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Aramis

Dois curtas do Paraná concorrem em Brasília

Brasília Superando as expectativas e dificuldades - falta de recursos (só liberados na última hora) e de tempo (menos de 20 dias para a efetivação concreta), o XXº Festival de Brasília do Cinema Brasileiro desenvolve-se num clima de alto astral, com a participação de filmes interessantes e representativos da produção 87. Se os longas - com exceção de "Leila Diniz" de Luís Carlos Lacerda, O Bigode (que teve sua estréia nacional em Curitiba, há 3 semana, na abertura da I Mostra de Cinema Latino-Americano) - já eram conhecidos de outros festivais (e mesmo de lançamentos comerciais), nos curtas metragens está a grande novidade. Se ao menos 10% dos jovens realizadores que vem generosa e energicamente se lançando no cinema através dos curtas conseguir ultrapassar este vestibular teremos uma excelente safra de realizadores de longas no virar da década. Os curtas aqui apresentados - seja em 16mm (exibidos no asfixiante Salão Vermelho do Hotel Nacional), seja em 35mm (no Cine Karim, onde acontece as sessões de longa-metragns) revelam realizadores criativos, de boas idéias e preocupados em apresentar trabalhos bem acabados pois entendem que o mercado comercial - no qual desejam chegar, com a exibição compulsória dos curtas em complemento às sessões que projetam filmes estrangeiros, exige a mínima estética, som audível e, preferencial temas comunicativos - e não herméticas curtições e individualistas. Infelizmente, o filme de animação das irmãs Wagner - "Respeitável Público", inscrito para a categoria de 35mm, não foi selecionado (aliás, não há nenhum filme de animação nesta categoria). Em compensação, na mostra competitiva em 16mm, há dois trabalhos de cineastas paranaenses, da chamada "Turma do Balão Mágico", formada à sombra da Cinemateca do Museu Guido Viaro e que, até hoje sem qualquer ajuda oficial, vem realizando filmes em super 8, 16mm e agora partindo para o vídeo - enquanto não chega ao 35mm. Bolinha (Altevir José Silva), paranaense de Paranavaí, 25 anos, filho de uma família de tradições circenses, com "O Açougueiro do Norte Contra o Cineasta Voador", produção que lhe custou Cz$ 30 mil ( "O dinheiro que tinha para comprar um aparelho de som três em um, mas que na última hora decidiu investir no filme") abriu a programação da tarde de terça-feira, na qual estarão sendo exibidos curtas de três realizadoras: "Meninas de um outro tempo", de Maria Inês Villares (belo documentário sobre a velhice, premiado no último festival de Gramado), "Olinda Só Riso", da pernambucana Katia Mesel e "Terra Para Rose". Na segunda-feira foi apresentado "A Bruxa", de Mauro Faccioni Filho, 25 anos, paranaense de Maringá, mas que reside em Florianópolis onde ganha a vida como engenheiro elétrico. Integrado a "Turma do Balão Mágico", após alguns filmes em super 8, Faccione realizou o vídeo "A Loba" e "Jesus é Traído na Cruz" e "Duende", ambos no ano passado. Com "A Bruxa", 30 minutos, livre transposição de uma lenda da ilha de Santa Catarina, dá um salto maior, buscando entender a crendice e mesmo os preconceitos populares. Num belo texto, Faccioni explica os propósitos de seu filme, narrado por Antonio Celso dos Santos e que tem em Ana Lice Brancher a intérprete da personagem tema. Tanto Mauro Faccioni como Bolinha preparam-se para um projeto maior - associações aos gêmeos Schulmann e a Palito (Nivaldo Lopes), realizador de "A Guerra do Pente") ultimam o roteiro de "Crônicas da Paixão", em episódios, 16mm (já dispõe do filme virgem e de verba para laboratório) e com previsão orçamentária de apenas Cz$ 350 mil. Se houver a mínima ajuda, esta rapaziada vai para frente, pois garra e disposição não lhes faltam. A presença de Bolinha e Faccioni em Brasília é significativa para o cinema paranaense. Representa a presença de uma nova geração de realizadores, honesta, disposta a fazer cinema e que superando obstáculos e limitações começa a aprimorar seus trabalhos. Altenir Silva, o Bolinha - que desistiu de um curso de sociologia para fazer cinema, admite que seus filmes anteriores, rodados em super 8, eram um simples exercício e que neste "O Açougueiro do Norte Contra o Cineasta Voador" mais do que uma homenagem ao próprio cinema (é a história de um jovem cineasta que acaba assassinado pelo açougueiro a quem devia o fornecimento de carne), lhe ajudou a fazer uma catarse pessoal. - "Prestei minhas homenagens ao cinema, usando até a música de Sérgio Ricardo para "Deus e o Diabo na Terra do Sol". Agora estou mais descarregado para fazer outros projetos".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
20/10/1987

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