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Aramis

De Ritchie ao Flash-Back da Jovem Guarda

O anglo-carioca Ritchie (Richard David Court, Kent, Inglaterra, 1952) é, há dois anos, uma das tranqüilidades do espanhol D. Munõz, presidente da CBS: vendeu mais de um milhão de cópias de seus discos em 1983/84 – catapultado pelo hit "Menina Veneno", ultrapassando vários outros milionários contratados da poderosa multinacional. Num mercado de altos e baixos como o fonográfico – passada euforia de 1979, quando o Brasil já era apontado como o quinto do mundo – Ritchie não deixa de ser um produto dos mais rentáveis para uma fábrica. _ E no ano de 1984, que mostrou uma reação otimista do mercado fonográfico – com 24 milhões de unidades de elepês vendidas – os diretores de marketing (que há muito substituíram os artísticos nas decisões finais das gravadoras) passaram a apostar pela chamada faixa jovem, cada vez com maior intensidade, pois sabidamente está provado que o comprador de discos é, em 80%, entre a faixa dos 12/30 anos de idade – enquanto os chamados "adultos" (mais de 30), voltam-se para a MPB consagrada, o jazz, o clássico e o lírico. Assim, frente aos números impressionantes do Rock in Rio – iniciado Sexta-feira, 11 – não é de estranhar que o Carnaval esteja esquecido (apesar da RCA/Top Tap já Ter lançado um primeiro elepê com os sambas-de-enredo das Escolas de Samba do Rio de Janeiro – primeiro grupo) e só se fale em rock. Do mais ingênuo – o nostálgico "O Sonho Não Acabou", com os antigos Golden Boys num revival dos sucessos da Jovem Guarda – ao mais elétrico e agressivo heavy metal, especialmente dos grupos e solistas que desde o início da semana desembarcaram no Rio para a grande promoção da Artplan. Dos muitos discos de rock/pop/funk, etc. que apareceram nos últimos meses, alguns registros neste início de um roqueiro 85. RITCHIE – Com um super promovido (e exibido) video-clip, Ritchie tenta repetir o recorde do disco anterior, baseado na sua nova música "A Mulher Invisível". Naturalmente, que Liminha, a quem a CBS confiou a produção, partiu da velha fórmula: não se modifica time que está ganhando. E assim, o disco é centrado na mesma "filosofia" do álbum anterior – com músicas descontraídas, na simplicidade de Ritchie, com seus parceiros Lobão ("Bad Boy") Chris Morre ( "Gisella"), Liminha ( "Bons Amigos") e, naturalmente, Bernardo Vilhena ( "Insônia", "O Homem e a Nuvem", "Trabalhar é de Lei", "Só Para o Vento", "Mulheres" e "... E a vida continua"). JOÃO PAULO – é outro produto jovem, fabricado dentro das exigências deste mercado consumidor que exige renovações de seus ídolos a cada verão. Boa pinta – uma das normas básicas para aceitação de um novo roqueiro – o garoto João Paulo é também compositor, dividindo com uma parceira (Daisy May) e até o veterano Ronnie Von ("Viagem") as faixas deste seu primeiro elepê (Opus/Columbia). João Paulo se inscreve na linha de uma descontração amorosa, simples – mas que nos faz Ter, sinceramente, saudades dos tempos da jovem guarda. E com Os Golden Boys retornando em sua formação original ( "E O Sonho Não Acabou", CBS) sentimos que revisitando-se aquelas músicas que Roberto e Erasmo Carlos, Martinha, Wanderléia, Vips, Leno e Lilian e tantos outros "ídolos" do programa "Jovem Guarda" da TV – Record tornaram sucessos no final da década passada, continham muito mais comunicação e mesmo alegria (mesmo quando falavam de amores mal sucedidos) do que 80% das que se ouvem atualmente. Os Golden Boys surgiram em 1958, formado pelos irmãos Roberto (1940), Ronaldo (1942) e Renato Correia José Maria (1944), irmãos de Evinha e dos componentes do Trio Esperança e seu primo Valdir Anunciação (1941), todos nascidos no Rio de Janeiro. Afinados e harmoniosos, mantiveram-se em cartaz por muitos anos. Ao se reagrupar novamente o núcleo original se tem como resultado um disco que é, no mínimo documental de época. Além do mais, produzido com esmero e bom acabamento, já que há mais de dez anos que Renato Correia é um dos mais atuantes produtores fonográficos – passando pelas grandes gravadoras do Rio de Janeiro. CLESO BLUES BOY é um jovem guitarrista-cantor-compositor que com "Som Na guitarra" (Polygram/Philips) ganha seu primeiro elepê – impulsionado pela faixa "Aumenta Que Isso Aí é Rock and Roll", anteriormente catituado em disco-mix. É uma pena que Celso insista em ser cantor também – já que como melodista e, especialmente, guitarrista – no que se pode ouvir em algumas faixas, seu talento para ser maior. A exemplo do que fizeram os paranaenses do grupo Blindagem, há 4 anos, com uma música de Paulo Leminski e, mais recentemente, o Rádio-Táxi com a versão de "Eve" – Celso também faz o seu apelo pacifista, no temor de uma guerra nuclear em "Filhos da Bomba". Vindos dos abrigos que a loucura construiu Instrumentos de uma crença, um jogo nada mais Geração perdida que vagueia a escuridão Dos homens que amaram o ódio e a destruição "Blues Motel", "Tempo Fora da Lei" o divertido "Rock Fora da Lei" e "Fumando na Escuridão" (com um rápido solo de harmonia de boca de Carlitos) são faixas comunicativas neste elepê de estréia de Celso Blues Boy – mais um na disputa do mercado jovem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
13/01/1985

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