Login do usuário

Aramis

Estes violados bem brasileiros

Dentro da música popular brasileira, o Quinteto Violado (hoje, 21 horas, última apresentação no Teatro Guaíra) constitui um aspecto especial. Há quinze anos na estrada profissional, este grupo nordestino jamais procurou apenas o esquema comercial, de fácil consumo. Ao contrário, desde que fez o seu primeiro disco (Polygram, 1972), no qual incluía "Marcha Nativa Dos Índios Quiriris", em adaptação de Toinho Alves e Marcelo Melo (e que permanece como um dos melhores momentos de sua obra), o Quinteto Violado tem se preocupado com um exame sonoro, uma autêntica e honesta pesquisa do que existe de melhor na música do povo - capaz de atingir os mais diferentes tipos de público. Naturalmente que em uma década e meia, o grupo sofreu modificações, mas a permanência de Toinho Alves, o grande arranjador, baixista e líder natural do quinteto, é responsável pela integridade do trabalho. xxx Grupos instrumentais e vocais tendem, normalmente, a ter uma curta duração, justamente pela falta de uma ideologia e base cultural de seus integrantes. Justamente por ter surgido na reunião de instrumentistas que traziam uma clara definição musical - Luciano, Fernando, Marcelo e Toinho, o Violado deu certo. Sandro, flautista-prodígio, pela sua pouca idade na época da gravação do primeiro disco, não tinha, naturalmente, a mesma experiência, mas nos primeiros anos de militância sonora com o grupo, muito aprendeu - fortalecendo sua carreira, hoje em solo. Marcelo Melo, violonista e compositor, engenheiro agrônomo com pós-graduação na França (onde dividiu com Geraldo Vandré o histórico "Nas Terras do Benvirá", último elepê feito pelo autor de "Disparada") foi outro elemento fundamental para que o grupo pudesse desempenhar um papel tão importante na música popular brasileira nestas duas últimas décadas. xxx Desde que esteve pela primeira vez em Curitiba, nos tempos em que o Teatro do Paiol tinha uma agenda com os melhores nomes da MPB, o Quinteto Violado sempre trouxe espetáculos com firmes roteiros. Era a época de "A Feira", que colocando no palco as músicas registradas no elepê produzido por Roberto Santana (o record-man, responsável pelo surgimento do grupo) mostrava composições fascinantes como "Ave Maria dos Retirantes" (Alcivando Luz / Carlos Coquejo), ao lado de uma dimensão da terra de Gil ("Procissão") e mesmo Caetano Veloso ("Ave Maria"). "Berra Boi", ainda com a formação original, era outro momento de revelação do mundo nordestino, inclusive alternando números musicais com projeções de filmes em super 8, processo que na época (1973) estava em grande evidência. Em 1976, o Quinteto Violado partiu para uma proposta audaciosa - a gravação da "Missa do Vaqueiro" de Janduhí Finizola, registro de uma das mais importantes tradições do Interior de Pernambuco, na qual, anualmente, celebra-se a "Missa do Vaqueiro de Raimundo Jacó", lembrando o assassinato de um homem da caatinga. Luiz Gonzaga, o grande "Lua" que ajudou a fazer da "Missa do Vaqueiro" um evento de repercussão nacional, participou da gravação. Ano a ano, mesmo deixando a Polygram, o Quinteto Violado prosseguiu numa escalada cada vez mais brasileira, fazendo registros antológicos, como o disco produzido por Pelão (José Carlos Botezelli) em 1983, com um repertório trazendo arranjos clássicos de "Luar do Sertão" (Catulo da Paixão Cearense / João Pernambuco), "Samarica Parteira" (Zé Dantas), e "Asa Branca" (Humberto Teixeira / Luiz Gonzaga). No ano passado, simultaneamente a um projeto de grande apelo popular - "O Maior Forró do Mundo", inaugurando o selo Paralelo, do Estúdio Eldorado, o Quinteto Violado gravou um álbum duplo que fez muitos puristas estremecerem: uma versão nordestina de "O Guarani", de Carlos Gomes, com Toinho Alves fazendo parceria com Antônio Carlos Gomes - e trazendo a platéias que jamais conseguiriam absorver a mais famosa (embora pouco encenada) ópera brasileira, os seus momentos mais importantes. Com razão, Antônio Cadengue salientou: "A extraordinária inventividade do Quinteto Violado contribuiu de maneira marcante para revermos "O Guarani" numa síntese de sons transfigurados. Já tendo também mergulhado numa curiosa opereta infantil - "O Rei... Jardineiro", parceria com o poeta paraense João de Jesus Paes Loureiro, Toinho Alves, alma do Quinteto, tem sempre novas idéias. Como a inteligente forma de fazer uma espécie de "História do Brasil", através da música, que ainda hoje pode ser aplaudida no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto. Um espetáculo imperdível.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
11
11/07/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br