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Aramis

Em sua autobiografia, Autran chegou aos tempos de ginásio

Embora ocupado com a produção de "A Vida de Galileu Galilei" - que o manteve em Curitiba nos últimos quatro meses - e, sempre gentil e solícito, tenha também comparecido a uma série de reuniões sociais oferecidas por amigos e admiradores da cidade, Paulo Autran tentou, nas horas que lhe sobraram, na tranqüilidade do Hotel Mabu, levar adiante um projeto que há tempos lhe vem desafiando: escrever suas memórias. - "Escrevi até agora 128 páginas, e nem terminei o curso ginasial", - diz, com humor, referindo-se a quantidade de fatos que, em sua privilegiada memória, vão surgindo à proporção que mergulha no passado, para contar de sua vida. Aos 67 anos - a serem completados no próximo dia 24 de setembro (a comemoração será em Ponta Grossa, quando "Galileu" ali estiver sendo apresentada, Autran tem, sem dúvida, muito para revelar, já que ao lado de sua vida pessoal, tem exatamente 40 anos de teatro - a partir de sua estréia, em 1949, com "Um Deus Dormiu Lá em Casa", de Guilherme Figueiredo. Reconhecido como o maior ator do Brasil, quase 80 peças encenadas ao longo destas quatro décadas, uma dignidade artística que o faz orgulhar-se de tudo que levou aos palcos - mesmo as comédias mais leves e inconseqüentes, Autran está para a cena brasileira como Laurence Olivier esteve para o teatro inglês. Só que Autran fez menos filmes do que o seu colega inglês, embora tenha participado de alguns momentos históricos de nosso cinema - desde o primeiro filme rodado inteiramente em cores ("Destino em Apuros", Multifilmes, 1953, direção de Mário Civelli) até "Terra em Transe", 1967, de Glauber Rocha (1938-1981), sem falar em momentos da Vera Cruz dos anos 50 ("Apassionata", 1952; "Veneno" e "Uma Pulga na Balança", 1953). Há três anos, interrompendo um longo exílio cinematográfico, Autran teve uma atuação emocionante em "O País dos Tenentes", de João Batista de Andrade. Em outubro, quando deixará a produção de "A Vida de Galileu Galilei" (se houver continuidade ou remontagem em 1990, Emílio Pita passará ao personagem título), Paulo Autran viaja a Portugal, para interpretar o personagem central de uma superprodução cinematográfica. Assim, não tendo programado férias para este ano, a redação de suas memórias será desenvolvida nas horas vagas, sem pressa. Não adianta, portanto, fazer previsões de quando chegará às livrarias. xxx Afora a autobiografia de Laurence Olivier - lançada no Brasil há mais de três anos - dois outros volumes sobre o maior ator inglês, falecido de Sussex, aos 87 anos, em 11 de julho último, estão nas livrarias, em edições da Globo, "Ser Ator", na qual o próprio Olivier revela tanto a magia quanto a miséria dos bastidores e do palco, numa viagem pelos mais diversos recantos da alma humana (256 páginas). Já em "Homenagem a Olivier", o biógrafo Garry O'Connor reuniu 19 depoimentos de atores e críticos (entre eles Douglas Fairbanks Jr., Michael Caine, Peter Ustinov), sobre o ator, diretor e cineasta (258 páginas). xxx Como já observamos em edições anteriores, vem aumentando o número de biografias no mercado editorial. Aproveitando a motivação do V Free Jazz Festival, acaba de sair "Bessie Smith - Imperatriz do Blues", de Elaine Feinstein (tradução de Ruy Jungman, 104 páginas, NCz$ 30,00, José Olympio Editora). Como a CBS, há dois anos, em co-edição com a Breno Rossi, havia editado três álbuns duplos com o básico daquilo que a maior cantora de blues de todos os tempos deixou gravado, o lançamento da edição brasileira desta obra (que saiu em 1985, pela Penguin Books, nos Estados Unidos) se constitui num evento. Sem pretensões de esgotar o assunto (o livro é relativamente curto), a autora procurou esclarecer (com cuidadosa pesquisa e farto material fotográfico) os principais momentos da vida e do trabalho de Bessie Smith (Tennesse, 1984? - Memphis, 26/09/1937), uma mulher negra (sofrendo um acidente automobilístico na Route 61, ao Sul de Memphis, às 3 horas da tarde de um domingo, não teve o atendimento médico nos hospitais que procurou, por causa de sua cor), que foi tão sofrida como as letras das canções que interpretou. Bessie deixou 180 músicas gravadas (das quais 20 estão desaparecidas) para a Colúmbia e mesmo tendo vendido a impressionante cifra de dez milhões de discos em menos de uma década (salvando, inclusive, a gravadora da bancarrota), morreu pobre. Influência maior, inclusive, na carreira de outra cantora magnífica, Billie Holiday (1915-1959, cuja autobiografia "The Lady Sings the Blues" saiu no Brasil há cinco anos), a vida de Bessie mereceria há muito um volume. E que os seus discos sejam relançados pela CBS. xxx A Globo lançou há alguns meses uma biografia de Louis Armstrong (1900-1971) e outros livros na mesma área estão prometidos. A repercussão do filme "Bird" de Clint Eastwood (agora em lançamento em vídeo, pela Warner), animou a tradução de uma das biografias de Charlie Parker (1920-1955). A Editora Campus, que tem feito também edições biográficas (Leonard Bernstein, por exemplo), anuncia a compra dos direitos de tradução da autobiografia de Miles Davis (Alton, Illinois, 25/05/1926), na qual, inclusive, faz revelações sobre sua misteriosa retirada do meio musical, quando ficou cinco anos sem fazer apresentações e gravações.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
02/09/1989

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