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Aramis

Das reedições a música das novelas a música das imagens tem seu público

Um sólido pacote de trilhas sonoras de filmes, telenovelas e até teatro e "shows", está sendo colocado nas lojas, provando que apesar de afirmações de alguns executivos fonográficos, de que este gênero - válido, antes de tudo como documentação e que tem colecionadores fiéis, pode ser rentável. Há alguns anos, ainda quando na direção de projetos especiais da Polygram, Maurício Quadrio além de ter provado as possibilidades da área clássica e jazzística, editou também a coleção de 10 álbuns duplos intitulada "Hollywood Story", com as sound-tracks dos melhores musicais da MGM. Com sua transferência para a EMI / Odeon, a coleção não teve continuidade, mas, em conseqüência, a Polygram criou a série "O Melhor do Cinema", que vem tendo intensa regularidade e, na Odeon, têm saído alguma trilhas sonoras: há 3 anos, um álbum duplo, uma reedição de "O Picolino" (Top Hat), 1935, de Mark Sandrich, com Fred Astaire, em pleno vigor, cantando as músicas de Irving Berlim (do musical "The Gay Divorcee", no qual a fita foi inspirada). A Odeon passou a editar, a partir de 1978, a United Artists Records, com trilhas como dos filmes "Monraker - O Foguete da Morte", a penúltima aventura de James Bond (a última já está em produção), entre outras. É preciso entender a trilha sonora de várias formas. Algumas valem como documento, memória de filmes inesquecíveis - independente de seu valor musical. Outras são verdadeiras obras primas musicais - sem o nível acima das fitas para as quais foram produzidas. Nos EUA e Europa é possível conseguir trilhas sonoras praticamente de todos os filmes falados, já que há uma infra-estrutura que possibilita a edição simultânea das obras. No Brasil, não ocorre isto. Por exemplo, só no final do ano passado, 40 anos após "E o Vento Levou" (Gone With The Wind), 1939, de Sam Wood. George Cukor e Victor Fleming, ter sido realizado - e durante 3 décadas se mantido como o maior sucesso de bilheteria da história do cinema tivemos a edição de um álbum duplo, com os temas que Max Steiner (Viena, 10/5/1888 - Los Angeles, 29/12/1971) criou para esta produção de David Selzenick, falecido há poucas semanas Embora a MGM Records tenha, desde a década de 40, o álbum duplo, com a trilha original, esta edição, também um álbum duplo (Bandeirantes Discos / Band), é a gravação da Sinfônica de Londres, sob a regência do respeitável Muir Mathieson, trazendo os 14 principais temas do filme de "Tara's Theme" a "Ashley And Melanie", o tema de amor. Fotos do filme e um texto de Richard Olivier, valorizam esta bem cuidada produção da Bandeirantes, com coordenação de Wade Alexander e arte de Hy Fujita, que se recomenda mesmo aqueles que possuem a sound-track original. Duas trilhas de filmes já exibidos, também aparecem agora, em lançamentos da CBS - que detém um dos melhores catálogos e que promete, aliás, ainda para janeiro, a música de Gerhswin que Woody Allen selecionou para o maravilhoso "Manhattan". "A Primeira Noite de Um Homem" (The Graduate), com canções do Paul Simon, interpretadas por Simon & Garfunkel", com música adicional de David Grusin - entre as quais dois sucessos famosos ("Mrs. Robinson" e "The Sound of Silence"), (Lp GBS 1381157) é uma reedição, já que logo que o filme de Mike Nichols (1967) foi exibido, a sua trilha aqui apareceu. Já a trilha de "Os Olhos de Laura Mars" (EUA, 1978, de Irving Kershner), "trilling" sofisticado, lançado em 1979 no Brasil, revelou em Art Kene um novo e excelente compositor-arranjador, autor do belíssimo "Prisioner" (interpretado por Barbra Streissand) e "Laura & Neville", um dos temas que, sem favor, incluímos, entre os melhores de 1979. Na montagem desta trilha-sonora - com ação contemporânea, nos ambientes da alta moa em Nova Iorque. Kane reuniu também sucessos discoteques de grupos como K.C. & The Sunshine Band ("Shake Shake Shake / Your Booty"), Odissey ("Native