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Aramis

A dramática situação da Escola de Música

O secretário do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia, professor Ascencio Garcia Lopes, visitou, inesperadamente, a Escola de Música e Belas Artes do Paraná há duas semanas. Foi conhecer aquela unidade subordinada agora a sua pasta e mostrou-se muito mineiro, evitando fazer qualquer promessa em relação ao fato que mais irrita os professores: a permanência de uma advogada de Londrina, a explosiva Lilian Schell, como interventora há mais de dois anos. Os professores da EMBAP, às vésperas de completar 40 anos de fundação, sentem-se ofendidos pelo fato de há 8 anos não acontecer eleições na instituição, num desprestígio a mais de cem mestres - entre os quais nomes de expressão cultural - que ali lecionam. A ex-secretária da Educação, a "tia" Gilda Poli fez mais: ao invés de encaminhar a lista tríplice que, há 2 anos, indicava o arquiteto e professor Fernando Carneiro para a direção, acabou provocando a intervenção na Escola, ali aboletando-se a advogada Lilian Schell, que a maioria dos professores quer ver pelas costas. xxx A resistência à interventora fez com que a Associação dos Docentes da Escola de Música e Belas Artes do Paraná se fortalecesse. Uma prova é o documento que a presidente Marisa Ferraro Sampaio encaminhou ao secretário Ascencio Garcia Lopes, relatando detalhadamente os fatos (que o secretário parece desconhecer, haja vista a política de panos-quentes que vem adotando) e exigindo soluções. Os docentes estão preocupados, porque na Faculdade de Educação Musical do Paraná, Ascencio designou um interventor - Antonio João Manfio, ex-diretor de Assuntos Universitários da Secretaria da Educação na administração Gilda Poli. E volta-se a falar, com insistência, num fantasma que repugna tanto o corpo docente, como os alunos da EMBAP: a fusão das duas escolas. xxx Um trecho do documento encaminhado ao professor Ascencio é bem esclarecedor da situação: "No ano de 1978, com o afastamento da então diretora da EMBAP, professora Henriqueta Penido Monteiro Garcez Duarte, foi conduzido à direção, em caráter "pro-tempore", o professor Fernando Rogério Senna Calderari, contrariando o artigo 21 do Regimento em vigor". Em 1983, com a mudança do governo do Estado o erro persistiu, frustrando a expectativa da comunidade, no sentido de que procedessem as tão desejadas eleições, "reflexo da verdadeira democracia". No entanto, outro diretor "pro-tempore" foi nomeado (N.R. Henrique Morozowicz) "cuja administração levou a Escola a um verdadeiro caos e motivou a intervenção atual". Nesta época a comunidade, a duras penas, conseguiu processar as eleições regimentais na 91ª reunião da Congregação, na qual fizeram tanto professores titulares como celetistas, sendo eleito, através de lista tríplice, o professor Fernando Augusto Lacerda da Silva Carneiro para a direção da Escola. Portanto, "a EMBAP está há oito anos com direções "pro-tempore", fato que, além de contrariar todos os preceitos democráticos, impede o desenvolvimento natural e harmonioso da Instituição, com sérios prejuízos para a comunidade". xxx A Asssociação dos Docentes lembrou também ao secretário Ascencio que em todas as oportunidades, "inclusive em reuniões da Congregação, a comunidade da EMBAP sempre se manifestou, através de votação, a favor do regime de autarquia para a Escola". O problema mais grave da Escola - há 37 anos funcionando no velho edifício da Rua Emiliano Perneta, 179 - é a questão das instalações físicas. O prédio está necessitando de reparos e só mesmo pela boa vontade de mestres e alunos as aulas obtêm algum rendimento. A ADEMBAP lembrou ao desinformado secretátio Ascencio que existe, há anos, um projeto elaborado pelo professor Barontini, para ser construído no terreno da Rua Emiliano Perneta um prédio de três pavimentos, que poderia atender às necessidades da Escola. Outra opção é o aproveitamento de uma área na Rua Mateus Leme, que abrange dois terrenos de 15 x 29 e 11 x 29,40 metros, adquirida pelo Estado e destinado a EMBAP. Para este local também já existe um projeto elaborado pelo arquiteto Manoel Coelho. O que os corpos docente e discente não aceitam: a transferência da Escola para o Centro de Treinamento do Magistério, no bairro do Boqueirão, como pretendeu a "tia "Gilda Poli no governo José Richa. xxx Eis alguns dos problemas atuais no velho prédio da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, uma mostra vergonhosa da desatenção do Estado em relação as suas unidades de ensino: 1) Iluminação precária nas salas de aula que funcionam à noite; 2) Problemas da rede interna de esgoto, com funcionamento deficiente das instalações sanitárias; 3) Goteiras em vários pontos do edifício, ocasionadas pela má conservação de calhas e telhado que, apesar de ter sido objeto de contratação de firma especializada, por intermédio da EMOPAR, continuam ocorrendo por falta de inspeção competente; 4) Problemas na rede elétrica, por falta de revisão periódica. Outros problemas, estes em relação a ocupação da área: 1) Apesar da deficiência de espaço físico que motivou, inclusive, a locação de um prédio na Rua Ébano Pereira, 332, para funcionamento de salas de aula, é mantida uma sala no edifício principal para entrega de contracheques de aposentados do Estado. 2) Aproveitamento indevido de espaço livre para o depósito e instalação de 38 botijões de gás (modelo industrial), de propriedade e utilização do hotel Lancaster (instalado na Rua Voluntários da Pátria). Outro problema: o quadro de pessoal administrativo tem sido considerado mais como conseqüência do que como um fim. Tais cargos foram preenchidos, quase sempre, para acomodar horários disponíveis por servidores de outros órgãos. Hoje a grande maioria, por determinação governamental, retornou às suas origens, ocasionando lacunas graves em determinados setores. A biblioteca é um exemplo. Encontra-se, no momento, desativada por falta de pessoal, motivando reclamação dos alunos. xxx Há problemas também em relação à situação didática (registro de diplomas) e o curso de canto é o exemplo da crise: com a volta dos professores à sua lotação de origem, a única professora que leciona a disciplina, detentora de dois pradrões no Estado, está aposentada em um deles. Como se vê, há necessidade de se fazer alguma coisa pela EMBAP, Senão, nem chega aos seus 40 anos em 1988.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
02/06/1987

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