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Aramis

Denise, superstar dos anos 90, na conquista da América

E a (nossa) estrela Denise Stocklos continua a subir! Quem não leu o "Jornal do Brasil" da última quinta-feira, 11, ficou sem saber que a mímica iratiense - hoje considerada uma das melhores do mundo - está pela terceira vez fazendo temporada no LaMama, um cult-theater no Greenwich Village, cuja proprietária, Ellen Stewart, apaixonou-se pelo trabalho de Denise e desde 1987 a vem hospedando para anuais temporadas de 30 dias no bairro boêmio e artístico da Big Apple. A jornalista Vera Franco, correspondente do "Jornal do Brasil" em Nova Iorque, enviou longa matéria - que mereceu toda a última página do Caderno B contando como está indo a iratiense neste seu terceiro reencontro com os novaiorquinos. xxx Desta vez, Denise inovou: na peça "Casa" faz "uma exploração poética das reações interiores do indivíduo e das atividades mais corriqueiras do cotidiano humano". Nesse espetáculo, Denise reúne pela primeira vez um elenco de 8 atores, entre eles seus dois filhos, Thias e Piata Stocklos. Vera Franco fala que Denise está comemorando 10 anos de atividades artísticas. Na verdade, é mais que o dobro: em 1968, quando chegou de Irati, tímida mas já com forte personalidade, ela fazia numa sessão coruja no antigo Teatro de Bolso, na Praça Rui Barbosa, a encenação de "Círculo na Lua, Lama na Rua", seu primeiro texto. E não parou mais! Participou de inúmeras encenações ocorridas em Curitiba - especialmente as do grupo Escala, dos bons tempos em que Oracy Gemba (por onde andará?) e Iara Sarmento o faziam uma usina de criatividade. Denise foi a Barbara Heliodora na montagem de "Arena Contra Tirandentes", direção de Gemba, produção de Paulo Sá (hoje próspero homem de vendas) que inaugurou, oficialmente, o Teatro Paiol em termos de artes cênicas em abril de 1972. (antes, Vinícius, Toquinho, Marília Medalha e o Trio Mocotó o haviam inaugurado musicalmente em 27 de dezembro de 1971). xxx Voltemos às informações de Denise, hoje internacional. Ela disse a Vera Franco, do JB, que "Casa" tem a sua visão do que será a tônica dos anos 90: - "A desorganização de todo o establishment político e cultural e a partida para a valorização de cada momento da vida humana, que vem sendo muito descaracterizada pelo capitalismo". Hoje à beira dos 40 anos, uma vivência internacional que lhe abriu a cabeça, dois filhos, reconhecimento internacional como uma mímica da maior expressão, Denise também amadureceu politicamente. Assim, é natural que Vera Franco tenha escrito no JB que em "Casa", Denise define-se como reflexo de uma posição ideológica e estética totalmente desvinculada de qualquer tentativa de concessões. - "Acho que nos anos 90, em um Brasil pós-eleições, não é possível mais manter um discurso político de história ou mesmo de antropologia. Quanto mais poético, mais democrático e real é o teatro". xxx Em 1988, Denise conquistou elogios - e garantiu casas lotadas (é verdade que LaMama é um mini-teatro) com sua audaciosa visão de "Mary Stuart" - que, aliás, vai apresentar na Filadélfia, após passar 45 dias na Califórnia. No ano passado, com uma produção ainda mais audaciosa que propunha uma revisitação hamletiana de Ir-A-Ti os aplausos reduziram-se. O que, em absoluto, não a desanimou. Com "Casa" a reação do público (que não chegou a ocupar nem metade do LaMama) tem sido "a mais disparatada possível" na descrição de Vera Franco. "Houve quem passasse a peça inteira às gargalhadas, mesmo nos momentos mais trágicos do cotidiano humano, e quem suspirasse de angústia e tensão". Essa diversidade de humores da platéia já é rotina na vida de Denise. - "Há trabalhos em que eu fico chorando e as pessoas rindo. Isto não me incomoda. Na realidade, o que me incomoda seria o ator partindo para uma linguagem mais superficial". Com o seu teatro essencial, Denise propôs uma nova dramaturgia - e tem buscdo fazer projetos abertos a várias interpertações. xxx Apesar de legítimo bicho do Paraná, Denise não tem planos artísticos de retornar a Curitiba. No máximo, tem visitado sua família - a irmã Deyse Malucelli, que reside em Curitiba, a mãe e as tias em Irati. Afinal, há alguns anos, sonhou em fazer uma grande encenação de "Mary Stuart", que teria inclusive a possível participação de Fernanda Montenegro. Procurou o Banestado que, sem maiores explicações, nem considerou o projeto. É verdade que na época havia o obscurantismo cultural da infeliz administração José Richa. Mais recentemente, Denise fez uma premiada mensagem de fim-de-ano para o governo, criado por seu (ex)amigo Jamil Snege, da Beta, que ganhou premiações. Só que houve uma veiculação nacional, não pervista no contrato, para que Denise rodasse a baiana: contratou o escritório de advocacia de Eduardo Rocha Virmond para processar o Estado, o produtor do filme (Jaime Brustolin) e, de quebra, levando no rodão até o seu amigo Jamil Snege - que, naquela madrugada de inverno de 1968, quando após a primeira apresentação de "Círculo na Lua, Lama na Rua", foi o primeiro intelectual da cidade a lhe dizer palavras de estímulo e confiança - ela que se mostrava, no momento, tão insegura. xxx Denise internacional, mímica famosa, aplausos de americanos e até a descoberta de que é dona de uma voz de contralto puro, que a faz ser uma futura musa de Fernando Bicudo, que anunciou que iria escrever uma ópera especialmente para ela. Ora, viva! Aplausos para Denise que ela merece!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
16/01/1990

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