em minha declaração do Imposto de Renda". Se não fosse um homem bem educado, o general Cravo devolveria esta contribuição - insignificante considerando a inflação - e ainda mais por ser feita por um dos homens mais ricos do Paraná.
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