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Aramis

Em todas as rotações... Em todas as direções...

1. Aproveitando, com muita razão, a evidência nacional que a pianista Eudóxia de Barros obteve ao participar do programa de tv "8 ou 800" (da qual foi imerecidamente desclassificada), a Chantecler decidiu reeditar o elepê que Eudóxia havia gravado em 1963, "Ouro Sobre o Azul" e produzir um novo disco com a pianista executando peças de Ernesto Nazareth (1863-1934). Assim temos, "Eudóxia de Barros Interpreta Obras de Ernesto Nazareth", um disco magnífico, com Eudóxia dando toda a sensibilidade a peças do grande compositor, incluindo ao lado de suas peças mais conhecidas, outra que permanecem ainda pouco divulgadas: "Nenê", "Travesso", "Dirce", "Talismã", "Atrevido", "Sustenta... A Nota", "Dora", "Floraux" e "Pingüim". Um magnífico lançamento. 2. - Antes de "Estúpido Cupido", Celly Campello havia feito algumas tentativas de retornar musicalmente, inclusive gravando um elepê em 1968, logo após o período em que residiu por alguns meses em Curitiba. Entretanto, só agora, embalada com o sucesso da telenovela é que teve sua chance de retorno, e assim mesmo temporário. Enquanto a Odeon reeditou um elepê com as matrizes originais, de 1961/62, é época do lançamento da versão da música de Neil Sedaka no Brasil, Celly gravou um novo elepê na RCA, produzido por seu irmão Tony e com arranjos e regências de Daniel Salinas, um dos melhores maestros e arranjadores. O esquema é o melhor de 15 anos passados: versões de musicas ingênuas e jovens, algumas mais recentes, outras daquela época: "Diga Que Eu Mando um Alô", "Não Quero Nem Saber", "Vamos Começar Tudo Outra Vez", "A Estação", "Alguém é Bobo de Alguém", "Cante" e, naturalmente, "Banho de Lua" e "Estúpido Cupido". 3. - Dos baianos novos que estão tentando a sorte, mais um lançamento: Schangay, pseudônimo de um jovem cabeludo de Salvador, que com "Acontecimento" (CBS / Epic, 144165, setembro/76), tenta sua vez e hora. Schangay mistura vários ritmos - comprometendo a espontaneidade de músicas de Luís Gonzaga ("Pronde Tu Vai Luiz?", parceria com Zé Dantas) e até Gordurinha ("Me Diga Se Dá Pá") com ruídos eletrônicos e interpretações gritadas, que no máximo se justificam nas músicas dos novos autores que selecionou para este elepê, como Nanuke/Schangoya?) e Piteira ("Acontecimento", "Asa Branca", "Jogo" "Peço e Ela Me Dá") e "Marcha Rancho". 4. - A Tapecar continua investindo em sambistas, acreditando salutarmente nos bons dividendos do gênero. Tanto é que a gravadora de Manolo já conta com um vigoroso acervo, que permite a montagem de elepês comerciais, capazes de disputarem lugar nas paradas. Mas misturar num elepe chamado "Só Samba? Faloou!" (volume 3), sambas como "Carta de Alforria", "Quitandeiro" e "Mineiro", a rocks comerciais como "Estúpido", sucesso de televisão como "Nuvem Passageira" ou mesmo ao atual êxito de Jorge Bem ("Xica da Silva") só é explicado tendo em vista o faturamento. Em compensação a mesma gravadora lançou novos elepês de Xangô da Mangueira e da sambista Elza Soares. Com direção musical de Ed Lincoln, Elza reaparece com um repertório bem amplo, mostrando de uma salutar preocupação de aproveitar trabalhos de novos compositores: "Malandro" (Jorge Aragão/Jotabê"), "Lição de Vida" (Paulo de Capitola), "Pinta e Borda" (Belizário/Di Ferraz), "A Rosa" (Efson), "Nó na Tristeza" (Vicente Mattos/Carlito Cavalcante), "Curumbandê" (Beto Baiana), incluindo também autores conhecidos - como Sidney da Conceição/Romeo Nunes ("Cipriano"), Yvone de Lara ("Samba, Minha Raiz") e encerrando com um pot-pourri de quatro sambas consagrados: "Sal e Pimenta" (Nazareno de Brito/Newton Ramalho), "Mulata Assanhada" Ataulfo Alves) e "Beija-me" (Roberto Martins). 