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Aramis

"A Encruzilhada", jóia audiovisual

Não é necessário entender o blues para compreender "A Encruzilhada" (Cinema I, 5 sessões). Mas, realmente quem se liga a música, especialmente ao jazz e ao blues, curtirá muito mais este belo filme que somente agora chega às nossas telas. Dentro das relações Cinema & Jazz - que passa de mais de 2 mil títulos conforme levantamento que o pesquisador David Meeker fez há uma década - a maior parte dos curtas, médias e longas em torno do blues jamais chegou as telas do Brasil. Mesmo os discos com a música melancólica, profunda, tão caracteristicamente América, do Old South, só recentemente começaram a serem editados entre nós - nas coleções da WEA (10 volumes já lançados) e CBS (um álbum duplo que vale por uma verdadeira conferência a respeito). Assim, quando "A Encruzilhada" chegou ao Brasil, há dois anos, seu lançamento foi um fracasso tão grande que a própria Columbia desinteressou-se em promovê-lo - apesar da WEA ter lançado a trilha sonora, de Cy Cooder - o músico das sonoridades dolentes que ganhou popularidade no Brasil a partir de "Paris Texas" (84, de Wim Wenders). Desde as primeiras imagens o roteiro perfeito de John Fusco nos remete ao mundo do blues, com citações de grandes instrumentistas e compositores, a partir do próprio Robert Johnson (1913-1937), que teria deixado uma música inédita, só conhecida de seu contemporâneo o velho Willie Brown (Joe Seneca), que é libertado de uma prisão-asilo pelo jovem Eugene Martone (Ralph Macchio), branco, jovem inexperiente, que sonha em se tornar um bluesman famoso, gravando aquela canção inédita. A trajetória dos dois até o Mississipi é a própria caminhada dentro da vida, com encontros e desencontros, cruzando-se com a jovem estradeira, Frances (Jami Gertz), sentindo o preconceito racial e tendo a mitologia do Fausto marcando simbolicamente o encontro da melodia perdida. No final, uma surpresa - após um duelo de guitarras entre Eugene e um guitarrista eletrônico, que por si só já justificaria que a garotada lotasse o Cinema I para assistir este filme excelente, vigoroso - o melhor trabalho do diretor Walter Hill até agora. Infelizmente, o público que se diz interessado em música - e especialmente no blues - ainda não descobriu a sonoridade de "Crossroads".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/03/1988

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