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Aramis

Eliana, afinal um grande disco

Uma prova de quando é importante um bom produtor na carreira de uma cantora é o último elepe de Eliana Pitman, Filha (adotiva do admirável Booker Pitman (1909-1969) ao lado de quem iniciou sua carreira de vocalista nos anos sessenta, tendo como empresária uma das figuras mais famosas do folclore musical brasileiro, a vigilante supermãe Ofélia, que da ternura do personagem de Shakespeare só tem o nome, Eliana sempre teve boas oportunidades. Nunca lhe faltaram bons contratos e chances para se afirmar como show-woman. Fez discos em varias etiquetas, mas permaneceu por mais tempo na Odeon, onde a fábrica sempre lhe garantiu facilidades para seus discos. Entretanto sua carreira permanecia insonsa, desregulada e apesar de um relativo prestigio popular, o que lhe garante, há anos, caches altos, permitindo uma vida tranqüila em termos financeiros, em termos artísticos Eliana era vista sempre com restrições pelos fãs da boa musica brasileira. Animada, talvez pelo sucesso de "Das 200 prá lá" um dos primeiros sambas de João Nogueira a ganhar gravação e projeção Eliana Pitman decidiu assumir-se como sambista, já que tem tudo para entrar na categoria das grandes vocalistas de nosso samba, onde brilham, atualmente, com intensidade os nomes de Beth Carvalho e Clara Nunes. Trocando a Odeon pela RCA Victor e ali tendo a facilidade de ganhar como produtor o admirável e competente Sérgio Cabral, Eliana Pittman começa praticamente uma nova carreira a partir deste "Tô chegando já cheguei" (Victor, 103.0084, outubro/74). Sérgio Cabral, um homem que sabe das coisas de nossa música, escolheu um repertório apropriado a voz de Eliana, brasileiríssimo e de fácil comunicabilidade. Assim o disco abre com um samba inédito que dá titulo ao disco: "Tô chegando já cheguei", de Picolino da Portela e Caipira, em arranjo do inspirado Magro. Do MPB-4. Em seguida, Eliana dá chance de se conhecer uma das primeiras musicas da ilustre parceria Martinho da Vila-Paulinho da Viola ("Mare mansa") com arranjo do maestro Severino Filho durante quase 20 anos integrante do grupo vocal cariocas. Quatro sambas novos, complementam o lado A deste elepê, todos do melhor nível: "Abandono" de Ivor Lancellotti, uma das revelações de 1974, já com um bom números de trabalhos gravados; "Capital do samba", Noca "Deus de barro", de Gisa Nogueira ( irmã de João que começou agora gravar seu primeiro lp na Tope Tape" e "Motivação" de Mauro Duarte e Noca. O lado B abre com uma curiosa "Mistura de carimbó", onde com arranjo de Severino Filho Eliana mostra o novo ritmo do Norte que começa a descer para o sucesso: Sinha pureza ", de Pinduca e "Carimbó do mato", adaptada pela própria cantora. As duas faixas seguintes são de músicas antigas, mas por ela revalorizadas: "Quem dá mais?", de Noel Rosa (1910-1937 ) e "Kalu", de Humberto Teixeira, que foi sucesso internacional na década de 50. Demonstrando sua versatilidade a quarta faixa com arranjo do pianista Ely Arcoverde, é um belíssimo samba de Carlos Lyra- Ronaldo Boscoli, que fizeram tantas músicas inesquecíveis na mais despreocupada fase da Bossa Nova: "Tristeza chama Tristeza", Eliana também é compositora e prova isto em "Saudade vai saudade vem", em parceria com Bruno Carvalho. Antes de encerrar o disco, com "Baile do Municipal" (Lorival Faissal) Eliana lembra Benito Di Paula, o prospero compositor-cantor da noite paulista com "Se não for amor". Um ótimo disco que Eliana fica a dever a seu (e nosso) amigo Sérgio Cabral.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
14
01/03/1975

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