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Aramis

Ensinar culinária cumpre decreto?

Uma questão que tem sido levada a discussão junto ao Concine é bastante prosaica: culinária também cumpre a lei de reserva nacional? Parece brincadeira, mas não é. Obrigadas por força de uma (justa) lei a reservarem uma quota de lançamentos para produções nacionais - única forma encontrada para que o "boom" do vídeo não sufocasse também nesta mídia o cinema nacional - a quantidade de títulos que mais de uma centena de distribuidores vêm colocando no mercado nos últimos dois anos fez, praticamente, que se esgotasse o acervo de filmes brasileiros com algumas potencialidades de público. De princípio, naturalmente, procurou-se o filé-mignon, os filmes brasileiros de maior sucesso e que, colocados em vídeo, podem despertar interesse das locadoras e dos consumidores. Só que estes, no frigir dos ovos, não passam de, no máximo, 100 títulos. Lei é lei, e independente de retorno, as distribuidoras foram buscar produções antigas, classe "B " ou "C", chanchadas, comédias ingênuas, até pornochanchadas - enfim tudo que possa cumprir a obrigatoriedade. Claro que a tiragem destes títulos é mínima e há filmes nacionais que negociados para reprodução em vídeo não passam de 30 ou 40 cópias, pois raríssimas locadoras se interessam em adquirí-los. Embora elas também tenham que ter uma reserva de filmes nacionais, nada obriga uma locadora a comprar uma cópia de um filme como "A Pensão de Dona Estela" ou "É de Chuá" que, com sua importância dentro de determinados ciclos de nosso cinema, não tem o menor apelo para o público - que continua interessado na produção "up to date", de preferência estrangeira - o que continua, ainda, a favorecer, a pirataria. Surge então a questão: há muitas produções em vídeo, com públicos - alvos específicos, produzidos especialmente para esta bitola e que poderiam ser considerados dentro da lei de reserva do mercado nacional. Sem falar em séries sofisticadas, produzidas originalmente para a televisão (como Xingu, Japão, etc., da Manchete Vídeo) chega-se até a vídeos sobre criação de cavalos aba-largas, métodos de formar um canil e até tratados visuais de ornitologia - para ficar apenas em alguns exemplos. Evidentemente, que a culinária não iria deixar de também ganhar o seu espaço neste mercado e já há pelo menos meia dúzia de vídeos sobre "segredos" da cozinha. Um dos maiores êxitos é o que tem como apresentadora-mestre-cuca a bela Pepita Rodrigues , o que ao menos, visualmente, dá o seu encanto a produção. Agora, o Ommi Vídeo está lançando nada menos que uma coleção de 15 fitas produzidas por Benjamin Abrahão, dono da padaria e confeitaria Barcelona, em São Paulo. Paulo Gustavo Pereira, assessor de imprensa da Omni, procurando convencer as locadoras a adquirir este pacote, distribui um release repleto de adjetivos no qual garante que Benjamin ensina "todos os seus principais segredos e dicas sobre como fazer pães, doces, salgadinhos e outras delícias, explicadas de uma forma direta e didática". Ou seja, aquilo que desde os tempos pré-históricos da televisão no Brasil - programas destinados as donas-de-casa, em horários considerados "mortos" nas programações comerciais - transformassem em vídeos a serem vendidos as locadoras e alugados. É bom que o mercado se amplie e tenha vídeos de todos os tipos. Agora, considerar este tipo de produção como estímulo a produção nacional, capaz de cumprir a lei de reserva são outros quinhentos! A propósito: quantas cópias será que a Ommi Vídeo conseguiu colocar de "coleção para dar água na boca" do doceiro Benjamin Abrahão?
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
8
04/08/1988

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