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A ecologia ganhou belo visual graças a Brahma

A Companhia Cervejaria Brahma, nas comemorações de seus 50 anos de funcionamento em Curitiba, teve uma atitude meio rara no difícil ano que se encerrou: financiou uma edição do livro de fotografias "Curitiba-Capital Ecológica", organizado por três amadores radicados em nossa cidade. Aquilo que, em anos anteriores, começava a se tornar tradicional entre as grandes empresas - patrocínio a livros-de-arte e edições fonográficas - caiu a níveis mínimos entre 1990/91, após o debacle financeiro pós-Fernando Collor na presidência da República. O mercado de brindes-de-arte havia crescido tanto nos últimos anos que não só as empresas passaram a disputar uma saudável concorrência para mostrar cada vez mais trabalhos de grande beleza e fino acabamento como vários profissionais - entre editores, produtores fonográficos, diretores-de-arte etc., especializaram-se exclusivamente nesta faixa, formando até uma associação de classe. Editores com a experiência de Geraldo Jordão Pereira, primogênito do editor José Olympio, ao se afastar do comando da empresa fundada há 60 anos por seu pai, criou a Salamandra-Consultoria Editorial, que realizou mais de 20 edições luxuosas. Um dos últimos trabalhos foi "O Livro do Mate", com textos coordenados pela jornalista Teresa Urban e patrocínio das indústrias Matte Leão. Como outros especialistas na área, Jordão Pereira também viu eclipsarem-se - ao menos temporariamente - os clientes que o buscavam para produções sofisticadas. Igualmente, o produtor fonográfico Mario Aratanha, da Kuarup Produções, que começou realizando discos-brindes no período em que Karlos Rischbieter presidiu o Banco do Brasil e ali introduziu o patrocínio a discos da melhor música erudita nacional, também viu a sua divisão especializada nesta área - e pela qual saíram excelentes produções (incluindo também shows de nível internacional) arrefecer devido a grave situação financeira enfrentada pelas empresas (*). No Paraná, onde o mecenato cultural sempre foi dos mais tímidos, as poucas tentativas feitas para conseguir patrocínios para modestas edições fonográficas também não foram bem sucedidas. A compositora e produtora Mara Fontoura, do grupo As Nymphas, sócia do estúdio de som Grammophone, chegou a gravar várias faixas para dois projetos - um álbum comemorativo aos 70 anos de Carmem Costa e um disco com trabalhos de vários compositores e intérpretes paranaenses que não puderam ainda ser concluídos. O engenheiro e homem-da-noite Sérgio Bittencourt Martins, 42 anos, que em 1991 foi o único mecenas cultural do Paraná, bancando a produção do lp "Optimun In Habeas Coppus" e uma antologia de jovens poetas, depois de ter acumulado prejuízos (a venda do disco e livro foi mínima) colocou no freezer os projetos para novas edições "que gostaria de ter realizado, já que sinto enorme prazer em prestigiar os talentos de minha terra" como declara. Só que para tanto, há que haver disponibilidade financeira e mesmo com todo seu empenho na firma de engenharia que dirige - e os negócios no melhor endereço noturno-musical da cidade ("Habbeas Coppus", Rua Dr. Murici, não houve saldo de caixa para permitir generosidades culturais. xxx Assim, quando hoje, ao meio dia no almoço que oferecerão a imprensa, comemorativa aos 50 anos de presença da Brahma no Paraná, os Srs. Horst Lindner e Magim Rodriguez Jr., diretores gerais e de marketing da empresa, terão especial satisfação de distribuir como brinde aos convidados o belo volume "Curitiba - Capital Ecológica", com textos em português e inglês. Embora já tivesse sido lançado há alguns meses, a exemplo de outra produção dos mesmos fotógrafos - Pantanal", este livro destinado especialmente a promoção externa, não havia tido qualquer repercussão. Inexperientes e mal assessorados, os