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Aramis

Dois ensaios lembrando quem foi Rodrigo Júnior

Reiniciando o programa editorial que desde os tempos do primeiro secretário da Cultura do Paraná, Luís Roberto Soares, ainda no governo Ney Braga, tem sido marcado por alguns títulos importantes, meia dúzia de novos títulos estarão sendo lançados nos próximos dias. Dois volumes com ensaios sobre Rodrigo Júnior, o "Cinematographo" - reunindo textos de cinema do crítico Lélio Sotto Maior Jr., e "A Música Popular no Cassino Ahu", do pesquisador Alceu Schwab, estão quase prontos para saírem nas próximas semanas - enriquecendo a bibliografia paranaense. Trabalhando com menos sofisticação (e mais economia, apropriada aos novos tempos) do que na administração René Dotti, a coordenadora gráfica Teresa Cristina Montecelli sacrificou um pouco a apresentação dos novos livros, especialmente no que se refere à reprodução de ilustrações, mas entende-se a necessidade de garantir com menor orçamento o cumprimento de toda uma pauta de edições programadas. xxx Os dois primeiros livros, já prontos - os outros ainda estão em fase de finalização gráfica - oferecem um completo levantamento sobre o jornalista, poeta e escritor Rodrigo Júnior (João Baptista Carvalho de Oliveira - Curitiba, 10/09/1887 - 08/06/1964), um dos três intelectuais paranaenses incluídos como tema do I Concurso Nacional de Ensaios da Secretaria da Cultura do Estado do Paraná no ano passado. Além de publicar o trabalho vencedor, de autoria de Valério Hoerner Júnior, generosamente a Secretaria da Cultura editou também o ensaio de Wilson Bóia, que obteve apenas uma menção honrosa. Assim, com a simultaneidade de dois livros sobre um mesmo personagem - e cujo lançamento deve ocorrer no próximo dia 4 de dezembro, no Centro de Letras do Paraná - torna-se possível comparar o "approach" que cada um dos ensaístas deu a respeito. Valério Hoerner Júnior, curitibano, 48 anos, nove livros publicados nos últimos 13 anos, editor de uma coluna semanal sobre Curitiba do passado na "Gazeta do Povo", aos domingos, é um estudioso incansável da história paranaense. Detalhista e meticuloso, seus estudos que vão desde uma biografia do dr. Leocádio Corrêa [?], médium espírita, até "O Palácio Avenida" - pesquisa para o álbum lançado no início deste ano (o material levantado continua inédito, à espera de uma futura edição completa), Valério Hoerner Júnior teve acesso a fontes familiares, buscou arquivos, depoimentos de contemporâneos de Rodrigo Júnior, traçando assim não só uma biografia do autor de "Torre de Babel", mas recuperando toda uma época da vida literária paranaense - a partir de 1905, quando publicou, aos 18 anos, o seu primeiro livro ("Estrela D'Alva"), o movimento de transformação ocorrida em 1912, quando Euclides Bandeira fundou e organizou o Centro de Letras do Paraná e as posições, ditas conservadoras, que Rodrigo assumiria já em 1926, quando colocou-se contrário ao movimento modernista de Jurandir Manfredini, que, com quatro anos de atraso, bradava na província em favor do modernismo que havia sacudido São Paulo em 1922. Ilustrado com fotos - infelizmente prejudicadas na reprodução, enriquecendo a obra com o cuidado de mencionar o ano de nascimento e morte da maioria das pessoas citadas, procurando capturar o comportamento e o espírito da bucólica Curitiba das primeiras décadas deste século, Hoerner Júnior fez um trabalho de primeira categoria, confirmando os méritos de pesquisador que vem demonstrando em toda sua obra, seja contando a história do "Folclórico Bar Palácio", ou lançando-se na biografia de paranaenses para a nossa vida cultural, permanecem imerecidamente esquecidos. xxx Carioca do bairro da Glória, Wilson Bóia, médico e coronel do Exército reformado, 64 anos, residindo em Curitiba há pouco tempo - aqui se fixou devido a razões familiares, após ter servido em várias cidades, principalmente em Fortaleza - tem se atirado com uma organização militar na pesquisa de assuntos paranaenses. Compensando a falta de maior vivência com o Paraná por uma espartana permanência de mais de 10 horas por dia na Biblioteca Pública, Arquivo Público e outros centros referenciais, Wilson Bóia vem produzindo bastante. Há 2 anos, foi o vencedor do concurso Gralha Azul com uma monografia sobre David Carneiro. Em 1990, além da menção honrosa sobre Rodrigo Júnior - agora publicada - apresentou trabalhos vencedores sobre dois outros temas do mesmo concurso - o crítico Nestor Victor e o jornalista e chargista Alceu Chichorro, em volumes que também estarão sendo editados pela Secretaria da Cultura. Sem a visão panorâmica que Valério Hoerner Júnior deu a Rodrigo Júnior e seu tempo, Wilson Bóia, em um volume maior (260 páginas), levantou centenas de dados sobre a produção literária de Rodrigo Júnior, relacionando títulos, publicações e transcrevendo grade parte de suas poesias. Infelizmente, o índice onomástico, com 188 nomes que cita em seu texto, não diz quais as páginas em que os mesmos são mencionados, ficando assim como um apêndice inútil. Admirável, entretanto, que com sua organização, disciplina e entusiasmo pela história e literatura, o carioca Wilson Bóia, já com muitos títulos publicados, se interesse pelos homens, coisas & fatos do Paraná - contribuindo para a nossa memória e participando de concursos que, infelizmente, tem tido muito poucos concorrentes - revelando desinteresse especialmente das novas gerações pelo conhecimento de quem fez o que, em nossa vida cultural.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
29/11/1991

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