Eis o elogio do crítico do "The New York Times"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de março de 1987
Ganhar um elogio da crítica teatral do "The New York Times" é o que qualquer artista, por mais famoso que seja, sonha. E a iratiense Denise Stocklos ganhou rasgados elogios do normalmente rigoroso D.J.R. Bruckner, numa crítica de 82 linhas, publicada na edição de terça-feira, 24 de fevereiro último.
Em quase 400 palavras, Bruckner sintetizou em um texto intitulado "Off With Her Head" ("Cortem a sua Cabeça"), a visão que Denise Stocklos deu ao texto de Dacia Maraini, encenado no La Mamma E.T.C. (74 East Street, Nova Iorque), justamente no mês em que há 4 séculos a rainha Elisabeth I, da Inglaterra, mandou decapitar a sua prima, Maria, Rainha da Escócia, depois de mantê-la na prisão por um certo período.
Logo no início de seu artigo, Bruckner diz que "a atriz brasileira Denise Stocklos, em "Mary Stuart", um espetáculo one-woman, une-se a séculos de atores e escritores que tem achado a história destas duas mulheres (Mary Stuart e Elisabeth I) irresistível. A evocação de Denise das duas rainhas - enriquecida com a música (gravada) de compositores que vão de Milton Nascimento a Villa-Lobos, Brahms a Donizetti - é assombrante, divertida e perplexa".
O crítico do "The New York Times" destaca que o objetivo primordial de Denise e da autora do texto, a italiana Dacia Maraini, foi desenvolver a percepção do espectador em relação as duas rainhas, estimulando-o a perceber as múltiplas interpretações dadas por diferentes autores (e compositores) a duas personagens tão fortes dentro da história universal.
O espetáculo dura uma hora mantendo o público tão integrado à ação que nem chega a respirar, conforme a descrição do crítico Bruckner. Já na primeira cena, Denise interpreta Mary Stuart na prisão e, com as suas mãos - usando seus riquíssimos recursos de mímica - faz o espectador imaginar todo um cenário que, na verdade, inexiste - "mas que a concepção e a força de Denise fazem parecer real".
A concepção desta peça - originalmente escrita para quatro atrizes tem nesta estréia mundial a utilização de elementos bem humorados e modernos, como a interpretação mímica que Denise faz da canção "Superman", da performática Laurie Anderson (que Denise conheceu em São Paulo, em novembro último) e também um hilariante diálogo entre Elisabeth e Mary Stuart ao telefone.
Em outro trecho da crítica do "The New York Times", Bruckner lembra que "a gama de imagens provocada pelo monólogo e as letras das músicas utilizadas é imensa, mas não ultrapassam a força das imagens visuais criadas por Denise, em seu rosto e seus movimentos: ela é uma mímica maravilhosa".
Usando trajes de extrema simplicidade - um colant de lycra e uma jaqueta - Denise consegue recriar todo um imaginário guarda-roupa de época. Ao final do espetáculo, um inteligente jogo de iluminação ofusca o rosto de Denise, quando Mary Stuart é decapitada. A este propósito, Bruckner diz: "A luz morre mas a imagem da mulher permanece: na luta pela maestria e ilusão, Denise Stocklos vence brilhantemente".
Enviar novo comentário