amadores que o produziram - o médico Carlos Vazzani, carioca, 52 anos; o engenheiro civil e construtor José Paulo Fagnani, paranaense de Cambé, 52 anos e o administrador de empresas, Hilário Wiederkehr Filho, catarinense de Blumenau, 38 anos, não haviam obtido com o lançamento da promoção merecida - ao contrário, por exemplo, do que outro excelente fotógrafo universitário Carlos Renato Fernandes, conseguiu com o seu livro "O Paraná", a caminho de uma terceira edição a ser impressa na Alemanha. Foi José Renato quem, generosamente, fez o prefácio de "Curitiba - Capital Ecológica", obra de 132 páginas, valorizada por dezenas de fotografias coloridas que focalizam diferentes aspectos de Curitiba. Aliás, há duas semanas, ao visitar o Museu de Arte Moderna de Nova York, como faz anualmente em suas férias na Big Apple, o ex-advogado e intelectual Luís Roberto Soares - que foi o primeiro (e com a edição americana de um livro de fotografias antigas do Brasil, organizada por Gilberto Ferraz, que usou como capa uma imagem dos arredores de Curitiba. "Afinal, para uma edição americana, este destaque a nossa cidade "não deixa de ser altamente significativo" comenta Luís Roberto, que está encaminhando para a gráfica os originais com a revisão final do primeiro Dicionário Histórico-Político-Biográfico elaborado no Paraná, que coordenou com ajuda das professoras Cassiana Carolo e Cecília Maria Westhpalen. xxx Além das boas fotografias feitas por Ravazzani, Wiederkehr e Fagnani - embora algumas com imagens óbvias de nossa cidade - "Curitiba - Capital Ecológica", foi enriquecido por textos inteligentes de pessoas de diferentes áreas profissionais: jornalismo (Adherbal Fortes de Sá Jr., Dino Almeida, Nilson Monteiro), tradicionalismo (Arthur Tramujas Neto), publicitários (Gilberto Ricardo dos Santos e Jamil Snege), escritores e poetas (Leôncio Correia, Luís Pilotto, Dalton Trevisan), pesquisa histórica (Valério Hoerner Jr., Romário Martins, Nely Almeida, Mai Nascimento, Oksana Boruszenko, Oswaldo Ceccon) e o professor-revisor Carlos Alberto Sanchez. Poty Lazarotto fez uma bela ilustração e a diagramação é de Saul Kozel Teixeira. Estranhamente, apesar de todo o seu prestígio internacional, o prefeito Jaime Lerner - que é dono de um texto bem humorado - não deve ter encontrado tempo (tal o número de viagens internacionais que tem feito) para assinar uma página que valorizaria esta obra lançada pela Edibran-Editora Brasil Natureza (132 páginas, preço variável conforme o ponto em que seja colocado à venda). Em compensação, o politiqueiro que "preside" a "comissão dos 300 anos", não deixou passar a oportunidade para também utilizar esta publicação e "aparecer" como autor de dois textos. Aliás, os mais babosos e insignificantes de todos os reunidos nesta bonita edição. xxx A Brahma, além de patrocinar a edição de "Curitiba - Capital Ecológica", vai desenvolver um amplo programa cultural para Curitiba, como anunciará o presidente Horst Lindner no almoço de hoje. Amanhã, ao entardecer, haverá um concerto com orquestra de cordas integrado por 50 alunos que aqui participam da X Oficina de Música, seguido de um coquetel, "regado com o melhor chopp do Brasil", garante a simpática e eficiente Rosana Bermudes, assistente da gerência geral e que ao lado da assessora de imprensa, Elaine Romão, coordenou esta simpática programação. Nota (*) O crítico Jacob Klintowitz, do "Jornal da Tarde" e outras publicações, há anos vinha produzindo de 2 a 5 livros de arte a cada ano, especialmente para a Volkswagen do Brasil S/A. Em 1991, pelo que nos consta, não pode cuidar da editoração de nenhum trabalho de nível. Também outras empresas, que tradicionalmente patrocinavam livros e discos, suspenderam seus projetos no ano passado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
23/01/1992

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