New Yorker), da dupla Michalski & Osterveen ("Burn"), além de Michael zager Band ("Let's all Chant"). Há 11 anos, Henry Mancini - o mais vigoroso compositor de trilhas sonoras dos anos 60, gravou um álbum histórico, com 3 elepês, contendo as canções premiadas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, que a RCA - onde Mancini tem permanecido há mais de 25 anos, bem que poderia reeditar, pois há um público certo. Aliás, cada álbum de Mancini traz sempre músicas que, invariavelmente, comparecem nas relações dos melhores do ano. Com "The Theme Scence", com a excelente orquestra de Henry Mancini (RCA, 104.4127), um dos 10 melhores lps internacionais editados no Brasil no ano passado, ocorreu o mesmo: "The Children of Sanchez", do filme (ainda inédito no Brasil) de Hal Bartlete, o tema de "O Céu Pode Esperar" - destacando o sax soprano de Ted Nash e o barítono de Dick Nash, "The Cheap Detective", com Ralph Grieson ao piano e o tema de "Uma Vez Só é Pouco", com o próprio Mancini ao piano, este magnífico elepê merece ser adquirido por todos que apreciam a boa música instrumental. Infelizmente, apesar de lançado há menos de 6 meses, é difícil de ser encontrado nas lojas da cidade, cujos proprietários parecem não entender que existe um público de bom gosto e que aprecia a música de Mancini. Neste "The Theme Scene", temos ainda os temas de várias séries de televisão: "Galactia, Astronave de Combate", "Jornada das Estrelas", "A Ilha da Fantasia", "Three's Company", "The Little House" e até o rapidíssimo prefixo da NBC. Enfim, documental e artisticamente um Lp perfeito da RCA - que, agora, neste início de ano, já lançou o álbum duplo com a música da versão cinematográfica de "Hair", o qual, junto com outras trilhas de filmes ainda inéditos no Brasil "A Vida Secreta das Plantas", de Stevie Wonder (Motown / Top Tap). "The Kids Are Alright" com The Who, "More American Graffitti" e outros, reservamos para a próxima semana. Enquanto "Brindemos a Nós Dois" (A Nous Deux), no novo filme de Claude Lelouch, com Catherine Deneuve e Jacques Dutronc, ainda não foi lançado pela Condor, a WEA já colocou nas lojas, desde fins de novembro, a sua belíssima trilha sonora, como em todos os filmes de Lelouch, a cargo de Francis Lai. Com letras de Pierre Barrouh, há algumas canções magníficas, interpretadas por Jacques Villeret, Olivier Lai, Fabienne Thibeaut. Em compensação, o álbum duplo com a trilha sonora de "Apocalypse", criado por Francis-Carmino Coppola, embora pronta desde final do ano passado, teve sua comercialização retardada, enquanto o filme está em exibição desde o Natal. "A Nous Deux" é um excelente trabalho de Lai, ao nível do que fez há 12 anos, em "Um Homem, Uma Mulher" - e este elepe tivesse chegado aos nossos ouvidos há três semanas passadas, o incluiríamos, sem dúvida, entre os melhores do ano. Não entrou na lista apenas por isso, mas aqui fica a recomendação. Depois de ficar bilionário com "Os Embalos de Sábado à Noite" (a trilha sonora, álbum duplo, capitaneada por Bee Gees vendeu mais de 40 milhões de cópias em todo o mundo) e "Grease", ambos estrelados por John Travolta, o produtor Robert Stgwod continua no musical jovem: "Sargento Pepper e sua Banda", com canções de Lennon / McCartney, e reunindo um elenco de constelações do mundo pop, a começar por Peter Frampton, está em cartaz nos cinemas do Brasil e sua trilha também saiu pela Polygram, que continua a representar a RSQ Records, enquanto Stigwood não instala sua própria empresa no Brasil. Um pouco mais sério do que "Saturday..." e "Grease", "Vivendo Cada Momento", traz Travolta amando Lily Tomlim, sob direção de Jane Wagner, uma nova cineasta. Desta vez Stigwood, embora produtor do filme, não apelou à discoteque: ao contrário, a trilha chega a ser jazzística, com a participação de guitarristas como Lee Ritenour, tecladista Dave Grussin e Terry Harrington, além do excelente Charles Lloyd ser responsável por um dos melhores momentos - "You Know I Love You", que só