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Aramis

Délcio, melhor autor, agora bom intérprete

Foi pena que "Amar é Sofrer" não tivesse chegado aos nossos ouvidos antes de elaborarmos a listagem dos melhores da música brasileira em 1987 ("Almanaque", 03/02/1988). Pois se tivéssemos escutado a tempo este excelente elepê do compositor Délcio Carvalho (Estúdio Eldorado) por certo o incluiríamos em destaque. Mas fica registrado para 1988 e ganha nosso voto para a premiação do Prêmio Vinícius de Moraes, promoção da Sharp em andamento - e de cujo júri temos o orgulho de fazer parte. Realmente, "Amar é Sofrer" está naquela categoria de álbuns-documentos que mostram o talento de um grande autor. Se Paulinho da Viola faz falta (e como!) há 5 anos já, na fonografia do melhor samba, Délcio Carvalho, mais conhecido até agora apenas como parceiro de Dona Ivone Lara em alguns sucessos marcantes (especialmente "Sonho Meu"), revela-se nesta produção de selo Paralelo, num trabalho cuidadoso de seus parceiros Ivor Lancelotti e Jorge Simas, um afinado intérprete, que sabe dizer as suas músicas. Parceiro de tanta gente de talento, Délcio selecionou músicas que falam de amor & desamor, da crítica social ("Terreno Minado", com Ari Araújo) e até o emotivo encontro com sua parceira mais conhecida, dona Ivone Lara, que em "Foi Ela", diz com alegria que "foi capricho do destino / o que me aconteceu / ser parceira de um sambista / que tanto sucesso escreveu". Participações muito afetivas - como a grande Elizeth Cardoso em "Pelo teu Destino", o saxofonista Paulo Moura em "Era uma Estrela" (esta, uma das mais belas faixas do disco, mas sem a sua autoria: é apenas de Eduardo Gudin / Waldir da Fonseca). Ótimos músicos - entre os quais o violão sempre seguro de Claudinho Jorge, e a percussão de Beto Cazés - os arranjos esmerados de Jorge Simas, do violonista de 7 cordas e parceiro (em "Cremação", "Pelo teu Destino"), a harmônica de Rildo Hora dando um toque especial ao fascinante "Convite", sua parceria com Ivor Lancelotti (com quem também fez "Tira esse Peso de Mim"), contribuem para o equilíbrio e a beleza do disco. Um álbum-amostragem de um talento imenso - haja visto a qualidade de todas as faixas, com diferentes parceiros. Se Délcio Carvalho já merecia nossa admiração e respeito como compositor, agora também ganha nota 10 como intérprete.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
14/02/1988

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