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Aramis

A Feira dos Violados

Dando uma pequena lição de Brasil e um público que só agora começa a descobrir a beleza e sinceridade da cultura popular do Nordeste, o Quinteto Violado oferece em "A Feira" (Teatro Paiol, até domingo, 21 horas) 120 minutos de imensa riqueza melódica, conduzida com muito bom humor e espontaneidade pelos cinco músicos nordestinos, mais a participação do acorcordeonista Dominguinhos (José Domingos Morais, 33 anos), o autor (em parceria com Anastasia) do maior sucesso de Gilberto Gil no ano passado: "Eu Só Quero Um Xodó". "A Feira", nesta versão adaptada para excursionar pelo Sul, chega corrigida dos defeitos que prejudicaram seu lançamento na Guanabara, há alguns meses e demonstra maior segurança do diretor-roteirista Roberto Santana, lançador do grupo há três anos e que desde então vem orientando sua carreira. Dividido em vários núcleos - o amor, retirantes, baise pastorial, Paluchiado da Cachaça, vaqueiro, cangaço, etc. - "A Feira" é um reencontro com os ritmos, a poesia e a cultura popular do Nordeste, nas músicas que vão desde uma festivalesca conhecida "Disparada" (Théo e Vandré) até temas recolhidos pelo Quinteto na caatinga, entre humildes e anônimos cantadores e violeiros. Duas sentidas homenagens prestadas a Zé Dantas e Zé Limeira ("O Surrealista dos Pobres") se constituem para a maioria do público, que desconhece a riqueza da tradição popular do Nordeste, a revelação de dois poetas do povo da maior dimensão, que só agora começam a ser (re)valorizados. Ao contrário do espetáculo anterior do Quinteto ("Berra Boi", 1972), em "A Feira" não há destaques instrumentais, embora todos os cinco integrantes - Toinho Alves (baixo e diretor musical do grupo), Luciano Pimentel (bateria), Fernando Felizolla (viola), Marcelo Melo (violão) e Sando (Alexandre João, 16 anos, flauta) sejam extraordinários músicos, como demonstram no que se pode chamar de forró session que encerra o espetáculo. Bem humorado, musicalmente rico, brasileiríssimo e importante na proporção em que mostra aos brasileiros do Sul a riqueza musical do Nordeste, "A Feira" é um espetáculo de bom nível, desempenhando hoje, para um público que [freqüenta] teatros - e atingindo principalmente uma platéia jovem - um trabalho de integração cultural (popular) no Brasil, tão importante como há 30 anos já fazia outro pernambucano genial chamado Luiz Gonzaga, mui justamente referenciado com a execução de uma de suas obras-primas ("Assum Preto") no encerramento da primeira parte. ["A Feira] merece ser vista por quem gosta das coisas do Brasil! LEGENDA FOTO: Quinteto Violado & Dominguinhos
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
03/10/1974

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