por si já recomenda esta trilha não apenas aos colecionadores de "música de cinema", mas também a quem aprecia a boa música instrumental, com solos jazzísticos. Se as trilhas sonoras dos filmes estrangeiros, mesmo que esparsamente, aparecem, infelizmente contam-se nos dedos os filmes nacionais que tiveram suas bandas sonoras editadas em Lp. Compositores como Francis Hime e Edu Lobo estudaram em Los Angeles, com Lalo Schfrin e Quincy Jones, a técnica de fazer música para cinema e aqui têm criado excelentes trilhas que, infelizmente permanecem inéditas em elepês. E como as músicas instrumentais, normalmente, feitas para os filmes que tiveram sua contribuição, acabam não interessando à produção de seus elepês, acabam se perdendo. Por isso, é importante quando surge Lp com a música de um filme nacional. No caso, do crescente ramo do cinema-rural a produção dos Lps torna-se mais atraente: como são estrelados, muitas vezes, por ídolos do público que consome música rural (Sérgio Reis, Tonico & Tinoco, Milionário e Zé Rico, etc.), é natural que deixe de sair os discos com as músicas. No caso de "Cabocla Tereza", produção da Suimar, direção de Sebastião Pereira, com Zelia Martins, Washington Bezerra e o próprio diretor, Sebastião Pereira, trata-se de um caso especial (o Lp acaba de ser lançado pela Chantecler). O roteiro de Moacir Vallim, foi inspirado na canção "Cabocla Tereza", de Raul Torres (1906 - 1970) e João Pacífico (João Batista da Silva), 70 anos , lançada em 1935 e que já teve mais de 100 gravações. Assim, todas as músicas deste filme são de João Pacirico - cuja importância de sua obra é destacada no texto de contracapa por Paulo Vanzolini. Com exceção de "Cabocla Tereza", parceria com Torres, nas gravações de Torres & Florencio e com Adauto Santos, as outras faixas, tem diferentes interpretações, numa cuidadosa produção. com a orquestra Chantecler, sob regência de Aluizio Pontes, são os temas "Paisagem", "Triste Bilhete", "Entardecer na Serra". Adauto Santos, cantor dos mais respeitados na noite paulista, grande amigo de Vanzolini, interpreta "Vontade de Voltar", "Eh! Companheiros" e "Homenagem na Montanha", acompanhado pelo conjunto Os Macambiras e com orquestra, "Eh Companheiros". Apenas instrumental é a "Sonata de Flautas" com Miltinho Rodrigues e conjunto a toada "Herança". Nos parece que poucas produções nacionais, inspiradas em músicas consagradas pelo povo, tiveram uma trilha sonora tão bem cuidada como esta realização de Braz Baccarin / Aluísio Pontes, gravada em setembro/79 - e que fortalece o filme de Sebastião Pereira, ainda inédito em nossos cinemas. Se os filmes nacionais não motivam as gravadoras a editarem suas trilhas sonoras, as telenovelas continuam a se manterem entre os maiores veículos de vendas de discos. Que o diga a [Globo], que tem nas montagens de fonogramas para as trilhas de suas telenovelas, 80% do faturamento da Sigla. Mas as outras cadeias nacionais de TV também querem, com justa razão, sua faixa no mercado. A GTL, da Rede Tupi, está brigando e agora a Bandeirantes Discos, começa a fazer os Lps das [primeiras] produções da Rede Bandeirantes. Da telenovela "O Todo Poderoso", texto de José Saffiotti / Clovis Levi (que durante 3 anos residiu em Curitiba, como professor do curso de teatro do Guaíra), supervisão de Maurício Capovilla, temos, a trilha sonora montada por Nestor de Almeida. Os 12 primeiros temas escolhidos para emoldurar sonoramente "O Todo Poderoso" são "A Rosa" (Chico / Sergio Endrigo), "A Peleja do Diabo com o Dono do Céu" (Zé Ramalho), "Beleza Pura" (A Cor do Som), "Gazela" (Wando), "Estranho Poder" (Cristina Santos), "A Força Azul! (Zizi Possi), "Ardente" (Ney Matogrosso) "Brasileiro no Meu Calor" (Sidney Magal), "Direitos". "Momento Breve" (Alvinho) e "Sombras" (Passoca). Só a música-título, de Maurício Duboc, foi criada especialmente para a telenovela.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
31
27/01/1980

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