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Aramis

Em reprise, três dos melhores dos anos 80

Antecipando-se à divulgação dos filmes do ano e da década, com o oportunismo que caracteriza a programação da Fucucu, alguns dos filmes que constarão das relações a serem divulgadas na edição especial do "Almanaque" do próximo dia 8 de janeiro, já estão sendo reprisados nos cinemas da Fundação Cultural. Nada a opor, só que uma programação dos melhores de 89 - bem como dos títulos possíveis de serem mostrados em tela ampla daqueles que foram apontados como os mais significativos dos anos 80 (na opinião da crítica internacional via "Cahiers du Cinema", "American Film" e também dos críticos brasileiros) poderia se constituir num evento organizado, culturalmente bem conduzido e com um sentido didático. Da forma que a Fucucu está fazendo, mais uma vez mostra pressa, improvisação e falta de critérios: relança obras magníficas, numa época em que o público está as voltas com múltiplos programas, pouca atenção dando para o cinema - a não ser para as produções comerciais, que, desde a segunda semana de dezembro, atraem especialmente a faixa infanto-juvenil ("De Volta para o Futuro - II Parte"; "Os Caça-Fantasmas - II Parte"; "Os Trapalhões na Terra dos Monstros", etc.). Depois de reprisar - por apenas uma semana - o maravilhoso "Bird", de Clint Eastwood no Cine Luz, a Fucucu programou neste final de ano, três outras obras primas dos anos 80: "A Noite de São Lourenço", 1981, dos irmãos Taviani (Cine Groff); "Fanny e Alexander", 1982, de Ingmar Bergman (Cine Luz) e "O Último Imperador", 1987, de Bernardo Bertolucci (Cine Ritz) - todos em apenas três sessões diárias devido a serem longuíssima-metragem. O Cinema dos Taviani - É possível que Paolo ou Vittorio Taviani venham a Curitiba em 1990. Isto mesmo! Amigos pessoais do cineasta cearense (radicado em Brasília) Pedro Jorge de Castro ("Tigipió"), se dispuserem de tempo, estão dispostos a conhecer algumas cidades brasileiras, inclusive Curitiba, nas quais será apresentada "A Bodega dos Taviani". Trata-se de uma grande homenagem a estes dois irmãos-cineastas, formada por cenografias de alguns de seus filmes, fotos, guarda-roupas e retrospectiva de uma obra iniciada em 1954 com "San Miniato: Luglio 1944" e que vem crescendo sempre em qualidade. Pedro Jorge passou vários meses na Itália, este ano, acompanhando as filmagens do último longa dos Taviani, rodou um vídeo sobre os cineastas e acertou a vinda da "Bodega" para o Brasil, em promoção oficial - ao qual a Secretaria da Cultura, através do Museu da Imagem e do Som (leia-se Valêncio Xavier) já deu total apoio para que Curitiba seja incluída no roteiro. Enquanto a "Bodega" não chega, é bom rever os filmes dos Taviani e por isto torna-se como um ótimo programa a reprise de "A Noite de São Lourenço" (La Notte di San Lorenzo), realizado em 1981 - num momento de cinema político, após o impacto de "Pai, Patrão" (77) e antes do lirismo de "Kaos" (84) e da nostalgia de "Good Morning, Babilonia" (86). Tendo concorrido ao Oscar em 1981 como melhor filme estrangeiro (perdeu para "Mephisto", do húngaro Istvan Szabo), "A Noite de São Lourenço" tem sua ação ambientada durante a II Guerra Mundial. Como sempre, os irmãos Taviani buscam uma visão campestre, distante dos grandes centros, para situarem a ação de seus personagens - gente simples, camponeses, com uma intensa sinceridade. Numa entrevista há quatro anos passados, Paolo Taviani dizia a respeito deste filme agora em reprise: - "Queríamos intitulá-lo "Sotto il Segno della Felicita" ("Sob o Signo da Felicidade"). O motivo? Nosso otimismo fatalista, como já o definiu Pasolini. Quando tudo nos parece perdido, há sempre a possibilidade de que tudo se salve, como os outros. Nos já vivemos este tipo de luta (observação: o filme aborda o fascismo em sua ação no interior da Itália) em nossa própria família: nosso pai, um advogado, era talvez o único antifacista burguês de San Miniato. Foi com ele que compreendemos os horrores do fascismo e foi com ele que tivemos a sorte de estar ao lado de quem acabou com todo aquele horror". E, afinal, para quem não compreendeu a esperançosa mensagem deste belo filme, Vittorio Taviani diz: - "Nos Estados Unidos, o público aplaudiu comovido a cena do menino fascista morto, uma seqüência tão cruel que pensamos até em cortá-la". As raízes de "A Noite de São Lourenço" vem de longe, admitem seus autores. - "Na verdade, suas raízes podem ser encontradas em nosso primeiro trabalho no cinema - "San Miniato: Julho de 1944", proibido pela censura dos anos 50 porque poderia provocar desordens". "O Último Imperador" - Produção bem mais recente, mas também realizada por um dos grandes do cinema italiano - Bernardo Bertolucci, "O Último Imperador" volta na grandiosidade da tela ampla. Não se compara a (re)visão desta superprodução galardeada com 8 Oscars e mais dezenas de outros importantes prêmios, com sua redução para o vídeo. Considerada a maior "barbada" dos últimos