As esculturas de Antônio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de junho de 1974
A inauguração da exposição de esculturas do artista primitivo Antônio Alves Ferreira, na Galeria do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, demonstrou que em nossa cidade os vernissages constituem antes de tudo manifestações sociais, atraindo um certo tipo de público mais motivado artificialmente do que, na verdade, culturalmente, em termos de conhecer e prestigiar a boa arte. Pois os trabalhos que Antônio Ferreira ali expõe, estão sem dúvidas entre as mais importantes obras de arte primitiva já vistas em nosso Estado, não podendo deixar de figurar nas coleções de pessoas que se dizem (ou pretendem ser) entendidas em arte. A preços razoáveis (de Cr$ 80,00 a Cr$ 2.000,00), os santos, totens e figuras criadas por Ferreira, com rudes instrumentos de trabalho em suas horas de folga, no distrito de Ariranha, município de Ivaiporã, traduzem "um mundo imaginário cuja gênese localiza-se no inconsciente e na cultura popular", como lucidamente observou a crítica Adalice Araújo. A obra de Ferreira segue duas linhas distintas: uma fantástica com formas estranhas, como sereias e sacis-pererês, frutos da ficção popular, por vezes aliadas a formas embrionárias do inconsciente; e outra religiosa nascida de uma vivência mística católica e também popular. Pena que tão poucas pessoas tivessem sabido prestigiar a inauguração de sua exposição mas que, permanecendo aberta até o dia 30, merece uma visita, pois seus trabalhos podem ocupar, com honra, um bom lugar em qualquer coleção - onde muitos "habitues" de pseudo galerias tem comprado tantas obras comerciais, apenas badalativamente elogiadas.
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