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Aramis

De publicações, livros, revistas & jornalistas

Uma, entre muitas preocupações, do secretário Luís Roberto Soares, da Cultura e Esporte - compartilhada por seu amigo e agora colega da área, Sérgio Mercer, presidente da Fundação Cultural de Curitiba, é a falta de livraria não só no Interior mas também na capital. O problema é nacional, aliás: quando mais se edita menos livrarias existem, ocorrendo, entretanto, a abertura daquilo que as distribuidoras chamam de "pontos de vendas"- representadas por bancas de jornais e revistas, "estandes" em farmácias, supermercados, postos de gasolina etc. Mas a imagem da livraria tradicional, bem nutrida, espaçosa, embiente acolhedora e, principalmente a figura do livreiro bem informado, atencioso e bem educado, capaz de estar ao par das últimas novidades - nacionais e no Exterior - em termos editoriais, pronto a conseguir, no menor prazo de tempo, o livro que o leitor - e não apenas freguês - está interessado, praticamente está desaparecendo. Carlos Ribeiro, da Livraria São José, no Rio de Janeiro, era um exemplo deste misto de comerciantes e intelectuais, prova é que criou a imagem nacional de "mercado de livros" e seu nome é pronunciado com o máximo respeito e admiração pelo nossos melhores autores. Em Curitiba, Aramis Chaim, formado em filosofia, bem relacionado, está conseguindo fazer da Nova Ordem, na Rua Carneiro Lobo, ao lado do Edifício Dom Pedro II, da Universidade Federal do Paraná, uma das livrarias mais bem freqüentadas da cidade, com preocupações de criar um ambiente realmente amigo e acolhedor - embora o seu público seja, por enquanto, ainda mais na faixa de universitários e professores. Mercer, sensível a importância de que surjam outros pontos semelhantes, tem trocado idéias a respeito e a opinião é unânime: Curitiba precisa de novas opções em termos de livrarias Luís Roberto Soares vai além: quer estimular a abertura de livrarias em todo o Estado, pois acha um absurdo que até a sua cidade natal, União da Vitória, que conta com uma Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, não disponha de uma grande livraria. Uma idéia que levou ao presidente do grupo Banestado, o ex-secretário da Educação e Cultura Jucundino Furtado, poderá resolver o problema em duas etapas: inicialmente, as próprias agências do Banestado, que hoje estão espalhadas por todo o Paraná, criarem pontos de vendas; posteriormente, a criação de uma linha de créditos especial para pequenos empresários que se interessarem em investir no setor - que, infelizmente, não parece ser dos mais atraentes haja visto o número de livrarias que fecharam nos últimos anos. Em Curitiba, para dar um exemplo, afora a Nova Ordem, de Aramis Chaim, só as irmãs Paulinas é que abrirem nos últimos anos uma ampla livraria , na Rua Dr. Murici - mas com uma faixa específica de obras religiosas. Editores como Faruk El Khatib têm analisado a questão a luz de irrefutáveis dados de marketinge garante que 85% das vendas globais se concentram em apenas 120 cidades - e mais de 50% em menos de 70 - ou seja, milhares de localidades deixam, simplismente, de interessar aos grandes editores e distribuidores - Abril, Schinaglia, Bloch etc, que aliás somados aos livreiros ficam com a parte do leão: de 60 a 70% do valor de capa da publicação - restando apenas 30% para cobrir o custo industrial e os direitos autorais. Assim, só o best-selles, (geralmente de qualidade discutível), a revista de atualidades ou de apelo imediato (erótico, fofocas etc) é que conseguem tornar-se rebtável. Entretanto apesar deste calcanhar-de-aquiles para os autores/editores - distribuição pontos de vendas - nunca apareceram tantos livros e, especialmente, revistas, jornais e periódicos no Brasil, afora fascículos - estes cada vez mais sofisticados e atraentes - fazendo com que um cidadão razoavelmente interessado em se manter atualizado em algumas áreas tenha dispender uma verba mensal ao redor de Cr$ 2 mil para a compra de publicações. Regionalmente, também começam a crescer as publicações - destinadas a faixa específicas de mercado, procurando sua linha mais definida de leitores. "Curitiba-Shopping/Jornal de Pesquisa", que agora atinge seu 18.