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Aramis

A época da big bands

Com as mortes de Count Basie (William Basie, Red Bank, New Jersey, 21/08/1904-Florida, 26/04/84), Benny (Benjamin David) Goodman (Chicago, 30/05/1909-Nova Iorque, 13/06/1987) e Woody (Woodrow Charles Herman, Milwaukee, 15/05/1913 - 10/09/87) só restou Dizzy Gillespie (John Birks, Cherow, 21/10/1917) entre os grandes band-leaders, instrumentistas, criadores, improvisadores - enfim figuras exponenciais da época de ouro do jazz. Art Shaw, embora vivo - completará 80 anos no próximo dia 23 de maio - há muito está aposentado e sua orquestra foi reorganizada, mas sem a sua participação. Outros mestres dos anos dourados do jazz há muito já se foram ou, se ainda vivos, estão em merecida aposentadoria. Mas se em pessoa estão ausentes, suas músicas permanecerão e a prova está uma série de gravações da melhor qualidade que os trazem numa presença vigorosa, dentro desta expansão que se vem dando a música jazzística. Uma expansão em termos, é bom etender, pois mesmo o maior sucesso de jazz (assim como um disco clássico) não passa das dez mil cópias - mas é significativo para um país em que, até há pouco, o jazz era totalmente ignorado. Da grande orquestra de Count Basie temos dois volumes indispensáveis. O primeiro é o básico "Super Chief" - álbum duplo, reunindo 28 gravações do período entre 1936/42, para muitos a melhor fase da carreira de Basie - embora esta seja uma opinião pessoal e discutível. Big Chief é a expressão que identifica um dos mais rápidos comboios que faz a ligação ferroviária entre Nova Iorque e Los Angeles e o quadro que John Berg fez, há 18 anos, de Basie - com seu rosto no lugar de uma locomotiva, procura identificar, sonoramente, o grande pianista, compositor e líder a força que a Big Chief ferroviária tem. Uma idéia feliz as escolhas das gravações - que alternam momentos inesquecíveis, com as participações inclusive de outras orquestras - como as de Harry James ("Life Goes To a Party"), Teddy Wilson ("I've Found a New Baby"), Milfred Bailey ("The Moon Got In My Eyes"). Já o volume um de "The Essential Count Basie" restringe-se exclusivamente a gravações de 1939 - portanto um período fixo, no qual Basie estava baseado em Chicago, dedicando inclusive àquela cidade um blues ("Goin'To Chicago"), que registraria a 13 de fevereiro de 1939 - época em que integravam sua orquestra músicos como o clarinetista Lester Young (1909-1959) e o saxofonista Freddie Green. São registros que ouvidos hoje, 51 anos depois, provam como a musicalidade, as idéias sonoras que instrumentistas notáveis desenvolviam e faziam parte de uma época espontânea da criação. Por exemplo, a presença do sopro marcante de Lester Young em "Oh, Lady Be Good" fazia deste tema tão conhecido adquirir um sabor especial. Mas se "Lady Be Good" é conhecido, as outras faixas não o são ao menos para quem se inicia no jazz - e assim é realmente essencial - como diz o próprio título do disco - ouvir o "Lonesome Miss Prety", o "Pond Cake" ou o movimentado "Rock - A Bye Basie", com uma esplendida seção de metais. A orquestra de Count Basie - assim como aconteceu com a de Glenn Miller e mesmo o conjunto de Charlie Mingus - sobrevive a morte do seu líder. E uma bela prova disto é o álbum da vocalista Diane Schuur, acompanhada pela Count Basie Orchestra, hoje liderada pelo sax-tenorista - Frank Foster - num registro tão belo que foi indicado ao Grammy em 1979 em sua categoria. Embora só recentemente editada, distribuir, no Brasil - Diane Schuur é uma tremenda cantora, hoje contratada da GRP - etiqueta do Dave Grustin e Larry Rosen que a CBS passou no Brasil. Na longa história da orquestra de Count Basie passaram muitas cantoras - inclusive Billie Holiday (1915-1959) num certo período. Diane Schuur veio para a orquestra com um vigor marcante, já que sabia da responsabilidade de integrar um a banda como aquela. E esta dedicação vocal a fez dar o máximo neste registro, que produzido em 1978 foi o último trabalho com a participação do guitarrista Freddie Green, nascido em Charleston, a 31 de março de 1911 e que, vítima de um ataque cardíaco, morreu três dias após a gravação do álbum ter sido concluído. Tendo começado sua carreira num pequeno clube de jazz do Greenswich Village, Freddie ingressou na banda de Count Basie há 50 anos, por indicação de John Hamond - produtor compositor e figura lendária do jazz. O repertório que os produtores Morgan Ames e Jeffrey Weber ajudaram a escolher para o álbum de Diane Schuur com a Count Basie Orchestra não poderia ser mais significativo - incluindo, por exemplo, "Travelin Light", que era um dos mainstreans da época de Billie Holiday. Outro marco é "Well Be Together Again", que Frankie Laine escreveu nos anos 40 em parceria com Carl Fischer - além de um golpe de Aretha Franklin ("Climbing Higher Mountain"), "You Can Have It" e "Travel In Light" (Johnny Mercer/Jimmy Mundy/James Young) são outros momentos magníficos deste envolvente encontro de uma grande cantora com músicos maravilhosos. LEGENDA FOTO - Count Basie, 1930: o início de uma década gloriosa na carreira de um dos maiores band-leaders do jazz.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
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04/03/1990

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