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Aramis

Dolceacqua lembrou-se do cinquentenário de Franco

Há pessoas que não morrem. Ficam encantadas, como disse, com tanta felicidade, Guimarães Rosa. Franco Giglio é uma dessas pessoas iluminadas pelo talento que o fez um grande artista. Em suas obras - dos menores óleos e desenhos aos grandes murais que se espalham pela nossa cidade - estará sempre aquele italiano bonachão, simpático, excelente amigo que num frio setembro, há 28 anos, vindo de São Paulo com destino a Porto Alegre, parou por uma noite em Curitiba, encontrou alguns artistas, tomou um honesto pileque e aqui acabou ficando por quase duas décadas. Falar de Franco Giglio, o artista, o homem e o amigo, é sempre a emoção de lembrar uma das pessoas mais maravilhosas que viveram na Curitiba dos anos 60, participando de um movimento artístico que modificou as nossas artes plásticas, numa época em que a Cocaco, fundada por Enio Marques Pereira, Manoel Furtado e Loio Persio - e depois adquirida por Eugenia Petrius, era o único endereço no roteiro de artes plásticas, e ao redor da pequena loja de arte, surgia uma geração de artistas marcantes. Há 5 anos, num trágico 4 de abril, na Itália, Franco Giglio morreu aos 45 anos. Um fulminante ataque de coração - aquele imenso coração que o sempre fez um amigo tão amado e estimado. xxx Se a morte - esta aventura terrível e suja, que leva os muito bons, os muito meigos - lembrando Camus e Hemingway, não tivesse levado o bom Franco, por certo em agosto último ele teria ganho muitas comemorações pelo seu cinqüentenário. Felizmente, sua obra permanece mostrando a sensibilidade do artista e, numa iniciativa das mais simpáticas, Giancarlo Cassini, prefeito de Dolceacqua, a paradisíaca aldeia da Liguria onde ele nasceu, promoveu entre 8 a 18 de agosto uma grande mostra retrospectiva de sua obra. Quarenta colecionadores cederam meia centena de obras do artista - entre retratos, figuras femininas, os encontros, mosaicos, tapeçarias - enfim, tudo aquilo que mostrava o multitalento de Franco. Slides com suas grandes obras em Curitiba - painéis na Assembléia Legislativa, Cemitério Municipal, Tribunal de Justiça, edifícios Anita, Brasilino de Araújo e Wawel, igreja matriz de Porto União, entre outros, transmitiram aos visitantes da exposição o lado de autor de grandes painéis, na técnica de pastilha, da qual foi praticamente o introdutor entre nós. Um belíssimo catálogo de 40 páginas, com reproduções a cores de 50 de seus trabalhos e texto do crítico Giorgio Seveso, complementou a homenagem da Comune di Dolceacqua ao seu filho que, no Brasil, tanto falava da beleza da Liguria, que acabou motivando que tantos paranaenses, inclusive este escritor, acabassem fugindo do roteiro tradicional do turismo na Itália para conhecer a Riviera Dei Fiore, realmente uma das mais belas regiões do mundo. xxx Desde que voltou à Itália, em 1975, casado com Roseli de Almeida, Franco desenvolveu um trabalho regular - residindo em Verona, onde nem um trágico incêndio, em janeiro de 1979, destruindo centenas de seus quadros, o desanimou. Os últimos anos, ele e Roseli viveram em Desenzano del Garda, integrado ao grupo Artisti Ponte Bianco alla Veneziana (80-82) e ganhando o reconhecimento crítico da "D'Ars", a mais influente publicação de artes plásticas da Itália, com circulação mundial. Além da exposição comemorativa aos seus 50 anos de nascimento, realizado na Sala Consgliare na Prefeitura de Dolceacqua, na galeria 9 Collone, em Trento, outra mostra também reuniu trabalhos de Franco - início aliás de outras manifestações que se desenvolverão entre 1988/89. Afinal, a Itália sabe valorizar os seus filhos de talento. LEGENDA FOTO - "Verão I", obra de Franco Giglio
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
03/11/1987

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