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Festival de Brasília começa hoje com estrutura enxugada

Brasília Enxuto como convém a qualquer evento cultural nestes dias de economia e na qual os recursos devem ser muito bem aplicados, a 23ª edição do Festival do Cinema Brasileiro de Brasília - o mais antigo dos eventos competitivos do país - inicia hoje à noite, com a projeção no Cine Brasília, dos curtas "Adeus", de Celso Delia e "Aquele Breve Encanto", de Tânia Saviero, e o longa "Mais que a Terra", de Eliseu Ewald, com Marcos Paulo e Stenio Garcia. Vindo do curta-metragem, mas totalmente desconhecido fora da capital paulista, Eliseu Ewald aborda questões sociais relacionadas a posse da terra e o seu filme, até o momento, é uma incógnita. Pode ser uma surpresa agradável, revelando um novo cineasta, mas também pode ocorrer o contrário, pois normalmente para a abertura - quando ainda o evento não esquentou. A questão da terra, aliás, teve há três anos, aqui mesmo em Brasília, o impacto quando concorrendo na categoria 16mm (agora extinta), "Terra para Rose", de Tetê Moraes, denunciando a questão da Fazenda Anoni, no Rio Grande do Sul, provocou o maior impacto. Levou todos os prêmios e justificou sua ampliação para 35mm, quando teve, então lançamento nacional - permanecendo, inclusive três semanas de exibição em Curitiba, no Cine Ritz. São aguardados 200 convidados - entre cineastas, jornalistas, artistas, técnicos etc., para este festival, que tem seu "QG" num novo hotel, inaugurado há poucas semanas, o Kubitschek Plaza, no qual acontecerão os debates dos filmes em competição e três mesas redondas. Uma análise do mercado de vídeo no Brasil - em sua relação com a produção cinematográfica em crise -, será realizada na sexta-feira, 12, com a participação de dirigentes de entidades de classe - União Brasileira de Vídeo, Federação Brasileira de Vídeo, Associação Paulista de Cineastas etc. No sábado, 13, o mercado que representa a exibição dos filmes brasileiros na televisão será abordada pelos programadores de duas redes nacionais - Wilson Cunha (Manchete) e Paulo Perdigão (Globo), mais Rubens Ewald (contratado pela Record), e o cineasta Júlio Bressane, que no ano passado aqui competiu com "Os Sermões" - que, dias depois do festival, foi exibido em cadeia nacional pela Bandeirantes. Considerando que as redes nacionais de televisão - e mesmo as estações independentes como a Record, estão preocupadas em melhorar cada vez mais sua programação de filmes, o debate programado deve ser um dos mais interessantes (leia mais, a respeito, no texto abaixo). No domingo, 14, a temperatura deve esquentar: a questão do futuro do cinema brasileiro será exposto não por um tecnocrata da Secretaria de Ação Cultural, mas, sim, por um economista da equipe da ministra Zélia Cardoso de Mello, das Finanças, o diretor da Divisão de Política Industrial, Luís Paulo Velloso, que participou de um grupo de trabalho que estudou o cinema em termos de investimento a partir da extinção da Embrafilme e da política adotada pelo governo Collor de Mello. Em Gramado, em julho último, a presença do presidente-liquidante da Embrafilme, cineasta Adinor Pitanga, provocou debates quentíssimos, xingamentos e acusações - o que deve ter influenciado para que, ao menos oficialmente, até agora, não se tenha notícia de que ele venha a participar oficialmente desta reunião. Também o secretário de Cultura, o paraibano Ipojuca Pontes, apesar de cineasta, não deu sinais de que daria as caras no festival - embora a importância deste evento, a realização no Distrito Federal, justificasse uma presença da maior autoridade da área cultural. Em seus 26 anos de existência - por 4 anos o festival deixou de acontecer - Brasília tem uma tradição de grande fórum político-cultural, pois especialmente nos anos mais brabos da ditadura militar o festival procurou manter uma postura independente e corajosa - ainda mais agora, com a democracia plena - e na qual a questão cultural, desde o dia 16 de março, sofreu um rude golpe com a extinção da maioria das instituições oficiais - agravando a crise em que a produção cinematográfica já estava mergulhada desde 1988. Só o fato do festival ter sido viabilizado exclusivamente pela Fundação Cultural do Distrito Federal, reunindo filmes inéditos - de curta e longa-metragens, alguns dos quais prometendo bastante - lhe dá um significado especial neste ano em que vários outros eventos - como o FestRio, RioCine (transferido para novembro, mas ainda sem confirmação), Festival Texaco-Lufthansa de Cinema de Curitiba e jornada de Cinema da Bahia, entre outros, foram suspensos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
10/10/1990

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