º número ininterruptamente, com uma reestruturação gráfica e redacional a soma de esforços de bons profissionais, como Celio Heitor Guimarães e Wilson Bueno, sob a direção de Luiz Renato Ribas, parece que, finalmente, repetirá em Curitiba o êxito que "Shopping News" obtem, há mais 10 anos, em São Paulo. Para uma outra faixa de público - classe A, não só de Curitiba, mas também visando atingir São Paulo - Carlos Jung, 35 anos de idade, 16 de jornalismo diário, atuante e, sobretudo, honesto e independente, lançou na noite de terça-feira o "Quem", projeto demoradamente estudando e planejando. Em formato tablóide, papel e uma qualidade gráfica invejável - e cá entre nós, garantida pelo excelente parque gráfico da Editora "O Estado do Paraná S/A", onde está sendo rodado - "Quem" pretende ser um quinzenário "up to date", moderno, irreverente e mesmo mordaz quando necessário, que mais do que apenas um jornal social, interesse também a faixa de consumidores/ leitores de um alto padrão intelectual. O prestigiamento publicitário já no primeiro, com anunciantes nacionais, faz com que a iniciativa de Carlos Jung tenha condições de se solidificar e abrir um novo mercado para os profissionais redatores, repórteres, editores de área especializadas, diagramadores etc. - carente naturalmente de boas condições de emprego. Por outro lado, também na área oficial se nota uma necessária e crescente mentalidade de disciplinar os recursos investidos em publicações destinadas à públicos específicos. "Referência em Planejamento", que o jornalista Aroldo Murú vem editando há 3 anos para a Secretaria do Planejamento é uma obra disputadíssima, nos meios técnicos e empresariais - pelo nível das matérias que publica. O Banco de Desenvolvimento do Paraná também há anos tem uma revista de referências que é indispensável a quem se preocupa em conhecer a realidade de nosso Estado e agora a Fundação Instituti Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, tendo Ruy Neves Ribas na presidência, decidiu reciclar sua publicação, fazendo quatro edições por ano, com coordenação de Creso de Moraes, profissional que merece o nosso maior respeito. O número 2, já montado por Creso, reúne estudos dos mais interessantes como "A Pesquisa e o Pesquisador' de Ademir Clemente, "uma estratégia de desenvolvimento espacial para o Paraná" de Divonir Teixeira Torres, estudos sobre a madeira (Gilmar Mendes Lourenço), poluição (Pedro Arijucken), bóias-frias (Maria Inês Bastos), extensão rual (Eliame Barros), entre outros. Evidentemente, os outros exemplos de publicações dirigidas poderiam ser lembradas - como a revista "Indústria", que Eddy Franciosi mantém com alto nível, equilibrando os assuntos empresariais uma visão cultural (ele que sempre foi um homem de teatro dos mais estudiosos), ou mesmo publicações mais modestas - como os jornais que Antônio Ramos Cordeiro edita para a OCEPAR - organização das cooperativas do Paraná, ou a publicação da Federação dos trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná, dirigida por Arnoldo Anater. Agora, com a decisão de um grupo de jornalistas em fundar uma cooperativa, nos moldes da bem sucedida experiência realizada pelos gaúchos, há 4 anos, liberados por Elma Bones da Costa (que foi o primeiro chefe-de-redação da sucursal da Abril no Paraná, entre 1969/70), o mercado jornalístico/editorial só tende a melhorar com as publicações oficiais ou não sendo feitas por profissionais honestos, consciente - preocupados com a verdade e acreditando nas palavras que um dia o grande Ernest Hemingway escreveu num texto belíssimo: "Sou jornalista. Sempre fui, Picasso também é jornalista, Informa o que se passa. O mesmo se pode dizer de Goya. De Goya, principalmente. Vejam seus desenhos de guerra e seus desenhos de touradas. Quando escrevo, procuro evitar publicidade. Um homem precisa de vida privada para escrever e, às vezes, precisa ser um pouco rude para conservar sua vida privada. Tenho de trabalhar como louco para escrever um livro melhor do que o último, com o qual tive muita sorte e estou deixando de lado a publicidade ate ser feito alguma coisa sobre a qual valha a pena falar. Até então, só posso ter a esperança de ser capaz de conservar a boca tão fechada quanto possível. Quando acabou um coisa, ela tem de ficar acabada. Como a caça. Um livro acabado é como um leão morto. Por que falar nele? Talvez surja alguém e nos dê um prêmio por termos liquidado um grande leão, e isso é bom porque nos deixa interessados no leão seguinte. Estou sempre pensando em meu próximo livro, não no leão morto. CONHEÇA SEU TRABALHO. E FAÇA-O E A CIMA DE TUDO, VIVA COM O SEU MATERIAL. MAS CAÇAR MANTÉM O CÉREBRO NA CABEÇA E O CORAÇÃO NO LUGAR ONDE DEVE ESTAR. Ernest Hemingway, Prêmior Nobel de Literatura em 1954 ( "O Velho e o Mar"), foi sempre, antes de tudo, um jornalista, que também deixou obras-primas da literatura. Mas obras vividas e por isso que ficarão. O texto acima reproduzido, do qual deu o título de "Escrever sem publicidade", foi publicado há mais de 30 anos. Mas não vemos nada mais atual para ser lido e meditado por todos que trabalham na chamada comunicação em nossos dias. "Papa Hemingway" era um homem que tinha todos os grandes "vícios" - a bebedeira, a paixão pelas mulheres, o amor ao perigo mas que, em nosso entender eram -e são - as grandes virtudes do ser humano - como a coragem, os desprendimento e o amor a verdade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
14/06/1979

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