5. - Cauby Peixoto, 46 anos, 22 de vida artística, é, sem dúvida, dono de uma das mais belas vozes do Brasil. Sobrinho do pianista Nonô (Romualdo Peixoto, 1902-1955) e primo de Cyro Monteiro (1913-1973), irmão de bons instrumentistas - Moacyr e Arakem, Cauby foi um vocalista de imenso sucesso na segunda metade dos anos 50, principalmente graças a boa orientação dada a sua carreira pelo empresário Di Veras. Gravou mais de cem elepes,fez várias temporadas nos EUA (onde chegou a aparecer num filme, "Jamboree) mas, nos últimos 10 anos, praticamente eclipsou-se em termos artísticos. No ano passado, Cauby reapareceu ao lado de outra cantora injustiçada - Ângela Maria, no show "Revista do Rádio", apresentado no Vivará, uma das maiores casas noturnas do Rio de Janeiro. Sigla/Som Livre, decidiu relançar Cauby, cujo último elepe ("Superstar", Odeon) havia aparecido há 5 anos, sem sucesso. "Cauby" (Sigla, 304.6099), produção de Adelino Moreira, arranjos de Guto Graça Melo, Carioca e Nelsinho, o traz com um bom repertório; em que sua voz clara e precisa dignifica músicas como "Anda Você" (Vinicius de Moraes/ Hermano Silva), "Duas Contas" (Garoto), "Mal-Me-Quer" (Nilton Teixeira/Cristóvão de Alencar), e "O Que Foi Que Eu Fiz" (Custódio Mesquita). Naturalmente, o produtor Adelino Moreira não deixou de incluir suas músicas - Como "Vila Sombria" "Perdão Mangueira", "Pecado Ambulante" e "A Volta do Boêmio". E Cauby também canta versões - como "Lencinho Querido" e "Jura-me" "Maria Glever, versão de Ariovaldo Pires). Mas o resultado, final, é positivo. Deram Zero por Bedeu", que vendeu alguns milhares de cópias. Números suficientes para estimularem a Copacabana a produzir um novo disco de Vagner, com uma nova coleção de músicas, que infelizmente, não chegam a se destacar. "Guitarreiro", "Lá do Partenon", "Sufoco", "Corcoveia", "Cobra Criada", "Camponesa", etc. 7. - A Phonogram criou uma nova série de discos- marketing para aproveitar a onda de músicas das discotecas, que inundam as grandes capitais. É aquilo que se chama de mustake, música empacotada, para consumo imediato, tão rápido quanto uma noite de festa nas discotecas da Barra da Tijuca e Ipanema, títulos aliás de dois destes discos, completados ainda com "As Músicas Quentes das discotecas Paulistas" ou a série "Discoteca Especial", que já chega no volume três. Inútil perder tempo para análise detalhada deste tipo de música: é realizada com o fito exclusivo de consumo imediato, principalmente pela faixa de jovens (de alto poder aquisitivo) que frequenta este tipo de casas noturnas - que exigem ouvidos resistentes e pernas ágeis, para aguentar o rítmo. 8. - A Continental também entrou na linha do disco-marketing, ora se entrou! Assim, temos "A Banda do Touguinha" , na linha da "Banda do Canecão", com os sucessos da temporada, em arranjos vibrantes. Já "Viva o Samba", reune vários intérpretes de seu elenco - Imperiais do Rítmo ("Folclore em Passarela", "Meu Batuque Taí"), Sonia Lemos ("Pérola de Agonitá", Agepe ("A Dança do Meu lugar"), Monarco ("O Quitandeiro"), Renata Lu ("Vingança"), Luis Américo ("Carta de Alforria"), Célia "Onde Estão Os Tamborins?"), Franco "Rock Enredo"), Maria Alcina (" Kid Cavaquinho") e Jamelão ("No Reino da Mãe de Ouro").
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal da Música
29
23/01/1977

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