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Aramis

Em busca dos tesouros perdidos de nossa MPB

Ao viajar na segunda-feira, 8, para o Rio de Janeiro, o colecionador Leon Barg tinha razões de sobra para exibir o seu dentifrício sorriso. É que no último fim de semana recebeu uma carta de uma das filhas de Ary Barroso (1903-1964), agradecendo pelo seu interesse em incluir nas reedições da série Revivendo, muitas composições de seu pai - especialmente aquelas que nunca antes haviam saído em elepês - e que dentro de sua imensa obra permanecem esquecidas. Leon gostou tanto da atenção da herdeira de Ary, que já conversou com o pesquisador Alceu Schwaab, para tentar localizar alguns sambas que Ary deixou sem gravar - e que poderão ganhar seus primeiros registros através do selo paranaense. xxx A outra alegria veio num telefonema de um amigo lojista, de Copacabana, informado que Marisa Monte - hoje a mais badalada cantora da nova geração - havia adquirido todos os discos até agora lançados pela Revivendo. Ou seja, 25 volumes nos quais estão registros históricos da MPB, quase todos fonogramas originais de 78 rpm, incluindo cantoras totalmente desconhecidas mesmo por experts em nosso cancioneiro. O que prova que Marisa Monte, 23 anos, com um repertório dos mais abertos, está interessada mesmo em conhecer a chamada era de ouro de nossa música popular. xxx Há algumas semanas, Leon Barg recebeu um telefonema do embaixador Igor Torres Carrilho, do Itamarati, que está coordenando uma série de homenagens a cantora lírica brasileira Violeta Coelho Netto de Freitas, que completará 80 anos em breve. Para tanto, Torres Carrilho quer montar um elepê reunido árias e canções interpretadas por Violeta, entre os raros registros que fez no Brasil - e aproveitando, inclusive, gravações radiofônicas. A maior dificuldade estava em encontrar um 78 rpm da continental, selo azul, no 23.509, que contém no lado A, "Elegie", de Massanet e, no lado B, "Coração Solitário", de Tchaikowsky. Poucos dias após estes telefonemas, apareceu na loja de Leon uma pessoa humilde, oferecendo velhos 78 rpm. Entre eles, estava, justamente, a gravação de Violeta Coelho. Diz Leon: - "Era o único disco que me interessava, pois os outros eu já possuía. E tive que comprar todo o lote, para ficar com este". Ao entrar em contato com o diplomata, Leon soube que já havia obtido outro registro através do pesquisador Roberto Gambardela, dono de um dos mais freqüentados "Sêbos" de 78 rpm de São Paulo. xxx A série Revivendo - cuja importância vem crescendo cada vez mais, inclusive pela cobertura nacional que tem merecido - aumentou nesta semana com o quarto volume de Francisco Alves ("Meu Companheiro"), a exemplo dos anteriores trazendo basicamente faixas inéditas em elepês. Prontos para saírem, mais algumas vozes históricas da MPB, através das seleções que Leon Barg faz graças ao seu extraordinário acervo. Assim, estão programados discos de Orlando Silva (1915-1978), Roberto Paiva (Rio de Janeiro, 08/02/1921) e Odete Amaral (1917-1986). Outros discos reunirão gravações de Carlos Galhardo (1913-1985) e Nuno Roland; Gastão Formenti (1894-1974), João Petra de Barros (1914-1947) e Silvio Caldas, entre outros. Cantoras esquecidas como Laura Suarez (ainda viva, aos 81 anos) e Iolanda Osório (já falecida), assim como o instrumentista Waldir Azevedo (1923-1980) estão também na programação da Revivendo, que até o final do ano deverá estar com um acervo de mais de 50 discos. xxx "Meu Companheiro", o quarto elepê de Francisco Alves (1898-1952) representa (mais) um mergulho na imensa obra do "Rei da Voz", que deixou centenas de gravações - as quais, periodicamente, tem sido reeditadas. Leon Barg, entretanto, tem buscado os momentos menos conhecidos de sua obra, como mostra neste novo elepê. Assim, se preocupou em mostrar o lado de compositor de Chico Viola, parceiro de Orestes Barbosa (1893-1966) em "Meu Companheiro", de 1933. Juntos, fizeram 14 músicas e "Meu Companheiro" foi o primeiro desta série. Outra composição de Chico, esta em parceria com o teatrólogo Luiz Iglesias, é "Tormento" (1931). De Ary Barroso (1903-1964), duas de suas composições menos conhecidas: "Amizade" (1929), quando o compositor mineiro ainda começava a sua carreira (foi a sua quarta música gravada) e "Carioca" (1933). Ari Kerner (Veiga de Castro, 1906-1963), jornalista, dramaturgo e compositor, teve duas músicas também gravadas por Francisco Alves incluídas neste álbum documento: "Xô Canarinho" (1928) e "Vem Colombina" (1929), esta em parceria com Edmundo Henriques. Em 1931, cantava-se muito a malandragem e Heitor dos Prazeres (1808-1966) compôs "Mulher de Malandro". Do grande Cartola (Agenor de Oliveira, 1908-1980), que teve em Chico Viola o seu primeiro intérprete (em 1929 lançou "Que Infeliz Sorte"), temos agora o registro de "Qual foi o Mal que eu te Fiz?", de 1932. A segunda parte deste samba foi de Noel Rosa (1910-1937), que a cedeu a Cartola. Com fonogramas originais da Odeon 3 notas de contracapa de Abel Cardoso Jr. (que tem assessorado Leon em todas as suas produções), "Meu Companheiro" é mais um grande momento documental de nossa MPB, idealizado e produzido por Barg, um pernambucano que com quase 40 anos de Curitiba já se tornou um legítimo "Bicho do Paraná". LEGENDA FOTO - Leon: o garimpeiro da época de ouro... musical.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
12/05/1989

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