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Aramis

Da nostalgia à atualidade com imagens da juventude

Da nostalgia e sensibilidade de uma pequena obra-prima como "Conte Comigo" (em reprise no Cine Luz, 5 sessões), a contemporaneidade de "Alguém muito Especial" (Lido I, 5 sessões, até quinta-feira em exibição), são muitos os filmes que se encaixariam numa filmografia sobre este novo olhar do cinema americano em relação aos jovens - seus conflitos, seus amores, seus sonhos. Mesmo para quem acompanha o cinema em termos de informação profissional torna-se difícil mapear os títulos e, especialmente, intérpretes que tem sido lançados a partir do final dos anos 70. Pela própria juventude que se exige dos elencos a renovação cinematográfica tem sido total - e se alguns rostos já se tornam populares, provando que deram certo, outros são esquecidos (ou confundidos), na multiplicação de produções cinematográficas. Francis Ford Coppola, por exemplo, ao adaptar no mesmo ano (1983), nada menos que dois romances sobre jovens da escritora S. E. Hutton - "The Outsiders" ("Vidas sem Rumo") e "Rumble Fish" ("O Selvagem da Motocicleta"), catapultou carreiras de atores como Matt Dillon, Mickey Rourke, Emílio Estevez, Diane Lane, Vincent Spano, Nicholas Cage, Christopher Penn, entre outros que hoje, menos de cinco anos após, já estão ganhando milhões de dólares. Com a liberalidade deste final de século, os cineastas podem tocar em assuntos que, há 20 anos, jamais seriam permitidos pelos censores não oficiais (mas poderosos) do código Hayes - e justamente por esta franqueza e coragem a maioria dos filmes jovens desta nova safra, ganham aspectos interessantes - mesmo quando o resultado final não chega a perfeição. Dois filmes em exibição simultânea nesta semana permitem a observação do universo jovem. De um lado, a sensibilidade e perfeição com que o também jovem Rob Reiner (filho de Carl Reiner, bem sucedido realizador de comédias como "Cliente Morto não Paga"), conseguiu ao trabalhar sobre um pequeno conto, autobiográfico, de Stephen King, "Conta Comigo" (Stand by Me), é a ternura na memória da infância, sobre uma simples aventura de fim de semana de um grupo de adolescentes nos anos 50 numa pequena cidade do Interior americano. Já "Alguém muito Especial" (Some Kind of Wonderful), foca também um grupo de adolescentes, mas numa trama mais urbana, de conflitos sociais e amorosos - faltando a empatia que faz "Stand by Me" ser "uma das mais agradáveis surpresas do verão", como escreveu o crítico Leonard Maltin, que acentuou no "Entertainment Tonight" - referencial guia de filmes editado nos EUA: "De quando em vez a gente vai ver um filme sem saber nada a seu respeito e quando termina você quer ter certeza que todo mundo tome conhecimento dele". Outra crítica americana que se entusiasmou com este filme simples - e que, lançado no ano passado, ficou desapercebido na programação pastosa do Cinema I, Sheila Benson, do "Los Angeles Times", escreveu: "Um clássico, "Stand by Me" é o maior presente deste verão. Compassivo, com uma interpretação perfeita, terna e forte... Um desses tesouros que não se pode perder de forma alguma". xxx Filmes como "Conte Comigo" estimulariam, facilmente, um registro repleto de citações, aproximando-se outros filmes nos quais a câmara funcionou como máquina do tempo e faz o espectador que já passou dos 40 anos viajar naquele país lindo e que tanto hoje curte - a juventude. Justamente, por este aspecto de nostalgia, mas sem exageros, contado numa linguagem vigorosa, que o diretor Rob Reiner já havia revelado em seu primeiro longa, também sobre jovens ("A Coisa Certa / The Sure Thing"), e que repete em "The Pirate Briden" (premiado no "Festival dos Festivais", em Toronto, setembro, 87), com breve lançamento no Brasil, é que provoca o entusiasmo por este filme-jóia, em sua simplicidade. Para o público tradicional, acostumado a procurar um filme "pelos nomes dos artistas", estas novas produções não tem tal atrativo. Os elencos são de jovens intérpretes - e que só passam a ser mais populares a partir do terceiro ou quarto filme. Em "Conte Comigo", por exemplo, o único nome famoso é o de Richard Dreyffus, como o escritor-narrador da história - pois os adolescentes da história são garotos como Will Wheaton, Corey Feldman, Jerry O'Connell. Em "Alguém muito Especial", os espectadores mais atentos talvez reconheçam na bela e insinuante loira Mary Stuart Masterson uma "new face" que, anteriormente, já pintou em algumas produções - mas só agora passa a ser mais notada. Ao seu lado, Craig Sheffer, igualmente desconhecido - enquanto que o produtor John Hughes já vem de outras produções bem sucedidas e o diretor Howard Eutsch está entre os realizadores que começam a se afirmar. Frente as novas realidades do mercado - entre os quais o vídeo e o videodisco, capazes de trazer a casa toda a produção cinematográfica que antes era privilégio de cinematecas - ao mesmo tempo que as programações de filmes na televisão melhoram a cada semana - é natural que se busque cativar e formar platéias novas. LEGENDA FOTO - "Alguém muito Especial": o cinema jovem e com muita empatia com novas platéias.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/01/1988

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