anos na festa do Oscar, "O Último Imperador" levou os prêmios de filme, direção, roteiro adaptado, trilha sonora (editada no Brasil pela RCA/Barclay), direção de arte, fotografia, figurino, montagem e som. O filme foi grandioso em sua história sobre o trágico imperador Pu Yi (1906-1967), o último representante da dinastia Ching (iniciada em 1616); na realização (19 mil extras, mais de 200 atores/atrizes americanos, ingleses, chineses e japoneses); 9 mil trajes de várias partes do mundo. Segundo o jornalista Edward Behr, autor de "The Last Emperor", Pu Yi além de pedófilo, era bissexual e mantinha relações sádicas com suas concubinas. No filme, entretanto, Bertolucci ignorou este lado da vida do imperador, para mergulhar no lado político: os ciclos do poder, o personagem enfatizando a dinâmica do século XX. Pode-se até dizer que "O Último Imperador" tem ligações com outro (excelente) filme de Bernardo, "1990": o mesmo encanto pelas transformações da história, presente neste dois longos estudos sobre épocas e homens que marcaram o século. No elenco grandioso, John Lone interpreta o personagem-título, enquanto o inglês Peter O'Toole é o seu preceptor. Maravilhosa fotografia de Vittorio Storaro. A música é de Ryuchi Sakamoto, David Byrne e Cong Su. "Fanny e Alexander" - não foi só o filme de maior sucesso popular na obra de Ingmar Bergman, como representou uma abertura para públicos que nos anos 50/60 não conseguiam penetrar em seu universo huis clos, profundo, de paixões e sentimentos que o fizeram o chamado "pai do cinema psicológico". Ao fazer 70 anos (14/07/1988), em entrevista a João Lins de Albuquerque ("Folha de São Paulo"), Bergman dizia: - "Na minha idade, passamos a conhecer melhor nossa identidade e temos tempo para ser mais generosos. Reencontramos uma espécie de paz. Envelhecer nem sempre é agradável, mas é a partir do envelhecimento que começamos a apreciar melhor a vida (...). Há alguns anos atras detestava música pop, o rock and roll me enfurecia. Hoje mudei de idéia. Gosto da música pop, embora continue resistindo a dançá-la". De certa forma, este bom humor demonstrado por Bergman há um ano e meio, ajuda e entender a verdadeira abertura que foi "Fanny e Alexander", uma belíssima história familiar, realizada em 1982, premiada com o Oscar - e voltando os olhos para o mundo infantil. Distante daquele cineasta que a partir de "Crise" (1948), alternando o cinema com o teatro e a ópera, construiu a mais densa obra do cinema introspectivo, em alguns instantes ("Morangos Silvestres", 57; "O Rosto", 58; "Através de um Espelho", 61; "A Hora do Lobo", 68; "Paixão de Ana", 69; "A Hora do Amor", 71 e "Gritos e Sussurros", 72), com verdadeiros ensaios filmados - desafiantes às mais bem (in)formadas cabeças de cinéfilos. Ao terminar "Fanny e Alexander" - que muitos classificam como uma espécie de "enciclopédia", Bergman declarou que não voltaria a filmar (já havia feito 44 longas), decidindo-se a trabalhar só no teatro. Mas voltaria a dirigir dois filmes para a TV (que foram exibidos nos cinemas: "Depois do Ensaio", 84 e "De TVA Saligga / O Sinal"). Outras Opções - Afora estas três reprises classe "A", que estão em cartaz no circuito da Fucucu, a semana tem as atrações que vêm lotando as salas: "Os Caça-Fantasmas 2", de Ivan Rettman - que vale ao menos pela presença da deliciosa Sigourney Weaver na cabeça do elenco - continua no Plaza. No Condor e Lido I, "De Volta para o Futuro - II Parte", que apesar de um pouco mais complicado do que a primeira parte, tem bons momentos de humor e ótimos efeitos especiais. Aliás, em matéria de efeitos especiais, "O Segredo do Abismo" (The Abyss), em segunda semana no Astor, vale como uma verdadeira aula, trazendo no elenco Ed Harris ("Walker"), Mary Elizabeth Mastrantonio ("A Cor do Dinheiro") e Michael Biern. Para o público infantil, as opções se dividem entre "Os Trapalhões na Terra dos Monstros" (São João, Lido II) e "Oliver & Company", o 27º desenho de longa-metragem dos estúdios Disney, dublado em português com canções interpretadas por Paulo Ricardo ("Nova Iorque é uma Cidade Grande e Tentadora"), Leo Jaime ("Eu não Vou Esquentar"), Rosana ("Estas Ruas São de Ouro"), Adriana Calcanhoto ("Perfeição Existe") e Simony ("Boa Companhia"), que estão na trilha sonora editada pela CBS. Lembrando o clima de dois outros desenhos famosos dos estúdios Disney - "A Dama e o Vagabundo" (1955) e "A Guerra dos Dálmatas" (1961), "Oliver e Seus Companheiros" é uma adaptação, livre e modernizada, do famoso romance "Oliver", de Charles Dickens. Uma diversão sem comprometimento maior que merece ser visto por crianças de todas as idades. E um Feliz 1990! LEGENDA FOTO 1 - "Oliver e sua Turma": as músicas dubladas por cantores jovens e o elepê com a trilha sonora já lançada pela CBS. LEGENDA FOTO 2 - Sigourney Weaver e Bill Murray em "Os Caça-Fantasmas 2", em exibição no Plaza.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
29/12/1989

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